Pular para o conteúdo

17/11/2025

Newsletter Sindilat_RS

Porto Alegre, 17 de novembro de 2025                                                  Ano 19 - N° 4.516


Ebook consolida legado do Milk Summit Brazil 2025  

Um mês após reunir mais de 2,1 mil participantes em Ijuí (RS), o Milk Summit Brazil 2025 lança seu ebook oficial, disponível gratuitamente no site do Sindilat em www.sindilat.com.br, ou clicando aqui. Com 46 páginas, o material consolida os principais debates, dados e tendências apresentados no evento, considerado um marco para o setor leiteiro por retomar um espaço de diálogo e construção.

Realizado em Ijuí, no coração do Noroeste gaúcho, região que produz 741,9 milhões de litros de leite por ano, o encontro promoveu uma agenda estratégica com foco em competitividade, inovação, sustentabilidade e políticas públicas, reunindo produtores, indústrias, cooperativas, pesquisadores, universidades e lideranças governamentais.

O ebook reúne os destaques das 21 palestras e mesas de debate. “Com conteúdo técnico, análises e relatos reais, o ebook se torna uma ferramenta de referência para orientar decisões e fortalecer a cadeia láctea brasileira. Também reforça a visão do Milk Summit como um movimento permanente do setor, que já tem como meta uma segunda edição em 2026 ampliada para o Mercosul”, destaca Darlan Palharini, coordenador do evento e Secretário Executivo do Sindilat/RS.

O Milk Summit Brazil 2025 é uma realização da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Estado do Rio Grande do Sul, via Fundoleite, Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat/RS), Prefeitura Municipal de Ijuí, Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural Emater/RS e Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural - ASCAR, Suport D Leite e Impulsa Ijuí. (Sindilat)


CRISE, DE NOVO?

Paulo do Carmo Martins*

Feliz por palestrar na estreia do Milk Summit Brazil, evento ocorrido recentemente no noroeste do RS e que já nasceu grande! Mas...estando ali, fui tomado por sentimentos que me deixaram entre alegria e tristeza intensas, envoltas em imagens do passado e do agora.

Em 2001, no município de Ijuí, pela primeira vez entrei num tambo – como o gaúcho chama uma fazenda leiteira. Fui coletar dados para a minha Tese de Doutorado, que comparou a competitividade das cadeias produtivas do leite em pó do RS, PR, SP, MG e GO com o mercado internacional. Eu voltei de lá com muito mais do que dados. Voltei com aprendizagem de vida!

O produtor gaúcho me aguardava fora da casa. Convidado, entrei, seguido do técnico da CCGL, que descalçou o seu tênis. Por fim, entrou o produtor, que também ficou de meia. Esta foi minha primeira lição. Em casa de produtor gaúcho, não se entra com sapato sujo de rua. Desde então, há 24 anos e não somente durante a pandemia, não adentro minha casa calçado com sapato ou tênis.

A segunda lição que aprendi é que a mulher cuidava dos animais e o homem cuidava de produzir os alimentos dos animais, e de outras culturas. No RS, nunca ouvi a expressão “fazenda de viúva”. Mas, ao contrário, conheci fazendas que cresceram exatamente quando a mulher se enviuvou! Essa imagem gaúcha de mulher protagonista do negócio leite não é a regra, subindo pelo Brasil.

A região de Ijuí é berço de Xuxa Meneghel e de Gisele Bundchen, originárias de municípios leiteiros de Santa Rosa e Horizontina. Dali, migraram muitos gaúchos, que fizeram a agricultura brasileira ser dinâmica. É por isso que tem mais de 800 CTGs (Centro de Tradições Gaúchas), fora do RS, em todos os estados do Brasil! CTG é tipo um clube, onde a gauchada se reúne para cultivar sua cultura. Pois, eu estava em Goiás, no município de Jataí, quando o então governador Marconi Perillo levou seu governo itinerante para lá. Ele escolheu o melhor local para ser a sua sede temporária: O CTG, com G de gaúcho e não G de goiano!

Liderado pelo Darlan Palharini - Sindilat RS,o evento Milk Summit Brazil, resultante de parceria público-privada, foi feito no interior para levar conhecimento genuíno aos produtores. Aquela região gaúcha, somada ao oeste catarinense e ao sudoeste do Paraná, formam uma nação leiteira de produção familiar, altamente eficiente e competitiva. Foi o que mostrei na minha Tese de Doutorado, comparando com os estados que citei anteriormente. Mas, saindo alegre e de alma leve de Ijuí, uma tristeza imensa e pesada me envolveu. Estamos em mais uma crise do setor lácteo. De novo???

Quando o Mercosul foi idealizado, nos anos 80, o Brasil era importador de alimentos, enquanto a Argentina tinha uma agricultura pujante. Então, nada melhor que o casamento BR-AR! Parecia que o comércio entre os dois países ia melhorar a vida de todos, barateando produtos e gerando empregos. Eis que, passadas quatro décadas, mudou o cenário: hoje somos concorrentes na exportação de alimentos. Mas, no leite, continuamos importadores.

