Porto Alegre, 26 de dezembro de 2025 Ano 19 - N° 4.542
EMBRAPA/CILEITE: Nota de Conjuntura - Mercado de Leite e Derivados - Dezembro de 2025
O último leilão GDT realizado no dia 02 deste mês consolidou uma posição de queda contínua do preço do Leite em Pó Integral no mercado internacional, tendência iniciada em maio do corrente ano, quando atingiu o pico de US$ 4.374. O preço da tonelada retrocedeu ao patamar de US$ 3.364, valor equivalente a outubro de 2.024. A manteiga também apresentou este comportamento de preços no penúltimo leilão GDT do ano, quando a tonelada atingiu a cotação de US$ 5.169, numa queda contínua de preços, que vem desde junho, quando foi cotada a US$ 7.890, retornando à cotação de dezembro de 2023. O queijo muçarela foi comercializado a US$ 3.182, a menor cotação desde de dezembro de 2.023. Os preços em queda refletem aumento na produção nos Estados Unidos, Europa, Oceania e em países da América do Sul.
No Brasil, as importações seguem em volume elevado, mas em níveis um pouco inferiores que em 2.024. Nos onze meses deste ano a balança comercial registrou um déficit de 1,9 bilhão de litros equivalentes, ou queda de -4,2% em relação a igual período do ano anterior. Todavia, fechará o ano acima de 2 bilhões de litros equivalentes, perfazendo 8% ou mais do total de leite industrializado no ano. Por outro lado, está em curso forte expansão da produção interna. O IBGE registrou crescimento de 10,2% do leite processado pelos laticínios, no acumulado de janeiro a setembro, frente a igual período de 2.024. O fechamento do quarto trimestre deverá registrar expansão da oferta em patamares similares, rompendo a barreira dos dois dígitos.
Com oferta elevada, resultante tanto das importações quanto da expansão da produção, os preços ao consumidor retraíram em novembro, mesmo com o nível de emprego elevado, registrando recorde histórico, a maior massa de salários dos últimos anos. Para uma inflação em novembro de 0,2%, medida pelo IPCA, o grupo Leite e derivados materializou o excesso de oferta, com forte retração de preços (-2,3%). Os destaques foram a redução dos preços no varejo para o Leite longa vida, (-5,0%), Leite condensado (-1,9%), Manteiga (-1,3%), Leite em pó (-0,7%) e Queijos (-0,6%).
O efeito na cadeia produtiva se fez sentir, com o varejo comprimindo os preços praticados em todos os elos da cadeia. O Leite UHT já é comercializado no atacado em valores próximos a R$ 3,00 e o queijo Muçarela em torno de R$ 25,00. O Leite Spot, um indicativo importante para sinalizar se o mercado está comprador ou vendedor, já é comercializado em valores próximos a R$ 1,80, o que equivale a cerca de US$ 0,32, valor menor que os preços ao produtor praticados na Argentina. Como este valor traduz média de preços, já há produtores no Brasil que produzem pouco volume e com baixo nível tecnológico recebendo cerca de R$ 1,40 o litro.
Os custos de produção têm contribuído para não comprimir ainda mais a estreita margem do produtor. Em novembro, cresceram 0,3%, com variação restrita dos preços de alimentação concentrada (1,0%), além de queda dos custos de produção de volumosos (-0,7%). No acumulado dos onze meses do ano, a inflação de custos está em 2,8%, sendo que Concentrados tiveram aumento de preços de 1,0% e Volumosos apresentaram deflação de -2,5%. Portanto, fica evidente que a margem estreita é originária pela receita e não pelos custos.
Um olhar para o futuro no curto prazo não permite antever um equilíbrio de preços por meio de expansão da demanda. Embora o resultado do PIB para o terceiro trimestre tenha sido favorável, com crescimento de 1,8%, numa comparação com o terceiro trimestre de 2024, o fato é que, especificamente no terceiro trimestre, o crescimento foi de apenas de 0,1%. O consumo interno de bens e serviços começa a dar sinal de desaquecimento. Quando isso ocorre, bens de consumo, que variam com a massa salarial como leite e derivados, tendem a ser afetados. Ademais, a taxa de juros deverá continuar a ser uma das maiores do mundo, inibindo o crescimento do PIB. Em termos de comércio exterior, o que se antevê é que os preços de derivados lácteos se mantenham em patamares baixistas durante o período que corresponde ao verão brasileiro, contribuindo para pressionar por importações, que deprimem o preço interno ao produtor.
Pelo lado da oferta, é possível que a produção continue em alto volume no primeiro trimestre de 2026, estimulada pela produção baseada em pastagem e pelo bem comportado preço de grãos, como soja e milho, tanto no mercado internacional, quanto no mercado interno, já que o Brasil começará a colher a primeira safra de milho e soja. Mas as expectativas para o início do ano de 2026 são mais desafiadores e isso tende a causar desaceleração na produção brasileira. Preços médios ao produtor pouco acima de R$2/litro, afeta a rentabilidade de muitas fazendas causando novas evasões da atividade. Portanto, a maior probabilidade é que as margens do produtor e mesmo da indústria se mantenham estreitas. Todavia, o cenário pode mudar, a depender de decisões de governos estaduais e federal, com a adoção de medidas que reduzam o volume de importações de leite.
