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11/06/2025

Newsletter Sindilat_RS

Porto Alegre, 11 de junho de 2025                                                          Ano 19 - N° 4.411


IBGE: Estatística da Produção Pecuária - Aquisição de Leite

No 1º trimestre de 2025, a aquisição de leite cru feita pelos estabelecimentos que atuam sob algum tipo de inspeção sanitária (Federal, Estadual ou Municipal) foi de 6,49 bilhões de litros, equivalente a um acréscimo de 3,4% em relação ao 1° trimestre de 2024, e uma redução de 4,3% em comparação com o trimestre imediatamente anterior. No Gráfico I.11 é possível perceber um comportamento cíclico no setor leiteiro, em que o 1° trimestre regularmente apresenta queda da aquisição de leite em relação ao 4° trimestre do ano anterior. Janeiro foi o mês de maior captação, com 2,31 bilhões de litros (+4,0%), enquanto março apresentou a variação mais significativa em relação ao mesmo mês do ano anterior (+5,0%). Em relação ao preço médio do leite pago ao produtor, ocorreu aumento de 22,1% em relação ao mesmo período do ano anterior e houve estabilidade em relação ao 4º trimestre de 2024.

A Região Sul apresentou a maior proporção na captação de leite cru, 39,6% do total, seguida pelas Regiões Sudeste (36,3%), Centro-Oeste (10,9%), Nordeste (9,3%) e Norte (3,9%). No comparativo do 1º trimestre de 2025 com o mesmo período de 2024, o acréscimo de 210,55 milhões de litros de leite captados em nível nacional é proveniente de aumentos registrados em 19 das 26 UFs participantes da Pesquisa Trimestral do Leite. Em nível de Unidades da Federação, as variações positivas mais significativas ocorreram em: Paraná (+91,56 milhões de litros), Minas Gerais (+34,46 milhões de litros), Rio Grande do Sul (+27,31 milhões de litros), Sergipe (+21,98 milhões de litros), Goiás (+15,87 milhões de litros) e Bahia (+11,35 milhões de litros). As principais quedas ocorreram em: Rio de Janeiro (-9,88 milhões de litros), Mato Grosso (-7,35 milhões de litros) e Rondônia (-4,53 milhões de litros). Minas Gerais continuou liderando o ranking de aquisição de leite, com 25,1% da captação nacional, seguido por Paraná (15,4%), Santa Catarina (12,2%) e Rio Grande do Sul (12,0%) (Gráfico I.12).

O preço líquido médio do litro de leite pago ao produtor no 1º trimestre de 2025 foi de R$ 2,76, valor 22,1% superior ao praticado no trimestre equivalente do ano anterior. Em comparação ao preço médio do 4° trimestre de 2024, houve estabilidade (Gráfico I.13). O preço foi aumentando ao longo do trimestre, passando de R$ 2,69 em janeiro, para R$ 2,77 em fevereiro, e atingindo o maior valor, de R$ 2,84, no mês de março.

Segundo o IPCA, o item Leite e derivados teve alta de 1,97% no acumulado de janeiro a março de 2025, abaixo do Índice geral da inflação de 2,04%. As altas mais significativas foram verificadas para o Leite fermentado (4,68%) e para o Requeijão (4,11%). O Leite longa vida apresentou alta de 0,71%, e foi o item com o menor aumento no período, considerando que todos os itens pesquisados apresentaram aumento. A maior parte da captação de leite foi realizada por estabelecimentos que receberam mais de 150 mil litros por dia, responsáveis por 66,9% do volume captado no 1º trimestre de 2025 (Tabela I.13).

No 1º trimestre de 2025, participaram da Pesquisa Trimestral do Leite 1 920
estabelecimentos, 625 (32,6%) registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF), 855 (44,5%) no Serviço de Inspeção Estadual (SIE) e 440 (22,9%) no Serviço de Inspeção Municipal (SIM), respondendo, respectivamente, por 86,8%, 11,3% e 1,9% do total de leite captado. O Estado do Amapá foi a única Unidade da Federação a não participar da Pesquisa, por não apresentar estabelecimento elegível ao universo investigado. (As informações são do IBGE)


Menos gordura, mais proteína: o novo rumo dos laticínios

A onda do GLP-1 altera preferências: menos laticínios gordurosos e adoçados, mais foco em proteínas puras como leite desnatado e whey. 