O Brasil formou vigorosas cadeias produtivas no agro, a partir dos anos oitenta. Todavia, no leite, não. Motivo? O tabelamento de preços pelo Governo. Explicando: o leite pesava muito no cálculo da inflação. Então, o Governo tradicionalmente dava reajustes de preços ao leite menores que a inflação, o que desestimulava a modernização. Na prática, havia transferência de renda do produtor pobre para o consumidor pobre, via preço de leite. Isso inibiu que chegasse no leite a onda de inovação que tomou conta dos setores de grãos e carnes e que gerou as atuais cadeias produtivas muito competitivas.

Somente em 1987 o Brasil teve critério claro para reajustes de preços de leite tabelado ao produtor, resultante de estudo feito pelo Prof. Sebastião Teixeira Gomes e por mim, com a participação decisiva de Jacques Gontijo, pela CNA e OCB. Fizemos este trabalho sob demanda dos ministros Dilson Funaro e Antônio Cabrera. Este último, transformou nosso estudo em Decreto-Lei.

Na virada do Milênio, a Argentina triangular produtos subsidiados da Europa para o Brasil e inundava o nosso mercado, desorganizando nosso setor produtivo e impedindo que crescemos. O Governo brasileiro da época (FHC) estancou a sangria com salvaguardas comerciais específicas para o leite. Um baluarte desta conquista foi o saudoso Paulo Bernardes, um líder do cooperativismo brasileiro de leite. 

Todavia, em 2019, o ministro Paulo Guedes decidiu não renovar essas salvaguardas, que impunham restrições à importação de leite, interrompendo uma política de 19 anos. A justificativa? O mercado deveria se ajustar via competitividade e produtividade, não por proteção tarifária. As salvaguardas somente para o leite seriam uma “distorção de mercado”, incompatível com a política liberal do novo governo que se iniciava. Ali, perdemos nosso seguro e que agora tanto nos faz falta. Hoje, não temos mais as salvaguardas, construídas pelo Governo, com o aporte de OCB, CNA e Embrapa, que tive oportunidade de participar. 

Atualmente, o consumidor argentino paga mais que o brasileiro para ter diariamente o leite na sua mesa. Mas, o produto chega aqui mais barato que o brasileiro. Uai!!! Tecnicamente, isso não é Dumping comercial? Ademais, o produtor argentino paga menos que o brasileiro pelos insumos. E, ainda, com a moeda argentina desvalorizada, as exportações estão muito baratas. Dumping cambial? Não sei. Mas, era isso que diziam da China, na virada do milênio.

Os importadores brasileiros de Leite em Pó são de dois tipos: são empresas detentoras de marcas famosas de alimentos ultraprocessados e são os sem-fábricas, ou seja, os embaladores, os fracionadores que não produzem. Na prática, o Brasil está punindo quem produz proteína legítima do leite e protegendo quem produz alimento fake, não recomendado pelos organismos de saúde! Está punindo produtor e laticínio brasileiros de uma só vez, acirrando o conflito entre eles, agindo contra a organização de uma cadeia produtiva que precisa evoluir. Produtor e laticínios estão sendo punidos por aumentar a produção e produtividade, aumentando a oferta brasileira.

Alguém aí tem um Plano Ijuí para as famílias leiteiras do Brasil? Não é difícil planejar um plano estrutural para o leite. Mas, precisa vontade política. O momento é agora! Leite é assunto de Estado, em todo o mundo. No Brasil, não? Este setor fatura R$ 170 bilhões e é o PRINCIPAL vetor de emprego e renda no interior do Brasil.

A urgência é clara: estancar as importações, antes do pico de verão. Há propostas colocadas pelo setor produtivo, unindo produtor e laticínio. Há conhecimento de técnicos, aprendido em outras crises já vividas. Freio de arrumação imediato! Do contrário, teremos o Natal mais trágico do leite brasileiro neste milênio. 

*Paulo do Carmo Martins Economista, mestre e doutor em Economia Aplicada (UFV e Esalq/USP). Pesquisador da Embrapa e Professor da UFJF/Facc

Mês de outubro registra chuvas abaixo da média

O mês de outubro, segundo o Comunicado Agrometeorológico nº 93, se caracterizou pelas chuvas abaixo da média no estado. O Comunicado é uma publicação mensal da equipe do Laboratório de Agrometeorologia e Climatologia Agrícola (LACA) do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).

O total de chuva variou entre 50 e 150 mm, especialmente na região central do estado. No extremo sul, no entanto, os valores foram inferiores e variaram entre 30 e 50mm. Por sua vez, na porção norte, os totais mensais variaram entre 150 e 300 mm. Os menores valores foram registrados na região da Campanha e Fronteira Oeste, enquanto os maiores totais mensais ocorreram em áreas da divisa com Santa Catarina, no Litoral Norte e também na região Metropolitana de Porto Alegre e no Alto Uruguai.

