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09/03/2022

Newsletter Sindilat_RS

Porto Alegre, 09 de março de 2022                                                   Ano 16 - N° 3.612


Eficiência produtiva é chave para avanço do setor lácteo

Formas de tornar a produção leiteira mais eficiente e lucrativa foram debatidas durante o 17º Fórum Estadual do Leite, realizado na manhã de quarta-feira (9/3) durante a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS). Organizado pela Cotrijal e pela Cooperativa Central Gaúcha de Leite (CCGL), o evento contou com apoio do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat). Apesar da crise de competitividade e altos custos vivenciados por produtores e indústrias, o médico veterinário Matheus Balduíno Moreira, lembrou que as fazendas eficientes têm em comum uma boa gestão. “Precisamos ser eficientes com aquilo que compramos e usamos. Qual o ideal de produção para o setor? 30 mil litros de leite por hectare ao ano. A eficiência está na quantidade de leite que você produz no pedaço de terra que tem”, salientou o veterinário, afirmando que o bom gestor é aquele que estrutura os processos, indicadores e pessoas para que o negócio atinja todo seu potencial de produção. 

Moreira lembrou que a fazenda ideal é eficiente na operação, com investimentos realizados e endividamento equilibrado, que seja um negócio lucrativo e com o caixa estável. “Caixa é diferente de lucro. O caixa é soberano. Tem muita gente quebrando com a fazenda dando lucro. Se não está dando certo, converse, chame o departamento técnico, eles estão ali para orientar. Planeje muito e gerencie os indicadores. A ciência está aí para nos mostrar como melhorar, o que falta é trabalharmos com esses dados disponíveis para gerenciar os processos”, pontuou.
Para o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo do Carmo Martins, apesar das dificuldades vividas pelo setor, a produção leiteira continua sendo um bom negócio, pois o leite é, acima de tudo, um insumo para a indústria. Ele apresentou levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que comparou o consumo das famílias brasileiras entre 1996 e 2019. “Esses dados mostram que o consumo de leite aumentou 37 litros por pessoa, se destacando em relação às demais proteínas animais, e tem condições de crescer muito mais. O leite é um bom negócio porque tem perspectiva de crescimento de consumo no mercado interno e também na demanda internacional”, apontou.  

Fazendo um panorama sobre o que deve acontecer nos próximos anos em relação à atividade leiteira, ele destacou algumas tendências, como haver menos produtores gerando mais leite e mudanças no perfil dos produtores: “Segundo dados do Censo do IBGE de 2017, 71% dos produtores produziam 6% do total de leite. É muita gente produzindo pouco. Já os cem maiores produtores brasileiros dobraram a produção entre 2009 e 2020, acrescentando 1,1 milhão de litros de leite por dia. Então a tendência é que tenhamos mais vacas e maior volume de produção por propriedade”.

Outra tendência, de acordo com o professor, é a especialização regional da produção, pois algumas regiões estão se definindo como mais interessantes para todo o processo de organização da cadeia por conta do adensamento, com destaque para o Sul do país. 

Já o engenheiro agrônomo e diretor-executivo da Viva Lácteos, Gustavo Beduschi, relacionou a estagnação da produção leiteira no país a partir de 2014 com a crise econômica. “A produção doméstica é responsável por cerca de 95% da disponibilidade interna. O que nós consumimos é produzido aqui. Para eu ter condição de ter mais rentabilidade é necessário o consumo, que é diretamente afetado pela renda da população. O custo de produção não é um balizador por preço, o balizador é o consumidor estar disposto ou não a pagar, o que tem a ver com renda e preço de produto na gôndola”, avaliou.

O secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, esteve em Não-Me-Toque acompanhando o evento. “Precisamos aproveitar ao máximo encontros como esse para entender onde estamos sendo eficientes e onde a nossa produção tem a eficiência está abaixo da média mundial, bem como o momento que estamos. Mais uma vez, o Fórum trouxe assuntos primordiais, que se complementam entre si, para auxiliar os produtores a enxergar melhor os seus negócios e aumentar a rentabilidade de suas propriedades”, afirmou.

A Expodireto Cotrijal segue até sexta-feira em Não-Me-Toque (RS).

O 17º Fórum Estadual do Leite pode ser assistido na íntegra clicando aqui. (Assessoria de imprensa do Sindilat/RS)
 

Balança comercial de lácteos: exportações em ascensão!

Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (07/03) pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), o saldo da balança comercial de lácteos foi de -20 milhões de litros em equivalente-leite no mês de fevereiro, um aumento de 31 milhões, ou aproximadamente 60% em comparação ao mês anterior.

Ao se comparar ao mesmo período do ano passado (fev/2021), o saldo foi ainda menos negativo, sendo que o valor em equivalente-leite nesse período foi de -102 milhões de litros, representando um aumento de aproximadamente 80%. Esse resultado é o menos negativo desde 2014 para o mês, quando teve um saldo de -6 milhões de litros, e representa o quarto mês consecutivo de aumento. Confira a evolução no saldo da balança comercial láctea no gráfico 1.



