Porto Alegre, 09 de setembro de 2025 Ano 19 - N° 4.476
Leite do RS mira futuro sustentável e inovador
Setor do leite gaúcho debate sustentabilidade e inovação na Expointer 2025, com foco em novas políticas e potencial da cadeia.
A produção de leite no Rio Grande do Sul esteve no centro do debate sobre sustentabilidade e inovação durante a 48ª Expointer, realizada no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
O painel “Caminhos para o leite – sustentabilidade e inovação”, promovido pelo Centro de Inteligência do Agro da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (SICT), reuniu representantes da indústria, entidades e produtores rurais no último sábado (6).
A mediação foi conduzida por Denize da Rosa, CEO da Suport D Leite, que ressaltou a importância do tema diante da implementação de novas políticas públicas estaduais voltadas para a cadeia leiteira.
Segundo ela, o objetivo foi abrir espaço para que diferentes atores do setor – indústrias, técnicos, comunidades e produtores – apresentassem suas visões.
“Esse debate, no momento de novas políticas públicas, vem para fomentar e divulgar o quanto a produção de leite apresenta um grande potencial para o nosso Estado”, afirmou.
Sustentabilidade como requisito indispensável
Para Darlan Palharini, secretário executivo do Sindilat, a sustentabilidade é hoje um requisito essencial para a competitividade do leite gaúcho.
Ele destacou que a gestão responsável de recursos naturais, como água e energia, e a adoção de boas práticas na indústria e no campo já não são diferenciais, mas exigências do mercado. “Até pouco tempo, o soro era um grande passivo para o setor.
Hoje, o whey protein é altamente valorizado no consumo e um exemplo de aproveitamento tecnológico dentro da cadeia láctea”, lembrou Palharini.
A discussão também evidenciou que a sustentabilidade não se limita à produção ambientalmente correta, mas se conecta diretamente com a saúde do consumidor.
A produtora Jéssica Fachini enfatizou que práticas equilibradas entre economia, sociedade e meio ambiente resultam em um leite mais saudável, que contribui para benefícios como recuperação muscular, fortalecimento ósseo e melhor qualidade de vida.
“Nossa cartada é mostrar que sustentabilidade no campo é saúde na mesa”, destacou.
União do setor e valorização do leite
Outro ponto central do painel foi a necessidade de união entre entidades, produtores e indústria para fortalecer o setor.
Marcos Tang, presidente da Febrac, defendeu que o caminho para uma produção sólida começa pelo bem-estar animal e pelo compromisso com práticas sustentáveis. “A cadeia do leite é uma das que mais incorporam tecnologia, mas seguimos sendo alvo de críticas.
Está na hora de mostrarmos a qualidade e o valor do nosso produto, que é um dos alimentos mais completos depois do leite materno”, afirmou.
Tang também ressaltou que, embora os produtores já tenham avançado em aspectos técnicos e de manejo, ainda há um longo percurso em termos de marketing e comunicação. “O produtor já entendeu a importância da sustentabilidade, mas precisamos comunicar melhor essa evolução para a sociedade”, completou.
Inovação como motor de transformação
A presença de indústrias, técnicos e representantes do governo reforçou que a inovação é uma das principais aliadas do setor.
Desde tecnologias de reaproveitamento de subprodutos até ferramentas digitais de gestão e monitoramento da produção, o avanço tecnológico tem permitido aumentar a eficiência, reduzir impactos ambientais e abrir novos mercados para produtos derivados do leite.
O evento na Expointer mostrou que há um consenso crescente sobre a necessidade de alinhar as demandas de mercado – cada vez mais orientadas para produtos sustentáveis e saudáveis – com a realidade do produtor gaúcho, que enfrenta desafios como custos elevados, volatilidade de preços e necessidade de modernização constante.
Um futuro promissor, mas desafiador
A conclusão do painel reforçou que a cadeia láctea do Rio Grande do Sul possui um enorme potencial para se tornar referência em sustentabilidade e inovação no Brasil, mas que isso exige continuidade de políticas públicas, incentivo à pesquisa, capacitação de produtores e estratégias de comunicação mais assertivas para reconectar o setor com o consumidor.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Correio do Povo
Projeto piloto de rastreabilidade bovina foi lançado durante a Expointer
Cinquenta propriedades voluntárias vão participar do projeto piloto de rastreabilidade individual de bovinos no Rio Grande do Sul, coordenado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). O lançamento do projeto foi realizado nesta quinta-feira (4/9), na Casa do Fundesa, durante a Expointer.“A Seapi vem discutindo sobre rastreabilidade desde 2017, começando pelo gado leiteiro nas propriedades certificadas como livres de brucelose. Hoje temos 100 mil bovinos de leite identificados. A partir dessa experiência, entendemos que o estado já tem uma base de rastreamento que atende aos padrões do Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB)”, destacou o secretário adjunto Marcio Madalena.
