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23/12/2025

Newsletter Sindilat_RS

Porto Alegre, 23 de dezembro de 2025                                                 Ano 19 - N° 4.541


Setor lácteo recebe apoio, mas cobra pacote de impacto imediato

Acompanhando o anúncio do pacote de apoio pela Conab nesta terça-feira (23/12), o setor lácteo comemorou a ajuda de R$ 104 milhões para sete estados, mas alertou para a necessidade de um consórcio de ações com impacto imediato e mais expressivo, capaz de reverter a crise da atividade. No pacotão demandado pelas indústrias, cooperativas e produtores está uma série de medidas, como a adoção de uma política de benefício tributário para empresas de alimentos que usam o leite em pó nacional, adoção de sobretaxa de 50% para a entrada de leite em pó, manteiga, soro e muçarela vindos da Argentina e do Uruguai e suspensão emergencial das compras de produtos do Mercosul por seis meses. O pedido ainda inclui uma sobretaxa extra e provisória do produto vindo desses dois países até que a investigação de antidumping em curso no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) seja concluída.

Durante reunião na manhã desta terça, o presidente da Conab, Edegar Pretto, detalhou como a companhia fará a compra de leite em pó por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O aporte de R$ 104 milhões dará prioridade aos pequenos produtores e o produto adquirido será destinado a famílias em vulnerabilidade. No entanto, alertou o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, o rateio do volume entre os estados causa disparidade, uma vez que nem todos estão sujeitos as mesmas condições de enfrentamento, como o Sul do Brasil. A estimativa é que o Rio Grande do Sul fique com 44% do aporte, o suficiente para escoar menos de 2 mil toneladas. “O volume está muito aquém do que o setor necessita neste momento”, alegou Palharini. 

Palharini avaliou que, por mais que seja um excelente anúncio, o volume é insuficiente para a adoção de medidas de impacto imediato. “O setor vem há meses com problema de rentabilidade. Todas as medidas são bem-vindas, mas os governos precisam entender a urgência do momento”, salientou. O executivo reforçou que a crise de oferta excessiva que vive hoje o mercado brasileiro decorre do excedente de importações, movimento feito por indústrias alimentícias que usam o leite em pó na composição de seus produtos, como fábricas de chocolates, pães e biscoitos.  “Esse leite importado está sendo utilizado na produção de biscoitos, chocolates e alimentos processados, um produto que, anteriormente, era adquirido de empresas e produtores brasileiros”, ponderou.

Presente na reunião, o secretário de Agricultura, Edivilson Brum destacou os anúncios já feitos em socorro ao setor. “É fundamental que a gente tenha noção da importância da bacia leiteira do Rio Grande do Sul, motivo pelo qual esta é uma notícia muito boa”, disse Brum, lembrando que o governo do Estado também fará uma compra, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural e da Secretaria de Desenvolvimento Social. “Isso ajuda e muito a bacia leiteira, mas o ideal seria se pudéssemos abrir mercado internacional para exportação do leite. Essa sim seria uma notícia incrível e tenho convicção de que todos nós comungamos do mesmo sentimento de que esse caminho é fundamental para o fortalecimento da economia gaúcha.” (Assessoria de comunicação do Sindilat/RS)


Embrapa lança protocolos para reduzir emissões na pecuária leiteira

Novas diretrizes ajudam produtores de leite a reduzir emissões sem comprometer a eficiência produtiva.

A produção de leite no Brasil acaba de ganhar um conjunto de ferramentas estratégicas para enfrentar um dos maiores desafios do agro contemporâneo, a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A Embrapa desenvolveu três protocolos técnicos que atuam diretamente nos principais pontos de geração de emissões da atividade leiteira, ao mesmo tempo em que estimulam o sequestro de carbono no solo.

Os protocolos reúnem boas práticas para a mitigação da emissão de metano pelos bovinos, para a redução da emissão de amônia e óxido nitroso no solo e para o manejo do solo com foco no acúmulo de carbono. As diretrizes integram uma publicação lançada pela Embrapa Pecuária Sudeste e são resultado de anos de pesquisa científica aplicada.

As recomendações abrangem desde o manejo dos animais até a gestão do solo e do uso de fertilizantes, com foco em eficiência produtiva, sustentabilidade ambiental e viabilidade econômica para o produtor rural.

Segundo estimativas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, com base em dados de 2022, o setor agropecuário responde por 30,5% das emissões brasileiras de GEE. Desse total, 19% correspondem ao metano, um gás com elevado potencial de aquecimento global. Do volume emitido, 97% têm origem nos bovinos, sendo 86% provenientes do rebanho de corte e 11% da pecuária leiteira.

