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24/04/2016

 

Porto Alegre, 24 de abril de 2017.                                               Ano 11- N° 2.485

 

   Importações/China 

As importações de produtos lácteos pela China continuarão subindo nos próximos 10 anos, embora em um ritmo mais lento. Este ano, a expectativa é de que serão compradas 14,2 milhões de toneladas, aumento de 11% em relação ao último ano, de acordo com o relatório, Perspectivas Agrícolas da China (2017-26), que foi elaborado pelo Ministério da Agricultura. Impulsionadas por fatores diversos, como o crescimento da demanda e os elevados custos da produção doméstica, as importações de lácteos devem superar 19 milhões de toneladas em 2026, um aumento de 50% em relação a 2016, diz o relatório. Na década passada, as importações cresceram 14% anual, em média. A produção doméstica deve atingir 44,7 milhões de toneladas em 2026, crescendo 19% em relação a 2016, prevê o relatório. 

A demanda por leite em pó e leite fluido na China - produção doméstica e no exterior - deverá dar um salto diante da expectativa no aumento do número de nascimentos que virá em decorrência da política do segundo filho, e o crescimento da população com mais de 60 anos. A demanda por leite em pó importado pode aumentar em taxas menores porque o governo chinês está incentivando a recuperação da indústria de laticínios doméstica, diz o relatório. A previsão é de que haja aumento constante na produção de outros produtos agrícolas na China nos próximos anos, incluindo trigo, legumes, frutas, e produtos aquáticos. A importação de leite em pó ocupava um terço do mercado da China em 2007, mas, atingiu 60% em 2012, de acordo com o relatório. 

As autoridades tomaram muitas medidas para restabelecer a confiança no mercado doméstico de leite, depois do escândalo da melamina adicionada às fórmulas infantis, que causaram a morte de pelos menos seis crianças, e intoxicaram seriamente outras 300.000, em 2008. A Lei de Segurança Alimentar foi revisada em 2015, passando a exigir inspeção dos lotes de alimentos para bebês, antes de serem comercializados. No ano passado o Departamento de Fiscalização de Alimentos e Drogas da China inspecionou 2.532 lotes de fórmulas para bebês, e apenas 1,3% ficaram fora dos padrões estabelecidos, disse Bi Jingquan, chefe da Administração de Alimentos e Medicamentos da China, em fevereiro. (The Dairy Site - Tradução Livre: Terra Viva)

 
 
 
Produção de leite
A produção brasileira de leite mais que dobrou nas últimas duas décadas, ao saltar de 15,7 bilhões de litros em 1994, para 35 bilhões, em 2014, conforme dados mais recentes da Pesquisa Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho da produção nacional de leite, ainda assim, fica bem aquém em comparação à média mundial: 1,6 mil litros contra 3,5 mil litros por vaca ao ano. Nos Estados Unidos, de acordo com o Sistema de Inteligência Setorial (SIS) do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), algumas fêmeas bovinas alcançam uma média anual de 10,4 mil litros.

Conforme Renata Magalhães Schneider Simone, analista de Inteligência do SIS/Sebrae, em entrevista à equipe SNA/RJ, essa discrepância se deve a fatores relacionados ao clima e às raças mais produtivas, mas principalmente à alimentação. "A quantidade de leite produzido por vaca está diretamente relacionada com as condições as quais o animal está submetido, ou seja, fatores como a alimentação, clima ou até mesmo a tecnologia no manejo influenciam a produtividade", comenta a especialista.

Diretor da Sociedade Nacional de Agricultura e representante da SNA na Câmara Setorial do Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Alberto Figueiredo ressalta que a "maior parte do rebanho bovino nacional não tem especialização genética para produção de leite". "Também não são observados os requisitos mínimos de conforto animal e alimentação adequada, sendo essas as principais causas da baixa produtividade média". Segundo Figueiredo, que também é secretário Municipal de Agricultura de Resende (RJ), "pelo fato de essas tecnologias exigirem maior comprometimento financeiro por parte do produtor, aumentam os riscos de insucesso, se não forem observados conceitos técnicos indispensáveis, o que leva uma grande maioria de produtores a submeter seus rebanhos a condições inadequadas de alimentação, trazendo, como consequência, a redução da produção média". A analista de Inteligência do SIS/Sebrae reforça que o "Brasil é um país extenso, com regiões bastantes distintas uma das outras". "Por conta disso, alguns Estados possuem características mais ou menos propícias à produção de leite", comenta Renata.

Ela cita que no Sul do país, por exemplo, estão os maiores produtores de leite, "provavelmente pelo fato de lá existir um clima mais adequado para a atividade". "Já na região Sudeste, principalmente acima do Estado de São Paulo, o animal sofre um estresse térmico que prejudica a produção de leite." A analista comenta que também "é importante ressaltar que a média brasileira de produção de leite considera produtores rurais que não investem o suficiente na modernidade do campo e, consequentemente, possuem baixo nível técnico e controle de custos, logo, possuem baixa produtividade". Conforme Renata, "mesmo  com condições climáticas atípicas, é possível aumentar a produção de leite investindo na alimentação do animal, fornecendo uma nutrição específica, de acordo com a fase em que ele se encontra".