A rastreabilidade individual de bovinos é um sistema que permite acompanhar todo o ciclo da vida de um animal, dados sobre sua raça, sexo, idade, vacinas, até o abate. Esses dados ficam em um sistema, vinculado a um número de registro de um brinco ou bóton. A partir de um grupo técnico formado por representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), órgãos estaduais de sanidade agropecuária e associações de produtores, foi elaborado um plano estratégico para a implementação do PNIB, com escalonamento de prazos que totalizam oito anos de adaptação até a adoção obrigatória, a partir de 2033. "O Rio Grande do Sul tem interesse em ser pioneiro na implementação da rastreabilidade", frisou o secretário.
As 50 propriedades que irão participar do projeto piloto estão sendo selecionadas pelo Serviço Veterinário Oficial. “Mais de 20 municípios terão propriedades selecionadas, com diferentes características de produção, como leite e corte, ciclo completo, recria e terminação. Será com uma distribuição geográfica que nos dá um retrato fidedigno da agropecuária gaúcha”, complementou Madalena.
O secretário contou que o projeto foi desenhado a partir de conversas com uma grande diversidade de entidades e produtores, ligados aos segmentos de corte e leite, com estrutura empresarial ou familiar. O cronograma prevê que o projeto piloto seja concluído na Fenasul/Expoleite 2026 para, a partir dele, ser elaborado o Plano Estadual de Rastreabilidade Individual. “Praticamente todos os segmentos da pecuária no Rio Grande do Sul estiveram na discussão para a elaboração do projeto. O nosso plano estadual será escrito de dentro da porteira, para depois ir ao gabinete da secretaria”, frisou.
Três propriedades gaúchas já utilizam o sistema de rastreabilidade individual bovina e estão com animais participando da feira. “A Expointer já está com animais identificados de acordo com o que prevê o PNIB. Não poderíamos apresentar o projeto piloto só na projeção, queríamos apresentar já em funcionamento”, concluiu Madalena.
Durante o evento, também foi assinado um protocolo de intenções entre a Seapi e a Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) para integração entre os sistemas de defesa agropecuária dos dois estados. (Expointer)
Países da América do Sul puxam alta global do leite em 2025
Dados referentes ao primeiro semestre de 2025, trouxeram uma perspectiva diferente sobre o crescimento da produção de leite no mundo: países do Cone Sul puxando a alta. Confira a análise detalhada!
Dados compilados pelo Observatório da Cadeia Láctea Argentina (OCLA), referentes ao primeiro semestre de 2025, trouxeram uma perspectiva diferente sobre o crescimento da produção de leite no mundo.
Na média dos países e blocos considerados, a produção cresceu 1,05%, com algumas regiões (União Europeia, China e Austrália) tendo redução de produção e, outras apresentando forte aumento.
O que chama a atenção é que os 4 países que mais cresceram percentualmente foram Argentina (11,7%), Chile (8,0%), Brasil (6,2%) e Uruguai (5,7%). Todos do Cone Sul!
Tabela 1. Países/Blocos com suas variações interanuais acumuladas. Período de janeiro a junho de 2025.
Ainda que seja importante ressalvar que a Argentina venha de uma base muito fraca, em função da forte queda de 12,5% frente ao primeiro semestre de 2023, e que o Uruguai também vinha de queda, embora menor (4,0% frente ao primeiro semestre de 2023), a liderança no crescimento mundial nos países do Cone Sul não deixa de ser relevante, representando uma reversão de uma tendência de mais de uma década.
Após atingir 10,3% da produção mundial de leite bovino em 2011, a América do Sul foi perdendo gradativamente participação, alcançando 8,67% em 2023, segundo a FAO.
Gráfico 1. Dados da participação sobre o total produzido.
Fonte: FAO STATS
Embora cada país tenha a sua história, como por exemplo o processo de aumento de escala e profissionalização que começa a dar um contorno diferente para o leite brasileiro, influenciando a oferta, é interessante pensarmos sobre o porquê o esquecido Cone Sul ter liderado o crescimento global.
Minha visão é que esse crescimento inusitado reside em uma combinação de fatores:
Clima: parte da região tem sofrido hora com duras secas, hora com fortes chuvas. O primeiro semestre de 2025 foi tranquilo nesse sentido.
