Porto Alegre, 03 de novembro de 2017 Ano 11- N° 2.616
Soluções para o leite
A iniciativa do governo estadual modificando as regras sobre a tributação da entrada de leite em pó pelo Rio Grande do Sul e a suspensão temporária pelo Ministério da Agricultura da importação de leite do Uruguai atenuam mas não resolvem a aguda crise enfrentada hoje pelo setor de lácteos gaúcho. A importação, em grande escala, a queda no consumo, produção e estoques em alta impactaram no preço pago ao produtor, que atingiu níveis baixíssimos, sequer remunerando os custos de produção. É a mais profunda crise já enfrentada pelo setor. Nos últimos dois anos, mais de 19 mil produtores abandonaram a atividade no Estado.
Ainda somos o segundo maior produtor de leite do Brasil, atrás apenas de Minas Gerais. A produção anual atinge 4,6 bilhões de litros. A cadeia produtiva envolve mais de 600 mil gaúchos, está presente em 198,4 mil propriedades rurais no RS e 97,6% dos que vendem ou processam o produto são agricultores familiares, que investiram na melhoria da produção e agora correm o risco de ver se inviabilizar seu negócio. Com isso, a economia dos municípios, já fragilizada, pode ser ainda mais afetada.
Quem mais sofre são os pequenos produtores, que trabalham de sol a sol, numa rotina que não conhece fim de semana ou feriado, calor, chuva ou geada, pois tem uma safra diária para produzir, fonte de subsistência e complementação de renda.
No Congresso, tenho me somado à mobilização dos representantes do setor e das lideranças políticas gaúchas em busca de soluções de curtíssimo e médio prazos para essa grave situa- ção. Levamos ao Ministério do Desenvolvimento Social proposta para aquisição de excedentes para serem utilizados nos programas sociais do governo federal. Igualmente, encaminhei, através da Comissão de Relações Exteriores do Senado, sugestão para que parte do estoque seja doada pelo governo brasileiro, como ajuda humanitária, a países que enfrentam graves problemas de fome, de acordo com programa da ONU que foi usado em passado recente para resolver problemas semelhantes com o arroz no RS.
São medidas que sinalizam a importância de buscarmos soluções permanentes para a questão de lácteos, para que o produto volte a se tornar competitivo, gerando renda para os produtores e contribuindo para o desenvolvimento da economia gaúcha. (Senadora Ana Amélia Lemos/Zero Hora
Oferta elevada voltou a pressionar cotações do leite em outubro
Novamente, o preço médio do leite ao produtor brasileiro recuou em outubro. Mas o ritmo da queda foi menor do que no mês anterior, conforme levantamento da Scot Consultoria. No mês que passou, os produtores receberam R$ 1,060 por litro de leite entregue aos laticínios em setembro, recuo de 2,5% em relação aos R$ 1,087 precedentes. De acordo com Rafael Ribeiro, analista da Scot, o recuo refletiu ainda o aumento da produção de leite em setembro e a persistente demanda fraca por lácteos.
O Índice Scot de Captação de Leite mostrou que a produção cresceu mais 0,3% em setembro sobre agosto na média nacional. A pesquisa da Scot considera o preço do leite em 17 Estados. Com um levantamento em sete Estados, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) apurou um recuo de 7,3% no valor líquido do leite ao produtor em outubro, para, em média, R$ 1,005 por litro. Segundo a Scot Consultoria, os preços do leite longa vida no atacado tiveram leve recuperação em outubro sobre setembro. Em São Paulo, houve alta de R$ 0,05 por litro, para R$ 2,18. "Foi uma tentativa das indústrias de recuperar margens, uma vez que estão trabalhando com prejuízo", observou Ribeiro. Ele afirmou, no entanto, que essa alta no atacado não indica uma reação do consumo.
Assim, o aumento só será repassado ao produtor se houver melhora na demanda, avaliou. Os preços no varejo continuaram em queda, saindo de R$ 2,90 em setembro para R$ 2,85 mês passado, segundo a Scot. No curto prazo, de acordo com a pesquisa da consultoria com 156 laticínios, indústrias e cooperativas, a tendência ainda é de retração do preço ao produtor. Mas a expectativa é de manutenção em dezembro, já que a oferta já está "mais comedida" no Sul do Brasil, pois o rebanho leiteiro começou a ser retirado das pastagens de inverno e houve alta nos custos de produção. Para o pagamento de novembro, 48% dos entrevistados pela Scot esperam manutenção dos preços da matéria-prima, 45%, recuo e o restante tem expectativa de alta. (Valor Econômico)
Tendências, recuperação econômica & consumo de lácteos: o que podemos esperar para 2018?
Compartilhar uma visão geral do que está acontecendo com o mercado internacional, as projeções de preços para 2018 e as perspectivas sobre a oferta e demanda de lácteos dos prncipais mercados produtores e consumidores serão alguns dos temas abordados por Andrés Padilla, Analista Sênior do Rabobank, Brasil, no Dairy Vision 2017. Uma das ideias da apresentação é correlacionar esses fatores com o mercado brasileiro e como eles podem impactar o ano vindouro.
