Porto Alegre, 09 de julho de 2025 Ano 19 - N° 4.432
Produtores e Laticínios, em coalizão, repudiam ataque da NotCo e reforçam benefícios do leite à saúde humana
Reunidas em prol da saúde humana e da verdade e, em face de recente campanha publicitária difamatória veiculada nas mídias sociais pela empresa NotCo, as entidades representativas do setor lácteo brasileiro esclarecem:
- O leite é um alimento de origem animal rico em vitaminas, cálcio e de alto valor biológico. É uma fonte de proteína de custo acessível a milhares de famílias brasileiras, integrando a dieta de diferentes faixas etárias e classes sociais. Sua produção envolve mais de 1 milhão de produtores no país, responsáveis por um rebanho de 15,6 milhões de vacas que rendem 35 bilhões de litros ao ano, gerando renda em todas as regiões do Brasil. Alimento de alto valor nutricional, o leite é recomendado pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde como alternativa indispensável para uma dieta saudável e devido desenvolvimento humano.
- A campanha veiculada pela empresa NotCo e assinada pela agência David representa um desserviço ao associar o leite a doenças gastrointestinais de forma generalista, sem embasamento científico e compromisso com a verdade. As peças se apropriam de símbolos da memória afetiva do povo brasileiro na tentativa de desacreditar o produto leite sem compromisso com a sociedade, tampouco com a saúde pública. Valendo-se de uma linguagem totalmente inapropriada e jocosa, a NotCO incita medo e desinformação.
- A posição do setor lácteo contrária à campanha foi referendada na sexta-feira (4/7) pelo Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária (Conar), que recomendou a retirada das peças de circulação.
- Em face do aqui exposto, as entidades abaixo assinadas exigem a imediata interrupção da distribuição desse conteúdo por parte das plataformas de serviços digitais obedecendo a orientação de coibição de Fake News. Também se demanda providências frente aos danos sofridos pelo setor produtivo. Entende-se que o ataque atinge não apenas à empresa diretamente associada à campanha Mamíferos, mas a todos os consumidores, produtores e empresas que trabalham com leite no país.
Brasília, 8 de julho de 2025.
Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite)
Viva Lácteos - Associação Brasileira de Laticínios
Associação Brasileira das Pequenas e Médias Cooperativas e Empresas de Laticínios (G-100)
Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (ABIQ)
Associação Brasileira de Leite Longa Vida (ABLV)
Leite: um aliado estratégico na segurança alimentar global
Produção leiteira garante renda e nutrição em regiões vulneráveis. Veja por que o leite é peça central nos debates globais sobre segurança alimentar.
Entre os dias 23 e 27 de junho, recebemos em Ribeirão Preto - SP o International Food and Agribusiness Management Association (IFAMA), maior congresso de agronegócio do mundo. Em meio a apresentações de pesquisas e palestras, pesquisadores, executivos e formuladores de políticas de mais de 40 países discutiram temas relevantes para o setor, dos quais um se destacou ao longo dos quatro dias de evento: a segurança alimentar.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) definiu, em 1996, segurança alimentar como “quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico, social e econômico a alimentos suficientes, seguros e nutritivos para satisfazer suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida ativa e saudável”. Contempla, portanto, não apenas o acesso a alimentos, mas também à ingestão e absorção adequada de nutrientes.
Durante as discussões, refleti muito sobre como o leite pode ser um dos aliados nesse processo de segurança alimentar ao redor do mundo, e é sobre isso que abordarei aqui. Para isso, utilizarei dados de produção, impactos sociais e econômicos em regiões leiteiras e, também, os aspectos nutritivos do alimento.
O leite como motor de renda, nutrição e estabilidade
Em tempos de incerteza climática, inflação global de alimentos e conflitos geopolíticos, a cadeia leiteira emerge como uma atividade que promove renda regular, alimentos acessíveis e nutrição de qualidade.
No Brasil, a atividade leiteira tem presença marcante em todo o território nacional, estando presente em 98% dos municípios e sendo desenvolvida, de acordo com o censo agropecuário¹, por mais de 1 milhão de propriedades rurais, que juntas empregam aproximadamente 4 milhões de pessoas. Apenas no setor primário, essa cadeia movimenta mais de R$ 67,8 bilhões por ano, o que demonstra sua importância não só econômica, mas também social, sobretudo em regiões rurais onde o leite é uma das poucas atividades com geração de receita constante.