De acordo com o Comunicado, “na comparação com a normal climatológica padrão (1991-2020), a precipitação pluvial de outubro ficou abaixo da média em praticamente todo estado, com desvios negativos entre -25 e -100 mm, com áreas pontuais com desvios até -150 mm”.

No mês de outubro, as temperaturas médias do ar ficaram entre 14°C e 20°C na maior parte do RS, configurando um padrão próximo da normalidade. Os valores mais elevados concentraram-se na porção noroeste e oeste, onde ocorreram áreas com médias próximas de 18°C a 22°C enquanto as menores médias ocorreram na região da Campanha, Serra e Campos de Cima da Serra, com valores variando entre 14°C e 16°C. Não houve registro de geadas durante o mês de outubro.

Na bovinocultura de leite, a produção se manteve estável nas diferentes regiões, sofrendo apenas leves variações, típicas do período de transição entre as pastagens de inverno e de verão. A maioria dos rebanhos apresentou escore corporal e sanitário adequado, favorecidos pelas condições meteorológicas, como temperaturas do ar amenas e chuvas bem distribuídas, que também favoreceram o conforto térmico dos animais. Em algumas propriedades, a oferta de forragem ainda esteve limitada, exigindo suplementação com silagem e feno para garantir a produtividade e a estabilidade alimentar dos rebanhos. 

Prognóstico climático

O Comunicado indica também que as chuvas devem variar de normal a ligeiramente abaixo da média na maioria das regiões do Rio Grande do Sul nos meses de novembro e dezembro de 2025. O mês com maiores desvios negativos de precipitação pluvial deverá ser dezembro, especialmente na metade sul e no oeste do Estado. As temperaturas do ar sobem gradativamente, devendo ter anomalias mais positivas em dezembro. Os dados dos prognósticos são do Boletim Copaaergs.

"O prognóstico de La Niña para essa safra, mesmo fraco e de curta duração, deve ser considerado como um sinal de atenção pelos produtores, pois deficiências hídricas podem ocorrer, mas não como uma tragédia anunciada. Condições de estiagens, recorrentes no Rio Grande do Sul, devem ser enfrentadas com planejamento e cuidados contínuos, especialmente com a adoção de estratégias de redução do risco climático como zoneamentos agrícolas, escalonamento de épocas de semeadura e seguro agrícola”, afirma a engenheira agrônoma e pesquisadora do DDPA, Amanda Heemann Junges, uma das autoras do Comunicado.

Junges destaca ainda que é preciso observar os cuidados relativos ao uso e armazenamento de água, seja por meio de sistemas de irrigação e açudes, seja pela conservação e melhoria das propriedades dos solos, grandes armazenadores de água para os cultivos. Os outros autores da publicação são o meteorologista Flávio Varone, e as engenheiras agrônomos Loana Silveira Cardoso e Ivonete Fátima Tazzo, todos do DDPA/Seapi.

Para o Comunicado na íntegra, acesse:  Comunicado Agrometeorológico 93 Outubro 2025 final (SEAPI)


Jogo Rápido

Automação eleva produção diária de leite em 7,4%, aponta estudo
Levantamento encomendado por uma empresa do setor analisou dados de quase 14 mil fazendas. Um estudo global realizado pela Lely, empresa holandesa especializada em automação para produção leiteira, apontou que fazendas que adotam automação tanto na ordenha quanto na alimentação registram, em média, 7,4% mais produção de leite por vaca em comparação às propriedades que automatizam apenas a ordenha. O levantamento, encomendado pela própria empresa, analisou dados de 13.816 fazendas entre janeiro de 2023 e maio de 2024. Segundo a análise, propriedades que utilizam a combinação de tecnologias nas duas etapas obtêm não só maior volume diário, mas também melhorias nos padrões de comportamento animal. O alimento mantido constantemente acessível favorece a ingestão regular, aumenta o número de visitas voluntárias à ordenha e reduz ocorrências de recusas e visitas irregulares. Os dados mostram que as fazendas com automação completa apresentaram mediana de 33,99 kg de leite por vaca ao dia, ante 31,64 kg nas que usam apenas a tecnologia de ordenha. Também houve aumento na frequência de visitas diárias e redução de recusas no processo. De acordo com a equipe técnica da empresa, a regularidade das tarefas automatizadas melhora a previsibilidade do manejo e contribui para maior eficiência produtiva. No Brasil, resultados semelhantes foram observados em propriedades que adotaram o sistema combinado, com relatos de ganho expressivo em volume e redução de necessidade de mão de obra. A empresa ressalta que os números refletem médias globais baseadas em dados reais de produtores e que os resultados podem variar conforme o manejo, a manutenção e a frequência de uso das tecnologias. (Globo Rural)