No mês de fevereiro as exportações tiveram um aumento de aproximadamente 48% em relação ao mês de janeiro, com um acréscimo de 7,0 milhões de litros no volume exportado. Ao se comparar com 2021, as exportações também foram maiores este ano, com um aumento de 14,8 milhões de litros, representando um acréscimo de aproximadamente 214% no volume exportado, ou seja, no mês de fevereiro deste ano foi exportado um pouco mais que o triplo do volume comparando-se com o mesmo período do ano de 2021.



Do lado das importações, o mês de fevereiro apresentou diminuição de 23,4 milhões de litros no volume negociado, um valor aproximadamente 36% inferior ao mês de janeiro. Analisando o mesmo período do ano passado, nota-se uma diminuição expressiva entre os volumes importados; em fevereiro de 2021, 108,8 milhões de litros em equivalente-leite foram importados, já em 2022 esse valor teve um recuo de aproximadamente 61%, totalizando 42,1 milhões de litros, o que pode ser observado no gráfico a seguir:



Essa diminuição nos volumes importados e aumento nas exportações acarretou um saldo mais favorável para o mês de fevereiro na balança comercial de lácteos. O resultado é o menos negativo desde o ano de 2014 para o período. Quando comparado com o ano de 2021 a diminuição drástica nos volumes importados e o aumento expressivo nas exportações geraram a disparidade dos valores dos saldos.

Este cenário é consequência dos altos preços internacionais dos lácteos e da elevada taxa de câmbio (R$/Dólar), observada ao longo dos últimos meses, conforme relatado no artigo publicado pelo MilkPoint “GDT: preços internacionais de lácteos atingem o maior valor médio da história." Os preços médios atingiram o maior valor da história do evento, que teve seu início em meados de 2008, além de ser apenas a quarta vez que os valores médios ultrapassam os U$ 5.000 /tonelada.

Dessa forma, o mercado brasileiro se viu em um cenário com baixa competitividade das importações, conforme demonstra o gráfico 4. Associada a uma demanda interna fragilizada,  essa dinâmica levou à diminuição do volume importado pelo Brasil.



Com relação ao câmbio, mesmo com uma desvalorização do dólar frente ao real nas últimas semanas de fevereiro, a elevação dos preços internacionais praticamente anulou este efeito e manteve a competitividade dos importados baixa, conforme demonstrado no gráfico 4.

Em relação aos produtos mais importantes da pauta importadora em fevereiro, temos o soro de leite, leite em pó integral, os queijos, e o leite em pó desnatado que juntos representaram 92% do volume total importado.

O leite em pó integral teve uma diminuição de 76% em seu volume importado. Os produtos que tiveram maior variação com relação à importação foram o leite em pó desnatado, com um recuo de 78%, os iogurtes com um recuo de 89% e o soro de leite, com um aumento de 82%.

Os produtos que tiveram maior participação no volume total exportado foram o leite em pó integral, o leite condensado, o leite UHT, o creme de leite e os queijos, que juntos, representaram 89% da pauta exportadora. Produtos que apresentaram forte variação com relação ao mês de janeiro foram o leite em pó integral, o soro de leite e a manteiga que tiveram aumento de 33.410%, 638% e 1.868%, respectivamente.

A tabela 1 mostra as principais movimentações do comércio internacional de lácteos no mês de fevereiro deste ano.



O que podemos esperar para o próximo mês?

O saldo da balança comercial de lácteos de fevereiro foi realmente impactado pela dinâmica do câmbio e preços internacionais e observou-se no período as exportações se sustentando e um baixo volume importado, conforme abordado nos últimos artigos da balança comercial. Na primeira metade do mês, o saldo da balança chegou a ficar positivo segundo os dados parciais fornecidos pela Secretaria do Comércio Exterior.

O cenário observado nos últimos meses deve se sustentar, pelo menos em curto prazo, devido a dois principais fatores: A dinâmica da oferta e demanda global, e a geopolítica internacional. A oferta mundial está enfrentando entraves, com diversos países apresentando problemas climáticos e de logística, levando a uma baixa disponibilidade de leite mundial. Este cenário não deve sofrer grandes alterações no curto prazo, favorecendo um cenário altista para o mercado lácteo internacional.

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia deve contribuir ainda mais para este cenário. Como abordado no artigo "Rússia x Ucrânia: implicações para os lácteos da União Europeia”, A Kite Consulting, empresa de consultoria do Reino Unido, publicou um estudo sobre a conflito, abordando o efeito da guerra no setor lácteo.

O relatório observa que a Ucrânia e a Belarus são exportadores líquidos de lácteos, enquanto a Rússia é um importador líquido. Segundo o relatório, as exportações de lácteos da Ucrânia e da Belarus para o mercado mundial excedem as importações russas, e a perda líquida do comércio de commodities lácteas da Ucrânia, Belarus e Rússia significaria uma perda de cerca de 1,2 bilhão de kg/ano em equivalente leite no fornecimento de laticínios para o mercado mundial. Este fato, associado a menor produção mundial e uma demanda sem mudanças expressivas por parte dos outros países, gera uma forte tendência de alta nos preços do mercado lácteo internacional.