Na Índia, maior produtora mundial, o cenário é ainda mais expressivo: mais de 80 milhões de famílias dependem da pecuária leiteira como principal fonte de renda. Com mais de 300 milhões de bovinos e 187 milhões de toneladas de leite produzidas anualmente, o setor garante alimento nutritivo e acessível diariamente, além de empoderar economicamente comunidades rurais inteiras.
Estes dois exemplos, “dentro de casa” e do maior produtor mundial, nos ajudam a entender o impacto econômico e social da atividade. Mas, e quando olhamos para os países onde há urgência de segurança alimentar? Vamos usar o exemplo da África, onde está parte dos países mais vulneráveis à fome no mundo.
Segundo relatório da FAO e do World Food Program (WFP) publicado em junho de 2025, 13 países enfrentam risco iminente de fome, incluindo Sudão, Sudão do Sul, Mali, Etiópia, Nigéria e República Democrática do Congo. A situação é crítica:
24,6 milhões de pessoas estão em crise alimentar no Sudão, com 637 mil em nível de catástrofe alimentar;
No Sudão do Sul, 7,7 milhões de pessoas (57% da população) enfrentam insegurança alimentar aguda;
Em Mali, ao menos 2.600 pessoas estão em risco de fome extrema, impulsionada por conflitos e instabilidade econômica.
Paradoxalmente, muitos desses países têm potencial produtivo para o leite — e onde ele é produzido, os efeitos positivos são claros. Em Uganda, por exemplo, cerca de 50% da produção de leite ocorre em regiões centrais e ocidentais, onde o produto é uma das poucas fontes estáveis de alimento e renda durante o ano inteiro. Já na Nigéria, embora o rebanho bovino ultrapasse 19 milhões de cabeças, o leite cobre menos de 10% da demanda interna, revelando um setor com imenso potencial de crescimento.
Produzir leite localmente contribui para a disponibilidade contínua de alimento, melhora o acesso econômico das famílias vulneráveis, oferece nutrição essencial (rico em proteína, cálcio e vitaminas) e promove estabilidade mesmo em tempos de crise. Além disso, a atividade leiteira tem um impacto multiplicador: movimenta cadeias de ração, medicamentos veterinários, equipamentos e logística, o que dinamiza economias locais.
Enquanto o mundo discute como alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050, o leite se apresenta como uma solução possível, acessível e já existente. É, então, mais que um alimento, uma ferramenta de transformação social e econômica.
¹Os dados do Censo referem-se a 2017. Desde então, muitos produtores deixaram a atividade - segundo relatório produzido pelo MilkPoint, o mercado formal contém hoje cerca de 250.000 produtores de leite. (Milkpoint)
Comissão Nacional de Pecuária de Leite debate avanços regulatórios e sanitários para a cadeia produtiva, diz CNA
AComissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se reuniu, na segunda (7), para debater temas como a consulta pública sobre bem-estar animal no transporte com Guia de Trânsito Animal (GTA), a regulamentação do comércio de material genético bovino e estratégias para o controle da brucelose e da tuberculose.
O assessor técnico da CNA, Guilherme Souza Dias, conduziu a discussão sobre a consulta pública sobre boas práticas de bem-estar animal no transporte de bovinos, estabelecida pelas Portarias 1280 e 1295/2025, do Ministério da Agricultura.
As normativas estabelecem uma série de obrigações para os transportadores, como a presença de um agente de bem-estar animal durante o transporte e a periodicidade de avaliação do rebanho nas viagens, além da obrigatoriedade de programas de autocontrole.
Neste contexto, os integrantes levantaram oportunidades de melhorias nas portarias por avaliarem que as matérias, da forma como estão, geram insegurança jurídica para os profissionais envolvidos no transporte de animais. Os membros da comissão enviarão propostas de ajustes ao marco normativo para buscar uma norma viável para o setor.
A regulamentação das Leis nº 15.021/24 e 14.515/22, que tratam da comercialização de material genético bovino, foi também objeto de pauta da reunião. Dias explicou que a primeira etapa da regulamentação ocorre por meio da edição de um decreto com caráter “guarda-chuva”, em fase final de redação pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, enquanto a regulamentação para cada cadeia produtiva será realizada por normas infralegais do Mapa.
