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27/12/2018

Porto Alegre, 27 de dezembro de 2018                                              Ano 12 - N° 2.887

  Mercado doméstico volta a concentrar apostas

Mais uma vez o agronegócio brasileiro dormirá no dia 31 de dezembro à espera de um ano novo melhor no mercado doméstico. E quando acordar em 1º de janeiro, dia da posse do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), o setor espera ouvir dos integrantes do novo governo que reformas importantes como a previdenciária terão prosseguimento para que o país volte a crescer de forma consistente, com reflexos positivos sobre o consumo. 

Ainda que Papai Noel já tenha se acostumado com esse recorrente pedido - e tenha dado de ombros nos últimos anos -, há algum tempo produtores rurais e agroindústrias não esperam tanto que ele seja atendido. Como as incertezas no front externo se avolumaram em 2018 e as diversas disputas comerciais em curso criam espaço para surpresas internacionais, nada melhor do que uma demanda interna firme para que 2019 seja de fato próspero.

Em seu estudo "Perspectivas para o agronegócio brasileiro", o Rabobank realça a importância que o mercado doméstico terá para o setor no ano. "A incerteza é grande no âmbito externo, inclusive no que se refere ao ritmo da recuperação americana. Nesse contexto, o cenário é menos favorável para o Brasil, o que amplia a necessidade de o país fazer sua lição de casa o mais rapidamente possível. Ainda temos um problema fiscal que não foi resolvido", diz Maurício Oreng, economista-chefe do Rabobank no Brasil e um dos autores do trabalho - que também é assinado por Adolfo Fontes, Andrés Padilla, Andy Duff, Beatriz Fabrini, Fernando Gomes, Guilherme Morya, Matheus Almeida e Victor Ikeda.

Para a safra 2018/19 de grãos, que já começou a ser colhida e poderá alcançar o recorde histórico de 238,4 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o crescimento de 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 previsto pelo Rabobank, "consistente com uma paulatina recuperação do emprego e, consequentemente, do consumo interno", será muito bem-vindo. Não só para produtos básicos como arroz e feijão, que dependem quase que exclusivamente do apetite dos brasileiros, mas também para soja, milho e até o algodão, que têm no Brasil um dos líderes mundiais em exportação.

Victor Ikeda lembra que a guerra comercial entre Estados Unidos e China beneficiou especialmente os embarques brasileiros de soja e algodão em 2018, mas que houve sinais de arrefecimento das rusgas nas últimas semanas e há muitas dúvidas sobre o que poderá acontecer nessa terra onde os fracos não têm vez. Certo é que a produção de soja caminha para uma nova marca histórica e a de milho vai se recuperar após as intempéries da temporada 2017/18, e é vital que a demanda por carnes se mantenha forte para que bons volumes se transformem em ração para alimentar aves e suínos.

Da mesma forma que os cotonicultores desejam à indústria têxtil brasileira tudo do bom e do melhor para 2019, os agricultores com foco em soja e milho torcem para que os frigoríficos não enfrentem tanto problemas como neste ano, ainda de demanda doméstica menor que a desejada, de uma greve dos caminhoneiros que afetou sobretudo a cadeia do frango e de barreiras de importadores em decorrência de problemas sanitários identificados pela Operação Carne Fraca e suas etapas subsequentes. "Para aves e suínos, o primeiro semestre de 2018 foi muito ruim, com preços baixo e custos inflados pela alta dos grãos. Esperamos uma recuperação moderada em 2019", afirma Adolfo Fontes.

A princípio, as perspectivas são melhores para as exportações, sobretudo para a China, mas a ameaça do governo Bolsonaro de mudar a sede da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém poderá criar embaraços com os países árabes, importantes importadores de carne de frango halal. A China, por sinal, poderá provocar grandes mudanças no mercado global de carnes no ano que vem. Maior produtor e consumidor de carne suína do mundo, o país sofre com a proliferação de peste suína africana e poderá não só ampliar as importações, mas passar por uma transformação em seu "mix" de consumo, o que poderá favorecer inclusive a carne bovina - junto com Hong Kong, a China já é a maior importadora de carne bovina do Brasil.

Ainda no segmento de proteínas animais, o leite é outro produto que será beneficiado se a economia brasileira entrar no prumo. Itens como queijos desafiaram a crise e avançaram no mercado nos últimos anos, mas de uma maneira geral o consumo não empolgou e as margens dos laticínios foram apertadasem 2018, observa Andrés Padilla. O analista também acompanha o mercado de suco de laranja, outro que dependerá da continuidade do avanço da comercialização no mercado interno para crescer, já que a demanda externa continua encolhendo.

Açúcar e café, commodities cujas exportações são lideradas pelo Brasil e cujos preços caminharam juntos e sob pressão no mercado internacional neste ano, sob influência marcante de fartas ofertas mundiais e oscilações cambiais, também esperam mais do mercado interno. Andy Duff nota que, no tabuleiro do açúcar, o etanol vendido no país foi uma variável que colaborou para os resultados das usinas neste ano e poderá novamente ajudar nas contas em 2019; no do café, destaca Guilherme Morya, esse impulso já acontece há alguns anos, entre outros motivos graças ao sucesso das cápsulas. Se as principais cadeias agrícolas tiverem um ano positivo, os fornecedores de insumos como fertilizantes e defensivos certamente não terão do que se queixar. Na área de defensivos, ainda há ajustes em curso.