Segundo ele, os produtos lácteos fazem parte da alimentação dos brasileiros e culturalmente estão inseridos na dieta da população. "Infelizmente, a perda de renda real na recessão de 2014-2016 contribuiu para a redução no consumo de alguns produtos. Porém, o consumo de lácteos e alimentos em geral, têm sofrido menos do que outros produtos nos últimos anos, visto que os consumidores cortam primeiro o lazer e a compra de eletrodomésticos. Uma possível recuperação econômica sustentável por vários anos deve trazer uma melhora importante no mercado de trabalho, refletindo em salários maiores. Se as políticas econômicas adotadas pelo próximo governo (2019-2022) levarem à manutenção de inflação controlada e crescimento sustentável, o consumidor brasileiro deve voltar a consumir mais leite e seus derivados. Acreditamos que o potencial maior está nos queijos, iogurtes e outros produtos de valor agregado, dado que o consumo de leite fluido já é elevado".
Além disso, o analista destaca que estamos vivenciando no Brasil um período de grande oferta de leite no mercado. "A produção local avançou com força e a demanda local ainda está enfraquecida como comentei acima. Dado que o mercado brasileiro é bastante fechado ao comércio internacional, com exceção do Mercosul, a indústria não consegue ser muito competitiva para colocar o excesso de produção em mercados importadores devido aos impostos que os produtos brasileiros carregam. Por outro lado, vale a pena lembrar que quando há excesso internacional de produção, os produtores de fora têm dificuldades para colocarem seus produtos no mercado brasileiro devido às barreiras de importação que existem".
Andrés pontua que o mercado mundial tem apresentado maior equilíbrio ao longo de 2017, com preços mais estáveis na maioria dos produtos. "Está ocorrendo uma reação da oferta internacional por causa dos melhores preços ao produtor no primeiro semestre, o que acelerou a oferta internacional. Mas, vale lembrar que a demanda - principalmente dos mercados emergentes liderados pela China - vem crescendo junto, o que ajuda a manter o mercado em equilíbrio".
Ele ressalta que os preços da manteiga e das gorduras lácteas têm fugido da estabilidade observada nas proteínas. "Isso ocorreu devido ao aumento expressivo e às mudanças estruturais com relação ao menor consumo de gorduras vegetais e aumento do consumo de manteiga em várias regiões. Acredito que essa mudança estrutural é de longo prazo".
Tendências do mercado lácteo
Para Padilla, o leite e seus derivados continuam sendo uma fonte de proteínas importante na alimentação das pessoas de todas as idades, porém, há bastante 'barulho' e desinformação nas redes sociais e isso pode atrapalhar e influenciar os níveis de consumo, principalmente da geração Y (ou 'millenials').
"Os 'millenials' - por natureza - querem experimentar coisas novas e mudar os padrões de consumo com relação aos seus pais e às gerações anteriores. Devemos todos ajudar na divulgação de informações mais claras e direcionadas para que os novos consumidores continuem apreciando o grande valor que o leite e os derivados lácteos têm na nutrição do ser humano. Reforçando, o consumo de manteiga está aumentando globalmente e deve continuar em expansão no futuro. Várias pesquisas conceituadas têm comprovado as vantagens de consumir gorduras lácteas com moderação e os consumidores estão reconhecendo os benefícios dela para a saúde", completa.
O Dairy Vision 2017 é um dos principais eventos mundiais da cadeia do leite no mundo que ocorrerá em Curitiba/PR, entre 30 de novembro e 01 de dezembro. (Milkpoint)
Novidades no mercado Gaúcho
Maior indústria de laticínios do Estado e uma das líderes no país, a francesa Lactalis promete duas novidades para o mercado até o final deste ano. Na segunda quinzena deste mês, passa a produzir na unidade de Teutônia a manteiga Président Gastronomique - hoje importada. Para montar a linha de produção, a empresa investiu cerca de R$ 20 milhões - parte dos R$ 120 milhões anunciados no ano passado, que incluem a segunda novidade: fábrica de garrafas plásticas de leite. A operação começa em dezembro e teve aporte de mais R$ 50 milhões.
E para garantir a matéria-prima, a marca investe na fidelização, por meio do Lactaleite, programa de assistência técnica, que atende mil produtores e deve chegar a 8 mil até o final do ano.
- A meta é aumentar em 30% a produtividade, além de reduzir custos da produção - explica Guilherme Portella, diretor de comunicação externa da Lactalis.
Para ter assistência sem custos, é preciso cumprir requisitos, como entregar a produção só à marca. (Zero Hora)
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Eumar Novacki, inicia nesta sexta-feira (3), missão oficial à Holanda, onde participará do evento Brazil network Day - BND e se reunirá com importadores de carne brasileira. Novacki fará ainda visita ao centro de inovações da empresa de lácteos FrieslandCampina, multinacional neerlandesa líder do setor de lácteos. A companhia emprega 22 mil funcionários em 33 países, inclusive no Brasil. (As informações são do Mapa)