Impacto climático | El Niño 2024-2025: clima extremo e seu impacto na produção láctea global
Os impactos de El Niño já são visíveis em países-chave da cadeia leiteira, com consequências diretas na produção, nos custos, nas decisões de investimento e nos mercados internacionais.
O fenômeno El Niño, declarado oficialmente pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em julho de 2023, está mostrando seus efeitos plenos durante o primeiro semestre de 2025, alterando o equilíbrio entre oferta e demanda no setor lácteo global.
Os impactos já são visíveis em países-chave da cadeia leiteira, com consequências diretas na produção, nos custos, nas decisões de investimento e nos mercados internacionais.
O atual evento de El Niño é um dos mais fortes desde 2015-2016, com um aumento médio de +1,5 °C na temperatura da superfície do Pacífico central. Esse aquecimento gerou um padrão de clima extremo: chuvas intensas na América do Sul, calor e secas na Oceania e irregularidades severas na monção asiática.
Segundo o International Research Institute for Climate and Society (IRI, Universidade Columbia), há 70% de probabilidade de que o El Niño persista até junho de 2025, com uma transição gradual para condições neutras no terceiro trimestre. As consequências, no entanto, podem durar muito mais tempo.
Nova Zelândia: produção em queda e pressão sobre as margens
O Ministry for Primary Industries (MPI) da Nova Zelândia projetou em março uma queda de 2,7% na produção total de leite para o ano fiscal de 2024/25, atribuída às condições climáticas adversas e à menor qualidade das pastagens.
Argentina e Brasil: entre o barro e a incerteza
Na Argentina, as chuvas excessivas nas bacias leiteiras de Santa Fe e Córdoba dificultaram a coleta de leite e deterioraram a infraestrutura rural. Em março de 2025, o volume mensal de leite cru caiu 4,8% em relação ao ano anterior, segundo dados do OCLA.
A situação levou o governo a ativar linhas de crédito subsidiado com taxa zero de AR$ 10 bilhões para cooperativas e produtores afetados, juntamente com a suspensão temporária das retenções sobre exportações de produtos com maior valor agregado.
No Brasil, o padrão foi misto: chuvas intensas no sul (especialmente no Rio Grande do Sul) e seca no nordeste. O Conselho Nacional da Pecuária de Leite (CNPL) relatou uma queda de 3% na produção no primeiro trimestre, com aumentos significativos nos custos de energia e refrigeração devido às temperaturas extremas.
Índia: estresse térmico e desafios de abastecimento
A Índia, maior produtora de leite do mundo, enfrenta um desafio estrutural agravado pelo El Niño. As altas temperaturas e a menor disponibilidade de água em regiões-chave como Uttar Pradesh, Maharashtra e Andhra
Pradesh estão provocando uma queda na produtividade por animal. O National Dairy Development Board (NDDB) indicou que a produção per capita caiu 5% em relação a 2024, e aumentou o risco sanitário devido a doenças relacionadas ao calor.
Além disso, o governo indiano anunciou um plano de investimento de INR 15.000 crore (cerca de USD 1,8 bilhão) para refrigeração rural, campanhas de vacinação e distribuição de água, com o objetivo de proteger o fornecimento interno e conter a alta de preços.
Mercados internacionais: realocação de fluxos e volatilidade
O El Niño está gerando uma reconfiguração dos fluxos comerciais globais. A China, tradicionalmente dependente da Oceania, aumentou a compra de leite em pó da União Europeia e dos EUA, buscando diversificação diante da queda neozelandesa.
Enquanto isso, os preços internacionais apresentam oscilações: segundo o último leilão do Global Dairy Trade (GDT), o preço médio do leite em pó integral foi de USD 3.290/tonelada, 6,3% acima da média de dezembro de 2024.
Os traders antecipam um segundo semestre volátil, com coberturas ativas nos mercados futuros da NZX e CME. Fundos hedge e indústrias processadoras estão aumentando posições especulativas diante da possibilidade de uma recuperação sustentada dos preços caso a oferta continue a se deteriorar.
Decisões políticas e estratégicas
Diante desse cenário, governos e empresas estão ajustando suas estratégias. Na Nova Zelândia, o MPI lançou um plano de resiliência climática para o setor agropecuário com foco em tecnologias de eficiência hídrica, genética animal adaptada ao calor e seguros climáticos mais flexíveis.
Na União Europeia, avalia-se a liberalização temporária de cotas de produção orgânica, diante do risco de desabastecimento em segmentos premium. Nos EUA, o USDA ativou linhas de apoio direto de USD 500 milhões para pecuaristas em regiões afetadas pela seca.