As empresas do segmento iniciaram 2018 com dificuldades graças aos elevados estoques nas redes de distribuição, e houve forte aumento dos preços de algumas matérias-primas importadas em razão redução da produção na China, por restrições ambientais. Na de fertilizantes, diz Fernando Gomes, um dos problemas foi a greve dos caminhoneiros, que tumultuou as entregas em um momento importante de comercialização. Como em todos os demais elos do agronegócio, houve alta de custos de transporte de defensivos e fertilizantes em consequência da entrada em vigor do tabelamento dos fretes, benesse concedida pelo governo Temer para agradar aos caminhoneiros. Todo o setor ainda têm esperanças de que a tabela seja revogado nos primeiros meses da era Bolsonaro e que o "livre mercado" volte a dar o tom. Mas, independentemente disso, para os produtores de insumos resta a certeza de que, com ou sem tabela, faça chuva ou faça sol, a agricultura brasileira continuará em expansão. Nas próximas décadas. (As informações são do jornal Valor Econômico) 

 
2018: Um ano de desafios para a cadeia do leite

O ano de 2018 foi bastante desafiador para o mundo do leite em diversos aspectos. Um evento que impactou o setor foi a greve dos caminhoneiros, em maio, que afetou a produção primária, paralisou as atividades da indústria e consumiu os estoques dos laticínios e dos varejistas. Esses fatores, somado a menor oferta de leite na entressafra, resultou em valorização do preço do leite na cadeia produtiva. O lado ruim foi que diversos produtores e indústrias perderam elevados volumes de leite com a paralisação.

O custo de produção de leite registrou comportamento atípico em 2018. Os preços de milho e soja subiram em plena safra devido a um conjunto de fatores: quebra da produção argentina de grãos, redução da safra brasileira de milho e forte valorização do dólar frente ao real, além de reflexos da guerra comercial entre Estados Unidos e China. A elevação dos preços de combustíveis, fertilizantes, defensivos e sementes também encareceu a produção de volumosos.

Em termos de rentabilidade, o início do ano foi muito ruim, com preços baixos e custos de produção em alta. No primeiro semestre, o preço nominal do leite ficou 8% abaixo do observado no mesmo semestre de 2017, enquanto os custos de produção subiram quase 6% no período analisado. Isso fez com que o preço real do leite recebido pelo produtor, deflacionado pelo custo (ICPLeite/Embrapa), registrasse queda real de 13,5%. Essa foi a perda de rentabilidade do produtor nesse período. Já no segundo semestre essa perda foi compensada pelo forte aumento do preço do leite ao produtor, que subiu 32,5% em termos nominais. Entretanto, o custo de produção seguiu em alta, com elevação de 15%. Assim, o preço real do leite, já corrigido pelo custo, registrou melhora de 12%. Nesse cenário, a rentabilidade média do produtor em 2018 piorou em 1,4% na comparação com 2017.

No caso da balança comercial, as importações brasileiras de lácteos que vinham baixas apresentaram forte crescimento em outubro e novembro, resultando em um déficit acumulado nos 11 meses de 2018 de 1 bilhão de litros de leite e cerca de 400 milhões de dólares. O preço internacional do leite em pó integral registrou forte queda ao longo do ano, chegando a 2.600 dólares por tonelada no início de dezembro. Na Argentina e Uruguai os preços também estão mais competitivos que no Brasil.

 
Figura 1. Preço do leite pago ao produtor, deflacionado pelo ICPLeite/Embrapa: R$/litro de 2015 a 2018. 
Fonte: Cepea e Embrapa, elaborado pela Embrapa.

Pelo lado da demanda, as vendas totais do varejo registraram crescimento de 4,25% no acumulado de janeiro a setembro 2018 em relação ao mesmo período de 2017. Super e hipermercados tiveram aumento de 4,62% nas vendas, mas o setor de alimentos e bebidas apenas 2,27%. As projeções de crescimento da economia foram recuando ao longo do ano. Em janeiro, a previsão era de um PIB aumentando 2,66% em 2018 e agora o crescimento previsto é de apenas 1,30%. O desemprego segue em patamar elevado e os dados de renda melhoram muito lentamente. A boa notícia é que todos estes indicadores macroecômicos, apesar de ainda ruins, voltaram a registrar melhorias. Todos os números nos colocam em uma situação melhor que a de 2 anos atrás. Mas por todas essas adversidades, devemos fechar 2018 com uma produção de leite estagnada e um consumo muito baixo. A indústria de laticínios passa por um momento delicado, com dificuldade para repassar preços e margens de comercialização ruins. Um contexto que se arrasta já a dois anos. Para 2019, esperamos um cenário melhor, com elevada safra de grãos, o melhor crescimento do PIB desde 2013 e um mercado de leite mais robusto, possibilitando melhores margens na cadeia produtiva. (CILeite Embrapa)


SP: aprovado projeto de distribuição de leite sem lactose no Estado

Foi aprovado na Assembleia Legislativa de São Paulo projeto do deputado Luiz Fernando Ferreira que torna obrigatória a distribuição de forma contínua e gratuita de leite sem lactose às crianças de baixa renda, comprovadamente portadoras de intolerância à lactose.

O projeto segue para sanção do governador Márcio França.

Hoje a rede pública estadual distribui somente o leite de vaca normal para as crianças em idade escolar, independentemente de poderem ou não consumir. (As informações são do WebDiario, resumidas pela Equipe MilkPoint)
 

No radar
O presidente do Sistema Ocergs/Sescoop-RS, Vergílio Perius, mantém a expectativa de que as cooperativas tenham uma subsecretaria no governo de Eduardo Leite (PSDB). O pedido já foi feito durante encontro com o governador eleito no mês passado. Na ocasião, no entanto, não estava definida a fusão das pastas do setor primário, agora confirmada. (Zero Hora)
 

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