DIETAS
A alimentação bovina representa o maior custo da produção leiteira e, por isso, o desenvolvimento de dietas adequadas é primordial para que os pecuaristas reduzam esses custos e possam ampliar suas margens de lucros. Esse é o foco do relatório "Dieta para bovinos leiteiros: a importância da alimentação" do SIS/Sebrae, que ainda apresenta fatores que impactam na dieta, tecnologias e cases de sucesso para orientar produtores rurais. Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 1,3 milhão de pecuaristas de leite, atuando em fazendas que, por sua vez, são responsáveis pela ordenha de 23 milhões de vacas. Para a formulação de rações para as vacas leiteiras, o país utiliza o modelo do National Research Council (NRC), com foco na melhoria da eficiência alimentar, por meio da avaliação da dieta dos bovinos.

"Em 2001, o Conselho Nacional de Pesquisas (dos EUA) apresentou um estudo, com informações suficientes para gerar cálculos de exigência nutricional e de avaliação de alimentos, além de um software que permite formular rações baseadas nesses cálculos", conta Renata. Segundo a analista de Inteligência do SIS/Sebrae, por causa da simplicidade e praticidade, esse modelo é o mais utilizado no mundo para formular rações para vacas leiteiras: "Ele é referência no Brasil e, inclusive, outros softwares foram criados baseados nos cálculos do modelo NRC - 2001". "O modelo NRC é o mais utilizado no mundo, mas com o avanço da tecnologia existem diversos outros modelos no mercado, que podem ser tão bons quanto ele. O indicado é avaliar, testar e analisar quais opções atendem melhor à necessidade do negócio", diz Renata. A analista acrescenta que "alguns modelos são mais complexos e exigem mais informações do usuário, enquanto outros são mais simples e fáceis de utilizar, e isso deve ser levado em consideração na avaliação".

MODELO NRC
Diretor da SNA, Alberto Figueiredo explica que "o NRC é um compêndio de acreditação mundial, que registra as necessidades nutricionais dos animais em cada fase da vida e em cada condição de produção". "A maioria dos formuladores de ração adota esses dados para o cálculo das necessidades nutricionais dos animais. No entanto, na hora de escolher as opções de ingredientes, a serem utilizados para a dieta, são usadas informações de pesquisas nacionais, sendo que alguns produtores já utilizam a análise laboratorial dos vegetais e grãos da própria propriedade, com o objetivo de fazer com que esse cálculo fique o mais próximo possível da realidade", relata Figueiredo.

Por conta de exaustivas pesquisas, continua o diretor da SNA, "o NRC apresenta as necessidades nutricionais absolutamente confiáveis e confirmadas nas pesquisas nacionais". "A diferença dos níveis de produção de leite entre outros países e o Brasil está mais relacionada ao custo da terra, que é maior lá fora, portanto, precisa ter maior produtividade para que o negócio seja econômico, menor contingente de pessoas envolvidas com as atividades produtivas, necessitando ter maior produtividade por homem ocupado, além dos programas de subsídios ainda presentes em parte dos países que estimulam o processo produtivo", cita Figueiredo.

TECNOLOGIAS
Algumas tecnologias associadas à atividade leiteira podem contribuir para o aumento da produção, como softwares de gestão de rebanhos. "Sem sombra de dúvida, o controle sobre os resultados, tanto de índices de produtividade quanto, principalmente, de custos, é fundamental para o constante aprimoramento do processo produtivo. Nesse caso, os softwares existentes no mercado, e/ou produzidos nas próprias propriedades, com base em planilhas simples, são fundamentais, uma vez que o número de dados a ser considerado dificulta esse controle por métodos manuais", salienta o diretor da SNA.

Segundo Figueiredo, que apresenta ampla experiência como pecuarista, "o problema é que a maioria dos produtores sequer anota as informações diárias, chegando ao ponto de não saber a data prevista para o parto ou a necessidade de encerramento de lactação". "As cinco prioridades para o aumento da produção de leite são: 1. alimentação adequada; 2. alimentação adequada; 3. alimentação adequada; 4. alimentação adequada; 5. alimentação adequada. Depois que se consegue esse parâmetro, pode-se pensar em conforto animal e em genética, para melhorar as condições de produção dos animais", sentencia.