Diante desse cenário, a pesquisadora Patrícia Perondi Anchão Oliveira, da Embrapa Pecuária Sudeste, destaca que a atividade leiteira já enfrenta desafios produtivos e econômicos relevantes. Segundo ela, a agenda climática passa a integrar a tomada de decisão nas propriedades, especialmente em um contexto de consumidores e mercados cada vez mais atentos à origem dos alimentos e ao impacto ambiental da produção.

Mitigação do metano começa no manejo do rebanho

O primeiro protocolo reúne boas práticas voltadas à redução da emissão de metano pelos bovinos. Esse gás é liberado principalmente durante a digestão dos ruminantes, por meio da eructação, e está diretamente relacionado à eficiência produtiva dos animais.

Entre as estratégias recomendadas estão a melhoria dos índices zootécnicos, o ajuste nutricional das dietas, o uso de aditivos, o aprimoramento do manejo das pastagens, a oferta de água de qualidade, os cuidados com a sanidade e a promoção do bem-estar animal. Animais mais saudáveis e produtivos tendem a diluir melhor a emissão de metano por litro de leite produzido.

Estudos conduzidos pela Embrapa mostram diferenças significativas entre raças. Vacas holandesas puras mantidas em pastagens de alta qualidade emitem, em média, 18,4 gramas de metano por litro de leite, enquanto vacas girolandas chegam a 25,3 gramas por litro. A maior produtividade explica essa diferença.

Simulações realizadas com uma calculadora em desenvolvimento pela Embrapa indicaram que a adoção de índices reprodutivos inadequados pode elevar as emissões em até 22% por quilo de leite corrigido para gordura e proteína, reforçando a importância da gestão técnica do rebanho.

Solo bem manejado reduz perdas e emissões

O segundo protocolo foca na redução das emissões de amônia e óxido nitroso no solo, gases associados principalmente ao uso de fertilizantes nitrogenados e dejetos animais. O óxido nitroso apresenta potencial de aquecimento global quase 300 vezes superior ao do dióxido de carbono e pode permanecer na atmosfera por mais de um século.

Entre as práticas recomendadas está o uso de leguminosas consorciadas com gramíneas, capazes de fixar nitrogênio biologicamente e reduzir a necessidade de fertilizantes químicos. A Embrapa estima que, para cada quilo de fertilizante evitado, deixam de ser emitidos 5,42 quilos de CO² apenas no processo de fabricação.

Outras medidas incluem a distribuição mais uniforme dos dejetos animais, a adoção de sistemas de lotação rotativa, o uso de fertilizantes de eficiência aumentada e a aplicação de técnicas que reduzem a volatilização da ureia, como a incorporação ao solo e a aplicação antes de chuvas ou irrigação.

Sequestro de carbono fortalece a sustentabilidade

O terceiro protocolo aborda o manejo do solo para o acúmulo de carbono, elemento central nas estratégias de mitigação das mudanças climáticas. Práticas conservacionistas, como plantio direto, adubação verde, recuperação de pastagens, sistemas integrados e uso de bioinsumos, contribuem para o aumento do estoque de carbono no solo por longos períodos.

Pastagens tropicais bem manejadas apresentam elevado potencial de sequestro, com acúmulo de carbono em profundidades superiores a um metro. Em sistemas integrados com árvores, esse efeito é ampliado. De acordo com a Embrapa, o crescimento de 52 eucaliptos pode compensar, em um ano, a emissão de uma vaca produzindo 26 quilos de leite por dia.

Para o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre Berndt, o principal entrave à adoção dessas práticas ainda é o investimento inicial. No entanto, ele ressalta que o aumento da eficiência produtiva e da rentabilidade ao longo do tempo tende a viabilizar novos aportes tecnológicos.

Políticas públicas, como o Plano ABC+, além de arranjos locais envolvendo cooperativas e indústrias de laticínios, são apontadas como fundamentais para acelerar a transição rumo a uma pecuária leiteira mais sustentável.

As diretrizes estão reunidas no livro Protocolos de boas práticas para a mitigação de gases de efeito estufa em sistemas de produção de bovinos, lançado em novembro de 2025. A obra apresenta protocolos especialmente voltados a produtores de leite interessados em descarbonizar suas propriedades em condições tropicais. (As informações são do Globo Rural)

Demanda global pressiona oferta de whey protein

Mesmo com excedente global de lácteos, a demanda aquecida por whey protein começa a gerar escassez, especialmente nos Estados Unidos, com reflexos diretos sobre o mercado europeu.

A proteína é hoje um dos ingredientes alimentares mais populares do mundo. O forte crescimento observado neste ano está ligado, em parte, à expansão dos alimentos funcionais e, para o próximo ano, a proteína é apontada como a principal tendência do setor de alimentos.