Conclusão: previsão, agilidade e cooperação
O El Niño 2024-2025 não apenas expõe a fragilidade climática do setor lácteo global, como também marca uma nova era de incerteza estrutural para toda a cadeia de valor.
As decisões de investimento, os acordos comerciais e as estratégias de cobertura devem estar mais do que nunca respaldadas por análises climáticas, dados de mercado em tempo real e uma visão integrada entre governos, produtores e indústrias.
Nesse cenário em constante mudança, os países produtores e exportadores enfrentam o desafio comum de inovar, diversificar e se adaptar, desenvolvendo sistemas produtivos mais resilientes, eficientes e sustentáveis.
A cooperação internacional, a transferência de tecnologia e o acesso a financiamento inteligente serão fundamentais para sustentar a segurança alimentar e a competitividade do setor nos próximos anos. (EdairyNews)
Arcor Argentina avança para comprar 100% da La Serenísima
A Arco deu o passo que vinha amadurecendo há anos e anunciou na semana passada que assumirá o controle total da Mastellone Hermanos S.A. (MHSA), empresa que produz a emblemática marca La Serenísima.
A Arcor, um dos principais nomes da agroindústria da Argentina e no Brasil desde 1981, deu o passo que vinha amadurecendo há anos e anunciou na semana passada que assumirá o controle total da Mastellone Hermanos S.A. (MHSA), empresa que produz a emblemática marca La Serenísima em centenas de produtos, como leite, iogurtes, manteigas, queijos e outros derivados do leite.
Trata-se de um movimento previsto há bastante tempo, que agora foi formalizado em um fato relevante comunicado à Comissão Nacional de Valores (CNV) e aos mercados, assinado pelo vice-presidente Mario Enrique Pagani, que atualmente vive no Brasil.
Segundo detalha o comunicado da empresa à CNV, o Conselho de Administração da Arcor decidiu “submeter a notificação de exercício da Opção de Compra, em conjunto com os demais Compradores, pela totalidade das ações da MHSA sujeitas à Opção de Compra (equivalentes a aproximadamente 51% do capital social da MHSA), nos termos acordados no contrato de Opção de Compra”.
Isso significa que o conselho da Arcor informou que fará uso da opção de compra da empresa de laticínios, conforme um processo iniciado em 2015. Segundo comunicado da Arcor, “o Conselho de Administração da Arcor aprovou que Arcor SAIC, Bagley Latinoamérica e sua subsidiária Bagley Argentina SA procedam com o exercício do direito de opção de compra para a aquisição de aproximadamente 51% do capital social da MHSA, com base no direito estabelecido no contrato assinado com os acionistas da MHSA em 3 de dezembro de 2015.”
A resposta da Mastellone à Arcor
Após receber a notificação de compra, os representantes da família Mastellone informaram à sociedade “que contestarão o preço por ação indicado na notificação, por considerarem que não está de acordo com as diretrizes estabelecidas no contrato”. Caso não haja acordo, a operação não será realizada.
Esse passo gigante que a Arcor pretende dar é apenas o primeiro. Agora começará a avaliação da empresa, as negociações e os ajustes finais dos números do acordo de compra. Ainda resta saber qual será o papel da Danone, empresa de laticínios parceira da Arcor.
Segundo apurou a Forbes Argentina, por ora a gestão da Mastellone Hermanos S.A. não sofrerá mudanças e a estrutura não será alterada até que a compra seja formalizada. O processo não será simples. A La Serenísima (MHSA) comunicará já amanhã à CNV que impugnará o preço por ação indicado, por considerá-lo em desacordo com as diretrizes contratuais.
A operação anunciada encerra um processo iniciado em 2015, quando a Arcor, junto com sua controlada Bagley, adquiriu 25% das ações da Mastellone por cerca de US$ 60 milhões (R$ 340 milhões). Nos anos seguintes, foi ampliando sua participação: em 2017 chegou a 40%, em 2019 a 43% e, em 2020, já detinha cerca de 49%.
Vale acrescentar que o acordo original previa que até 2025 a Arcor poderia exercer uma opção de compra para ficar com a totalidade da empresa, algo que agora se concretiza.
Fundada em 1929 e conhecida por sua histórica marca La Serenísima, a Mastellone continuará operando como uma empresa de referência no setor de laticínios, embora agora sob o comando total do gigante alimentício de Arroyito.
As informações são da Forbes, adaptada pela equipe MilkPoint.