Ambiente institucional: principalmente na Argentina, o ambiente político-econômico parece mais calmo, o que favoreceu a retomada dos investimentos que haviam sido adiados em 2024
Relação de troca: o primeiro semestre foi bom para o produtor de leite praticamente no mundo todo. Aí entra o quarto fator que explica o maior crescimento no nosso continente:
Condições propícias para o crescimento: menor regulamentação ambiental, se comparado a Europa e Nova Zelândia; sem restrição hídrica crônica, se comparado a Austrália e parte dos EUA; disponibilidade farta de insumos (milho, soja, etc)
A reflexão que se pode fazer é que o Cone Sul foi um carro que andou por mais de 10 anos com o freio de mão puxado. Ora era o clima, ora era a economia, ora era a política que fazia o papel de freio (às vezes, alguns desses fatores juntos). De repente, nesse primeiro semestre de 2025, os astros se alinharam positivamente para o leite na região.
As projeções feitas por agências e bancos especializados não apontam que a região vai mudar seu papel como fornecedora de leite no mundo. Porém, essas projeções muitas vezes olham com os olhos do passado, porque prever uma mudança de curso é sempre arriscado.
Esse primeiro semestre de 2025 nos dá uma pista de que as coisas podem ser diferentes no futuro, desde que tenhamos as condições adequadas. Nesse cenário, podemos crescer mais do que os outros e ser, enfim, mais protagonistas no mercado externo.
Oferta e demanda: o desafio
Percentagens são sempre uma maneira de ver os números. Além da questão do comparativo já comentado acima, em que uma base histórica muito fraca pode distorcer a análise, é sempre interessante ver também o aumento absoluto, que sofre influência do volume total produzido.
Nesse sentido, apesar do aumento de 11,7% verificado pela Argentina, o acréscimo de cerca de 500 milhões de litros no semestre é próximo ao dos Estados Unidos, que cresceu somente 1%, mas a partir de um volume muito maior.
Mais interessante ainda: o maior aumento em volume no mundo no primeiro semestre foi justamente do...Brasil (considerando os dados do IBGE), com acréscimo de mais de 760 milhões de litros.
Esse acréscimo no Brasil (aliado ao leite importado que ainda entra em bons volumes) é o que está desafiando os preços nesse momento. Não é que a demanda esteja fraca; é que a quantidade ofertada aumentou muito. Em valores per capita, a disponibilidade aparente em 2025 deve chegar a 178 kg/pessoa/ano, contra 175 kg no ano passado, segundo apontam as estimativas da MilkPoint Ventures e está ilustrado no gráfico abaixo.
Gráfico 2. Disponibilidade per capita de leite.
Aliás, vale notar que é o terceiro ano de recuperação no consumo aparente, representando uma mudança de cenário se compararmos ao período entre 2011 e 2022, quando ficamos andando de lado, oscilando em torno dos 165-172 kg. Como nós raramente olhamos sob uma perspectiva menos de momento, acabamos não vendo isso. Mas é uma mudança, uma retomada.
O desafio é evidente: mantendo-se esse crescimento na oferta, como continuar dando vazão a esse volume no mercado interno?
Há espaço para ocupar parte do leite importado no ano que vem, caso os preços externos/câmbio e sua relação com os preços internos resulte em cenário desfavorável para importar. Mas mesmo que isso ocorra, e depois?
Substituídas as importações, haverá um limite para o crescimento da oferta interna se o nosso campo de batalha for o mercado interno. É pouco realista apostar em crescimento de consumo total da ordem de 3-4% ao ano, continuamente. O caminho, então, será a exportação.
Mas, a dúvida que fica é: conseguiremos jogar esse jogo?
Jogo Rápido
Ideias em campo: o presente e o futuro do agro
Porto Alegre se transformará em um Campo das Ideias nesta quinta-feira. É quando ocorre o evento que leva esse nome, organizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS), e que se propõe a ser uma grande arena de troca de ideias sobre temas relevantes para o agro. – Fizemos uma Expointer legal, com muito público mas o volume de negócios demonstra a fragilidade da situação. A gente sabe que o agro tem um papel estratégico nessa situação – pondera o superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli. Diante dos desafios que se colocam, a ideia foi trazer analistas, pensadores, formadores de opinião, com histórico de políticas públicas no Brasil, experiências para “nos fazer repensar, refletir em outras óticas”, acrescenta o superintendente. O evento começa às 9h, no Teatro do Bourbon Country, e terá quatro painéis que vão da importância do agro ao cenário político e geopolítico. O seminário Campo das Ideias é aberto ao público e as inscrições são gratuitas. A programação completa pode ser conferida no site do Senar-RS. (Zero Hora)