Enquanto a obesidade domina as manchetes, uma onda mais sutil está redesenhando o cenário dos laticínios. Os medicamentos com GLP-1, originalmente desenvolvidos para o controle do diabetes, ganharam destaque como catalisadores da perda de peso. Com 40% da população mundial com sobrepeso ou obesidade — quase o dobro da população subnutrida —, os sistemas de saúde estão sob pressão. Esses medicamentos, que imitam o hormônio peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), reduzem o apetite ao aumentar a saciedade e desacelerar a digestão, com potencial para redefinir não apenas corpos, mas também os mercados alimentares — inclusive o de laticínios.

Uma pesquisa de 2023 indica que 15,5 milhões de adultos nos EUA utilizam essas injeções, com uma projeção de adoção de 9% até 2030. O mercado de GLP-1, atualmente avaliado em US$ 47 bilhões, pode crescer dez vezes até 2032 (Pharmaceutical Journal, 2024). Usuários reduzem a ingestão calórica diária em 20% (cerca de 800 kcal), preferindo proteínas magras em vez de alimentos gordurosos, salgados, açucarados ou processados. Para o setor lácteo, isso cria uma divisão clara: as proteínas puras ganham espaço, enquanto as guloseimas industrializadas perdem força.
A ascensão da proteína nos laticínios

Os usuários de GLP-1 não apenas comem menos — eles mudam suas preferências. Pesquisas de 2023 mostram uma queda no desejo por alimentos ricos, doces ou salgados, o que afeta laticínios processados como sorvetes, queijos intensos e iogurtes adoçados. Relatórios de varejo de outubro de 2023 apontam queda nas compras, com os produtos mais processados sendo os mais afetados (FoodNavigator, 2024). Um estudo canadense registrou uma redução de 30% na demanda por lanches lácteos doces, como leites saborizados e sobremesas. Já a proteína permanece em alta. Uma usuária dos medicamentos relatou ter trocado "besteiras" por iogurte natural e cottage.Essa mudança impulsiona um boom proteico nos laticínios. Leite, whey e caseína se encaixam nas dietas com GLP-1, evitando desconfortos digestivos como diarreia ou constipação, associados a alimentos gordurosos (The Economist, 2024).

Especialistas preveem aumento no consumo de laticínios com baixo teor de gordura e sem adição de açúcar, enquanto itens cremosos e processados — como molhos de queijo ou sobremesas congeladas — devem perder espaço. Um especialista em sistemas alimentares prevê uma tendência de “proteínas animais com menos gordura”, um território onde os laticínios podem dominar ao priorizar a pureza (EW Nutrition, 2024).

O declínio dos laticínios processados
Os medicamentos com GLP-1 representam uma ameaça para os bastiões processados dos laticínios. Projeções sugerem uma queda de 4% nos EUA no consumo de bebidas açucaradas, lanches salgados e alimentos gordurosos até 2035, impactando produtos lácteos como milkshakes e molhos cremosos. Dados mostram que os usuários evitam laticínios com alto teor de gordura, sal e açúcar, refinando seus paladares (FoodNavigator, 2024). Para uma indústria que há muito se apoia em produtos indulgentes, como cafés cremosos aromatizados, isso sinaliza uma mudança. Enquanto algumas empresas já se adaptam com opções mais “amigáveis ao GLP-1”, outras ainda resistem — arriscando-se a perder relevância à medida que os hábitos dos consumidores evoluem.

Os produtores também sentirão os efeitos. A demanda reduzida por leite rico em gordura pode direcionar a genética do rebanho para produções mais proteicas do que voltadas ao teor de gordura. Analistas sugerem que áreas hoje dedicadas ao cultivo de ingredientes para produtos adoçados (como açúcar para iogurtes) possam ser redirecionadas para culturas que melhorem o rendimento proteico do leite (The Economist, 2024). Ainda assim, a proteína animal — incluindo o leite — deverá sofrer disrupções mais brandas do que os setores de lanches e bebidas, com previsão de queda de apenas 0,5 a 1% na produção ao longo de uma década.