Emater/RS-Ascar realiza levantamento do cenário da atividade leiteira na região de Santa Rosa
Como forma de diagnosticar e contribuir com a construção de políticas públicas que levem em conta a realidade das famílias rurais, a Emater/RS-Ascar, vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), desencadeou o 6º Levantamento Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite do RS. Na região de Santa Rosa, o processo contou com o engajamento dos 45 escritórios municipais e com o apoio de diversas entidades parceiras, a exemplo de cooperativas e indústrias de beneficiamento de leite.
Os questionários foram aplicados em agosto de 2025 com o levantamento de mais de 100 itens relacionados à cadeia do leite, abarcando temas como produção, tecnologias utilizadas, comercialização e industrialização do leite. "Assim, é possível vislumbrar um diagnóstico sobre o que está acontecendo com o leite na região, uma das maiores bacias leiteiras do RS, e ao mesmo tempo ter subsídio para a definição de estratégias e construção de políticas públicas", destaca o assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, Jorge João Lunardi.
Lunardi também destaca a importância da atividade para a economia da região, sendo a segunda principal fonte de renda agrícola local, com mais de R$ 1,7 bilhões movimentados anualmente. Nos 45 municípios que compõe os Coredes Fronteira Noroeste e Missões existem 4.299 estabelecimentos, que vendem aproximadamente 1,67 milhões de litros de leite por dia e mais de 10 indústrias e agroindústrias da região.
Entre 2015, primeiro ano do levantamento, e 2025, observou-se a redução de 71% no número de produtores de leite na região, ao mesmo tempo o volume de produção se manteve e a produtividade por vaca cresceu 37%, evidenciando uma concentração da produção em menos propriedades, cada vez mais tecnificadas.
Perfil das Propriedades
Os mais de 635 milhões de litros de leite produzidos ao ano provém de 131.877 vacas. A produtividade média é de 5.152 litros/vaca/ano, sendo 64% do rebanho formado por holandesas, 18% Jersey e o restante cruzadas.
A atividade está presente principalmente em propriedades da agricultura familiar, perfil presente em 93% das unidades, que possuem em média 20 hectares de área.
Na faixa de produção de até 300 litros/dia, a região possui 2.590 estabelecimentos (60%); até 500 litros/dia há 3.484 estabelecimentos (81%). Já na faixa de 501 a 1 mil litros/dia estão 14% do total de propriedades e, acima de 1.001 l/dia, há 288 estabelecimentos, correspondendo a 7% do total.
Manejo e tecnologias adotadas
O manejo do rebanho aponta para a tendência de produção de leite à base de pasto, em sistema de pastoreio rotativo, com suplementação (85%). Também é adotado o sistema de semiconfinamento (10%) e confinamento em free stall e compost barn (5%).
Avança a adoção de tecnologias como a irrigação, presente em 11% das propriedades. Para a ampliação deste número, a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) oferece o Programa Estadual de Irrigação, executado pela Emater/RS-Ascar.
As ordenhas são canalizadas em 49% das propriedades; balde ao pé é adotado ainda em 23%; 27% possuem transferidor; 89% têm local adequado para ordenha; 68% possuem sala com fosso; 32% possuem piso calcado na sala de espera e 17 propriedades adotaram ordenha robotizada.
Em relação aos equipamentos dos quais dispõem, o resfriamento do leite é feito em 99% das propriedades com tanque de expansão direta, isotérmico; 92% usam água quente para higienização de equipamentos, e a maioria vêm obtendo boa qualidade do leite decorrentes das medidas de higiene e limpeza adotadas.
Lunardi destaca que o levantamento de 2025 aponta ainda que os índices de produção têm melhorado, especialmente em questões como genética, alimentação e nutrição, qualidade do leite, bem-estar animal, sanidade do rebanho, construções e equipamentos adequadas.
O levantamento apontou também que 30 municípios possuem programas municipais de fomento ao leite. Também se destaca o arranjo institucional que tem sido feito, capitaneado pela Associação dos Municípios da Fronteira Noroeste (Amufron), de modo a qualificar estratégias para o desenvolvimento sustentável da bacia leiteira local.
Em relação à disponibilidade de apoio técnico, a região tem centenas de profissionais que trabalham com inseminação artificial e outros que atuam em Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters).
Somente em 2025, a Emater/RS-Ascar atendeu mais de 1.900 famílias produtoras de leite na região de Santa Rosa, com ações voltadas à assistência técnica, agroindustrialização, tecnologias e fomento.