NANOTECNOLOGIA E APPS
Conforme a analista de Inteligência do SIS/Sebrae a utilização de tecnologias mais avançadas na pecuária veio para ficar. "A nanotecnologia, por exemplo, pode ser utilizada para enfrentar diversos desafios na atividade leiteira, como na identificação de doenças, por meio de nanossensores capazes de permitir mais acurácia nos diagnósticos laboratoriais; e no tratamento contra a mastite, inflamação que pode reduzir a qualidade e a produção de leite, por meio de nanocápsulas que direcionam o antibiótico no interior da glândula mamária", informa Renata Magalhães. Segundo a analista, os aplicativos rurais também auxiliam - e muito - a atividade, podendo ser utilizados para monitorar animais, gerenciar rebanhos, avaliar a qualidade do leite, avaliar a produtividade individual do animal, controlar a vacinação, analisar os dados da saúde, gerenciar custos e lucros, entre outros.

"A tecnologia também está presente na inovação de técnicas, máquinas e equipamentos utilizados na atividade." De acordo com o SIS/Sebrae, são diversas as tecnologias associadas à atividade leiteira que podem contribuir para o aumento da produção. 
* Software de gestão de rebanhos: existem softwares no mercado que contribuem para que o produtor obtenha informações sobre rendimento e desempenho técnico. Esses softwares emitem relatórios e fornecem estatísticas para melhor gerenciamento.
* Software de formulação de dietas: existem programas que formulam dietas, concentrados e suplementos para vacas leiteiras. Alguns, inclusive, oferecem a opção de desenvolver dietas tropicalizadas.
* Novos equipamentos: são diversos os equipamentos necessários para a manutenção e melhoria da atividade leiteira. Por exemplo, cocho, bebedouro, equipamento para mistura do alimento, dentre outros. (SNA)

Custos/Alemanha 

De acordo com o último estudo elaborado pelo Departamento Alemão para Agricultura e Sociologia Rural, em janeiro de 2017, o preço médio do leite ao produtor de 33,76 centavos de euros por quilo de leite cobre apenas 77% dos custos de produção (43,74 centavos). O estudo, em parceria com o Comitê Europeu de Laticínios (EMB) e do Comitê do Leite da Alemanha (MEG), calculou os custos correntes da produção de leite a partir de dados da produção da União Europeia (UE) e publicados em uma base trimestral. Considerando que a situação dos custos na Alemanha alterou apenas ligeiramente nos últimos meses, e os preços em toda a UE aumentaram ligeiramente, "o programa voluntário de redução da oferta de leite da UE reduziu o crescimento do leite excedente, interrompendo a tendência de queda dos preços", disse Romuald Schaber, presidente da EMB. Por exemplo, quando os preços do leite na Alemanha ainda estavam abaixo de 25 centavos, em julho do ano passado, a situação em outros países era muito mais dramática. Em julho de 2016, os preços na Lituânia ficaram abaixo de 17 centavos e em torno de 22 centavos na Bélgica. Mas, é pouco provável que a recuperação atual, de 30 e 34 centavos, respectivamente, no início de 2017 graças à redução voluntária de produção que ocorreu no último trimestre de 2016, se mantenha por muito tempo. 

Sinais de queda prolongada já estão sendo observados, embora novos aumentos de preços sejam essenciais. De acordo com Schaber, "é importante que se estabeleça, rapidamente, normas na UE que permitam aos agricultores produzirem com responsabilidade". Sem isto, a situação crítica fará com que os produtores tenham que intensificar a produção, prejudicando todo o mercado. A EMB solicita ao Comissário Europeu, Phil Hogan, e aos Ministros da Agricultura dos países membros, que introduzam instrumentos de crise do mercado do leite, com base no Programa de Responsabilidade do Mercado (MRP). Schaber disse: "nos últimos anos os agricultores e as autoridades perceberam que um mercado com leite excedente é extremamente prejudicial para muitas áreas". Com um instrumento de crise, que libera, automaticamente, medidas estabilizadoras, como restrição voluntária de produção em momentos de turbulências no mercado, a UE pode finalmente lidar com as crises crônicas do mercado de leite. (The Dairy Site - Tradução Livre: Terra Viva)

 
 
 

 
Alta do preço do leite no mercado spot em abril
 No mercado spot, ou seja, o leite comercializado entre as indústrias, os preços subiram na primeira quinzena de abril. Segundo levantamento da Scot Consultoria, em São Paulo, os negócios ocorreram, em média, em R$1,579 por litro, posto na plataforma. Os maiores valores chegaram a R$1,60 por litro. Houve alta de 3,4% na comparação com a quinzena anterior. Em Minas Gerais e em Goiás, os preços médios ficaram em R$1,575 e R$1,415 por litro, respectivamente. A produção nacional em queda aumenta a concorrência por matéria-prima pelos laticínios. Em curto e médio prazos, a expectativa é de alta do leite no mercado spot. Porém, os incrementos deverão ser menores na comparação com as quinzenas anteriores. Algumas indústrias já falam em manutenção das cotações no mercado spot. Apesar da produção caindo, alguns fatores chamam a atenção e podem limitar as altas também para o produtor em curto e médio prazos. São eles: as importações em alta, a produção aumentando no Sul do país a partir de abril/maio e a demanda interna patinando. (Fonte: Scot Consultoria)
 
 

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