Dinâmica econômica e de mercado
O setor de laticínios está em um ponto de inflexão. A redução de 20% na ingestão calórica geral pode encolher as vendas de alimentos, mas a ascensão da proteína oferece estabilidade. Dados de varejo de 2023 relacionam o uso de GLP-1 à queda nas vendas de snacks, enquanto laticínios simples e suplementos proteicos seguem estáveis (CBC News, 2024). Se 9% dos americanos — frequentemente os primeiros a aderirem a novas tendências — adotarem GLP-1 até 2030, sua preferência por proteínas lácteas magras pode remodelar o mercado e as prateleiras. Líderes do setor defendem cortes de açúcar e revisão de porções, promovendo uma transição para produtos mais simples (Tilley Distribution, 2024).

O custo ainda é um obstáculo. Os preços elevados dos medicamentos GLP-1 limitam o acesso, favorecendo consumidores mais ricos. Pesquisas indicam que seria necessário um corte de 85% no preço para tornar o uso amplamente acessível — até lá, os laticínios proteicos de alta qualidade lideram o movimento (The Economist, 2024). A demanda crescente por perda de peso também pode empurrar o setor para valorizar mais o leite in natura e menos o processamento industrial.

O próximo capítulo dos laticínios
Os medicamentos com GLP-1 estão redesenhando o panorama dos laticínios. Proteínas puras como leite desnatado e whey têm enorme potencial, enquanto produtos gordurosos, processados ou adoçados enfrentam desafios.

Empresas que investirem em produtos centrados na proteína poderão liderar esse novo ciclo; quem ficar para trás, corre o risco de desaparecer. Os produtores devem focar em rendimentos mais magros. Essa mudança, segundo um especialista, “terá um impacto profundo” nos sistemas alimentares (The Economist, 2024). O setor de laticínios pode aproveitar o embalo das proteínas — ou ver seus lucros com produtos processados minguarem.

As informações são do Dairy Herd Management, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint

Escala produtiva no leite: Brasil segue os passos da Argentina?

Com a expansão das grandes fazendas e alta produtividade, o Brasil dá sinais claros de seguir os passos da Argentina na concentração da produção leiteira.

O Milkpoint divulga anualmente a lista das cem maiores propriedades produtoras de leite no país, no relatório dos Top 100. Cada edição desta pesquisa mostra o aumento paulatino da participação dessas maiores fazendas no total de leite produzido no Brasil. A última estatística, referente ao ano de 2024, mostra que 4,7% do leite inspecionado produzido no país veio destas propriedades. Esta métrica é interessante, pois permite avaliar até que ponto o Brasil evolui sua estrutura produtiva para se igualar aos países mais competitivos na produção de leite, onde é forte o aumento da escala de produção das propriedades.

A Argentina, por exemplo, produziu em 2024, 29 milhões de litros/ dia, pouco mais de 30% da produção diária brasileira. No país latino o total de propriedades produtoras de leite era de apenas 9.407 em 2024, com produção média de 3.076 litros/ dia por fazenda.
Se para o Brasil como um todo, o peso destas cem maiores fazendas ainda não é muito elevado, há fortes diferenças regionais a serem analisadas. Utilizando os dados do IBGE, disponíveis para cada município brasileiro para o ano de 2023, o Centro de Inteligência do Leite (CILeite) da Embrapa Gado de Leite definiu as 15 bacias leiteiras do país, onde há forte concentração da produção e da inovação tecnológica do leite. Confrontando os dados destas cem maiores fazendas, que produziram entre 13.771 e 96.688 litros/ dia em 2023, pode-se avaliar o impacto desta concentração e aumento de volume nas diferentes bacias leiteiras brasileiras (Figura 1).

Figura 1 - Bacias leiteiras brasileiras

                                   
Fonte: Cileite-Embrapa e IBGE (2025).

Em 2023, 74% destas 100 maiores propriedades brasileiras se localizavam em alguma das bacias leiteiras definidas, mostrando que é nestas menores áreas de maior dinamismo da atividade leiteira brasileira que estão surgindo fazendas de elevada escala de operação. Mais da metade destas 100 maiores unidades de produção do país se encontram em apenas duas bacias. 33% das propriedades se encontram na Bacia do Sudeste e 22% no Leste Paranaense. A Bacia do Sul engloba 9% das propriedades e Goiás, 4% (Figura 2).