Outro ponto de atenção neste sentido são os preços do petróleo. Os valores do petróleo brent dispararam e atingiram marcas superiores a U$ 130 após o anúncio dos Estados Unidos de proibição de importação de petróleo russo, em meio as sanções econômicas aplicadas devido à guerra.

A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, com exportações de cerca de 7 milhões de barris por dia de petróleo bruto e derivados combinado, ou cerca de 7% do fornecimento global. A preocupação com o abastecimento global do produto pode levar a mais altas ao longo das próximas semanas, e se todas as exportações de petróleo da Rússia fossem bloqueadas nos mercados globais, analistas disseram que os preços poderiam subir para US$ 200 o barril. O preço do petróleo contribui direta e indiretamente para os preços dos derivados lácteos internacionais, devido ao aumento nos custos de produção.

Além disso, vale ressaltar que países petrolíferos são importantes importadores de lácteos — como é o caso da Argélia. Dessa forma, o aumento do preço do petróleo pode impulsionar a demanda de lácteos, que frente a um cenário de baixa oferta global, pode elevar ainda mais os preços dos principais derivados lácteos ao redor do mundo. (Milkpoint)





Relação produtor-indústria: quais os caminhos para produtores e indústrias avançarem juntos?

Em nosso setor, um dos grandes desafios com certeza está na relação entre os produtores do leite, e os transformadores deste produto, as indústrias de laticínios. Existe, inclusive, forte crença limitante de que, para um ganhar, o outro precisa perder. 

Entretanto, 2021 colocou esta crença em prova. O ano, definitivamente, foi ruim para ambos os elos. Desta forma, as duas partes precisam que os próximos meses sejam de navegação em novos mares, mais calmos e prósperos. Neste momento, vem a questão: a interação entre as partes pode mesmo ser boa para todos? A resposta é clara: sim! Mas, como fazer isso? Qual o caminho correto para que produtores de leite e laticínios avancem juntos? O ideal é que existam muitos produtores de menor volume, ou poucos produtores de maior volume? A busca deve ser por fidelização no fornecimento? Contratos são os melhores meios para ampliar a previsibilidade? Incentivamos o suficiente por qualidade? Quais benefícios devem ser ofertados aos produtores? 

E quais os deveres as indústrias devem exigir em troca? Estas são algumas das questões que, sem dúvida, já passaram pela cabeça de todos os envolvidos no setor lácteo em algum momento. Para fomentar estas e muitas outras discussões, convidamos grandes nomes do mercado brasileiro de lácteos para debater conosco: “Qual o futuro da relação indústria-produtor no leite brasileiro?” na 12ª edição do Fórum MilkPoint Mercado. 

No dia 05 teremos uma mesa redonda com as presenças de Renê Machado, da Nestlé; Cícero Hegg, da Tirolez; José Antônio Bernardes, da Embaré e Lutz Viana, do Laticínio DaVaca, para abordamos o futuro da relação indústria-produtor sob a visão de players da indústria.  

No dia seguinte, 06 de abril, nosso foco estará nas perspectivas do produtor de leite: Roberto Jank Jr., da Agrindus; Geraldo Borges, presidente da Abraleite (Associação Brasileira de Produtores de Leite); e Cássio Vinícius Vieira (produtor de leite em Monte Alegre de Minas), falarão sobre o que imaginam para os próximos anos na relação produtor-indústria. 

DESCONTO NA INSCRIÇÃO: Os associados do Sindilat que quiserem participar do evento terão desconto de 30% na inscrição. Adquira o seu clicando aqui. (Milkpoint)

Jogo Rápido 

USDA fornece subsídios para inovação em laticínios
O USDA anunciou no início desta semana que está disponibilizando US$ 80 milhões para as Dairy Business Innovation Initiatives (DBI). US$ 18,4 milhões foram concedidos pela DBI em novembro de 2021 para três iniciativas atuais na Universidade do Tennessee, Agência de Alimentos e Marketing de Vermont e Universidade de Wisconsin, e um novo plano de US$ 1,8 milhão na Universidade Estadual da Califórnia – Fresno. “A pandemia demonstrou que os produtores de leite e processadores de laticínios regionais, particularmente aqueles envolvidos na produção de valor agregado, enfrentaram choques sistêmicos nos últimos anos”, disse o secretário de Agricultura, Tom Vilsack. “Ouvimos diretamente de produtores e processadores – principalmente produtores e processadores orgânicos no Nordeste – sobre como podemos trabalhar com a indústria para construir resiliência de longo prazo das cadeias regionais de fornecimento de lácteos.” Cada iniciativa atual pode agora apresentar propostas adicionais de até US$ 20 milhões no American Rescue Funds para apoiar ainda mais a expansão da capacidade de processamento, melhorias nas fazendas e assistência técnica aos produtores. “As iniciativas de inovação de negócios de laticínios apoiaram esforços com foco regional adaptados às necessidades dos produtores de leite e empresas locais. Esse financiamento adicional expandirá exponencialmente a capacidade das quatro iniciativas de fornecer assistência técnica e subconcessão”, acrescenta Vilsack. (As informações são do Dairy Herd Management, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint)

 

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