A CNA tem contribuído com as discussões e apresentado sugestões para a elaboração de um conjunto de normas que respeitem as especificidades dos diferentes setores de proteínas animais. As demandas apresentadas pela entidade incluem a regulamentação de práticas já existentes, como a doação e a criopreservação de material genético nas propriedades, a comercialização entre produtores pessoa física e o registro desse material junto às associações de raças, entre outros.
A Comissão também debateu propostas para fortalecer o controle e a erradicação da brucelose e tuberculose no Brasil. Uma das iniciativas previstas é a realização de um workshop técnico para levantar entraves, propor soluções viáveis e alinhar ações com base em experiências internacionais bem-sucedidas.
Neste ponto, foram apresentadas sugestões para estruturar melhor o programa de erradicação das enfermidades, como diagnóstico preciso, estratégias de certificação, eficácia da vacinação e mecanismos de indenização para produtores. “Brucelose e tuberculose são dois grandes desafios, então assumimos o compromisso de avançar para melhorar o status sanitário do Brasil”, ressaltou o presidente da Comissão, Ronei Volpi.
Também foi destacada a necessidade de revisar os fundos sanitários estaduais, públicos e privados, para trazer segurança aos produtores em relação à necessidade de abate de animais positivos. A CNA promoverá uma ampla discussão sobre o tema, bem como o mapeamento das iniciativas existentes, contemplando recursos disponíveis, metodologia de arrecadação, valor indenizável, entre outros.
Ao final do encontro, a Comissão discutiu o andamento da investigação de dumping contra o leite em pó importado, contemplando a audiência pública realizada na última sexta (4).
A próxima etapa envolve a publicação do Parecer Preliminar da investigação pelo Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Serviços, que deve ocorrer ainda no mês de julho.
O vice-presidente da Comissão, Jônadan Ma, pontuou que “a CNA está fazendo o seu dever de casa e o Decom tem conduzido muito bem a investigação”. “Precisamos que o governo priorize essa matéria e não mais permita que o setor conviva com práticas desleais de comércio”.
A Comissão abordou, ainda, a atuação da CNA na melhoria dos marcos regulatórios para as queijarias e pequenas agroindústrias, bem como o evento de premiação da segunda edição do Prêmio CNA Brasil Artesanal de queijos, que ocorre na sede da entidade no próximo dia 22.
Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
Jogo Rápido
Governo do Estado promove encontro para debater inovação no agronegócio
O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict), irá promover o encontro do Centro de Inteligência do Agronegócio (Centro Agro), no dia 24 de julho. O evento, que será realizado no auditório do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, tem como objetivo reunir atores do ecossistema para avançar na agenda de trabalho e nas entregas previstas para 2025. As secretarias da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e de Desenvolvimento Rural (SDR) são parceiras no projeto. Conforme o secretário-adjunto de Inovação, Ciência e Tecnologia, Mário Augusto Gonçalves, “é fundamental desenvolvermos políticas públicas inovadoras para o agronegócio e o Centro Agro está inserido nesse contexto. O agro está na vida dos gaúchos e vamos trabalhar para que essa iniciativa se torne referência não só no Brasil, mas na América Latina”, comenta. Para a Seapi, o Centro deve ser palco para debater as pautas no que tange o futuro do agronegócio no Rio Grande do Sul. “É o uso da ciência e da tecnologia para o melhoramento da produtividade do Estado, com base de dados e avaliações científicas para que possamos melhorar, ainda mais, a qualidade dos nossos produtos, aumentar a área de produção e a produtividade, revertendo em bons resultados na economia e no PIB”, enfatizou o chefe de gabinete, Joel Maraschin. A retomada das atividades também é saudada pela SDR. “Estamos entusiasmados com a retomada do projeto Centro Agro, uma iniciativa estratégica que tem como objetivo mapear, valorizar e impulsionar as ações inovadoras que nascem no campo e fazem do agronegócio uma das principais forças do desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Trata-se de reunir, em um só espaço, as diversas iniciativas de inovação no setor, fortalecendo a conexão entre tecnologia, produção e sustentabilidade”, destacou o diretor-geral Romano Scapin. Inscrições estão abertas A programação do encontro contará com debates sobre casos e resultados no agronegócio gaúcho, o agro que queremos e próximos passos, por exemplo. As inscrições devem ser feitas atraves do site da SEAPI até dia 22/07 e são gratuitas. (SEAPI)