Desafios Estruturais
Apesar dos avanços, o setor enfrenta dificuldades estruturais. Entre os produtores entrevistados, 45% reclamam do preço pago pelo leite, 55% apontam a falta de mão de obra, e 40% citam a ausência de sucessores para continuidade da atividade. Além disso, 17% mencionam dificuldades em atingir a escala mínima exigida pelas indústrias.
A faixa de produção até 500 litros/dia ainda concentra 81% dos estabelecimentos, mas há crescimento na produção acima de 1.000 litros/dia, sinalizando um movimento de concentração produtiva. A maioria dos produtores ativos tem mais de 50 anos, apontando para a necessidade de políticas que fomentem a continuidade da atividade nos próximos anos.
Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar - Regional de Santa Rosa
EMATER/RS: Informativo Conjuntural 1899 de 25 de dezembro de 2025
BOVINOCULTURA DE LEITE
Houve ampliação do período de pastejo e redução da pressão térmica sobre os rebanhos. De modo geral, a produção está dentro do esperado para o período, sustentada pela oferta de pastagens, de silagem e de suplementação alimentar. A condição sanitária dos rebanhos se encontra, em geral, estável, mas há registros pontuais de ectoparasitas. A qualidade do leite segue dentro dos padrões estabelecidos, e houve intensificação dos cuidados de manejo e de higiene.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, a maior regularidade das precipitações contribuiu para o aumento da disponibilidade de forragem, e foi possível reduzir a suplementação com fenos e concentrados. Os períodos de calor menos intenso favoreceram as matrizes.
Na de Caxias do Sul, a produtividade está satisfatória, sustentada pela disponibilidade de pastagens e de silagem de milho, principal fonte de volumoso. A condição sanitária do rebanho está estável, mas há registros de ectoparasitas em algumas propriedades. O estado corporal segue dentro do esperado, uma vez que não foram observadas restrições alimentares entre as diferentes categorias. A qualidade do leite produzido se mantém nos padrões estabelecidos.
Na de Ijuí, o escore corporal dos animais é considerado satisfatório e superior ao observado no mesmo período do ano anterior, reflexo da oferta de alimentos de qualidade. A produção, apesar de leve declínio no volume, está acima da curva sazonal, e a qualidade dentro dos padrões exigidos, com melhora gradual.
Na de Passo Fundo, o estado corporal está adequado, e o desempenho produtivo estável em função da qualidade da forragem e da suplementação alimentar. O aumento na ocorrência de ectoparasitas tem exigido maior atenção dos criadores, mas está sob controle.
Na de Pelotas, foram registradas dificuldades relacionadas à alimentação dos animais em função do encerramento das pastagens de inverno, do atraso no desenvolvimento das forrageiras de verão e dos períodos de déficit hídrico, o que elevou os custos de produção, especialmente com suplementação via silagem e ração concentrada. Do ponto de vista sanitário e de manejo, foi observado aumento na infestação de carrapatos em algumas propriedades.
Na de Porto Alegre, a utilização de suplementos alimentares foi necessária devido à oferta limitada de pastagens.
Na de Santa Rosa, as temperaturas mais amenas, especialmente no amanhecer, possibilitaram a ampliação do período de pastejo. Em função da amplitude térmica observada nas últimas semanas, houve deslocamento dos rebanhos para áreas com mais disponibilidade de sombra e água. Após a ocorrência de chuvas no início do período, foram intensificados os procedimentos de higiene de ordenha em razão do acúmulo de sujidades no úbere e nos tetos das matrizes. Os parâmetros de qualidade do leite foram mantidos. (EMATER/RS)
Jogo Rápido
PREVISÃO METEOROLÓGICA DE 23 A 29/12/2025
Os próximos dias serão marcados pela presença de elevada umidade na atmosfera, favorecendo a formação de nuvens e a ocorrência de chuvas, especialmente nas regiões Central e Norte do Estado. Em 26/12 (sexta-feira), a entrada de um sistema de alta pressão deixará a atmosfera mais estável no Sul, com redução da nebulosidade ao longo do dia, e no Norte ainda haverá variação de nuvens; as temperaturas máximas devem alcançar 28 °C em Santana do Livramento. Em 27/12 (sábado), o tempo permanecerá estável pela manhã, com sol entre nuvens em todo o Estado; à tarde, a nebulosidade aumentará e haverá possibilidade de chuvas em todas as regiões, com condições para tempestades acompanhadas de descargas elétricas e ventos intensos na Metade Oeste; as temperaturas permanecerão elevadas, variando de cerca de 29 °C na Serra a 33 °C no Oeste. Em 28/12 (domingo), haverá sol entre nuvens pela manhã e, durante a tarde, áreas de instabilidade favorecerão a ocorrência de chuvas na Metade Sul; as temperaturas máximas devem chegar a 34 °C no Norte do Estado. Em 29/12 (segunda-feira), a nebulosidade será variável ao longo do dia, com possibilidade de chuva na Metade Norte no final da tarde; as temperaturas máximas devem alcançar cerca de 30 °C em municípios como São Gabriel e Iraí. (Boletim Agrometerologico)