Figura 2 - Distribuição dos 100 maiores produtores de leite do Brasil pelas diferentes bacias leiteiras brasileiras, 2023, valores expressos em porcentagem.

Fonte: CILeite-Embrapa e MilkPoint (2025).

O impacto das grandes fazendas nas principais bacias leiteiras do Brasil
Será que, em alguma destas 15 bacias, o volume produzido é expressivo, afetando já a cadeia de suprimento de leite regional? A resposta é sim. A Bacia do Leste Paranaense, que já produz 2,6 milhões de litros de leite/ dia possui mais de 0,6 milhão, ou 24,2% do leite ofertado por alguma das cem maiores fazendas de leite do país. É uma medida muito expressiva, considerando que neste grupo só há produtores com mais de 13 mil litros/ dia.

Na Argentina, por exemplo, em fevereiro de 2025, 26,8% da produção nacional veio de propriedades com produção acima de 10 mil litros/ dia. É possível que a porcentagem para 13 mil litros/ dia no nosso vizinho do Mercosul seja abaixo do observado nesta importante bacia leiteira do estado do Paraná. Outras bacias também apresentam números expressivos.

No Sudeste Paranaense, 13,4% da produção advém das cem maiores propriedades e no Triângulo Mineiro, 8,0%. É interessante observar que, na principal bacia brasileira, a do Sul, que produz mais de 22,2 milhões de litros/ dia, a contribuição das cem maiores fazendas neste total é de apenas 0,8%, indicando uma estrutura fundiária relativamente mais fragmentada. A Bacia do Sudeste, que produz 16,7 milhões de litros/ dia, possui 0,9 milhão de litros/ dia advindos das cem maiores, 5,4% da sua produção, mostrando que o processo de surgimento de grandes fazendas leiteiras também ocorre nas bacias de maior volume de produção, mas de maneira desuniforme (Figura 3).

Figura 3 - Participação dos 100 maiores produtores de leite do Brasil na produção total de diferentes bacias leiteiras brasileiras, 2023, valores expressos em porcentagem.

Fonte: Cileite -Embrapa e MilkPoint (2025).

A análise da distribuição das cem maiores fazendas produtoras de leite nas quinze bacias leiteiras identificadas pelo CILeite-Embrapa no Brasil mostra diferença significativas na distribuição espacial destas fazendas e dos seus impactos:

No Sul e no Nordeste, o impacto destas grandes fazendas ainda é limitado na oferta total.
No Sudeste, no Triângulo Mineiro e em Goiás, estas propriedades já impactam a oferta de leite.

Nas bacias do estado do Paraná, Leste Paranaense e Sudeste Paranaense esta contribuição é mais expressiva, mostrando um processo de expansão contínuo no tamanho médio das fazendas. Nesta primeira bacia, que engloba importantes municípios como Castro, Carambeí e Arapoti, já há uma concentração de grandes fazendas maior que a observada na Argentina. Esta bacia, que possui a mais elevada produtividade de leite por vaca do país, exibe este importante ganho de escala e competitividade.

As informações são do Milkpoint editadas pelo Sindilat


Jogo Rápido
As exportações de lácteos do Uruguai caíram 10%
As divisas geradas com as exportações de produtos lácteos foram de US$ 66 milhões, em maio. Representou queda de 10%, em dólares, na comparação interanual e redução de 20 para 17 mil toneladas. O principal produto exportado foi o leite em pó integral, que gerou US$ 54 milhões em divisas, e representou 82% do valor total de lácteos embarcados. De acordo com o boletim de maio do Uruguai XXI, houve recuo tanto em valor como em volume. Depois vieram os queijos, com faturamento de US$ 7 milhões, as manteigas com US$ 3 milhões e por último soro de leite e outros produtos lácteos. A Argélia encabeçou os destinos comprando US$ 25 milhões, seguida pelo Brasil com US$ 21 milhões. Também ocuparam posições de destaque Chile, Argentina, México e Panamá. Fonte: Blasina y Asociados – Tradução livre: www.terraviva.com.br


 
 
 

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