O whey protein acompanha esse movimento. O ingrediente é amplamente utilizado em alimentos funcionais — como barras, snacks e bebidas — além de suplementos, impulsionado pelo interesse crescente dos consumidores em ganho de massa muscular e melhoria da saúde.

De acordo com a consultoria Grand View Research, o mercado de whey protein deve crescer a uma taxa média anual de 7,7% entre 2025 e 2033.

Apesar do cenário global de excedente de lácteos, alguns mercados já começam a registrar escassez de whey. Essa situação está associada não apenas ao aumento da demanda, mas também a outra tendência relevante: o uso de medicamentos da classe GLP-1.

 
Por que falta whey no mercado?
Segundo Floor van der Horst, diretora global de marketing de nutrição esportiva e ativa da FrieslandCampina Ingredients, a forte demanda por whey protein, juntamente com a caseína, é uma das principais razões para a escassez do ingrediente.

Com o crescimento da procura, a segurança de abastecimento tornou-se uma preocupação central para a indústria, especialmente diante da atual limitação da oferta de whey. Recentemente, a FrieslandCampina Ingredients adquiriu a Wisconsin Whey Protein, produtora norte-americana de whey, com o objetivo de ampliar sua capacidade e atender às tendências de nutrição esportiva e ativa.

A avaliação é compartilhada pela empresa de ingredientes Prinova. Segundo Sebastian Rivas, gerente de vendas da companhia, a demanda por whey protein tem crescido de forma consistente nos últimos anos, impulsionada pela fortificação proteica em diversas categorias de alimentos. O uso do ingrediente já ultrapassa o segmento esportivo e alcança aplicações como cafeterias, onde bebidas como lattes com alto teor de proteína passaram a ser oferecidas por grandes redes.

Ao mesmo tempo, a produção não avançou no mesmo ritmo. O resultado é um cenário de demanda elevada, disponibilidade limitada e preços em alta.

GLP-1s pressionam ainda mais a oferta

A pressão sobre a oferta de whey tornou-se mais evidente neste momento principalmente por causa do mercado norte-americano. De acordo com Jasper Endlich, analista de mercado de lácteos da empresa Vesper, o whey protein isolado e concentrado dos Estados Unidos está praticamente indisponível, com fornecedores já comprometidos com vendas até 2026. Os preços do whey protein isolado atingiram níveis recordes.

Parte dessa escassez está relacionada ao uso crescente de medicamentos da classe GLP-1. Nos Estados Unidos, o whey costuma ser recomendado em conjunto com esses medicamentos. Considerando que cerca de 12% dos consumidores norte-americanos utilizam GLP-1s, a demanda por whey protein aumentou de forma significativa. Embora os fabricantes estejam tentando ampliar a produção, o ritmo não tem sido suficiente para acompanhar a procura.

Diante desse cenário, compradores que buscam whey protein passaram a direcionar suas compras para a Europa. Importadores chineses estão migrando do mercado norte-americano para o europeu, e os próprios compradores europeus também têm priorizado fornecedores locais. Embora esse movimento favoreça a Europa, ainda há incertezas sobre a capacidade do mercado europeu de atender à demanda global. Assim como nos Estados Unidos, os preços do whey protein isolado na Europa também seguem sob pressão de alta. (As informações são do FoodNavigator Europe)


Jogo Rápido
CEPEA: O Boletim do Leite de dezembro já está disponível!
Pesquisas do Cepea mostram que o preço do leite ao produtor em outubro fechou a R$ 2,2996/litro na Média Brasil, recuos de 5,9% frente a setembro e de 21,7% em um ano, em termos reais (deflacionamento pelo IPCA de outubro/25). Esta é a sétima baixa mensal consecutiva nas cotações do leite no campo e, apesar da consistente desvalorização real de 14,1% no acumulado de 2025, o excesso de oferta ainda sustenta a expectativa de agentes de mercado de que o movimento de queda deve persistir até o final do ano. Assim como já esperado por agentes de mercado, os preços dos derivados lácteos caíram em novembro, conforme aponta levantamento realizado pelo Cepea, com apoio da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). O aumento na captação de matéria-prima e o enfraquecimento da demanda foram os fatores que causaram pressão sobre as cotações dos derivados lácteos. Trata-se do terceiro mês consecutivo de desvalorização. As importações de lácteos diminuíram quase 15% de outubro para novembro, totalizando 182,98 milhões de litros em equivalente leite (Eql). As exportações, por sua vez, cresceram 8,57% no mesmo período, somando 4,94 milhões de litros Eql. Na comparação com novembro de 2024, as importações caíram 12,69%, ao passo que as exportações avançaram 1,25%. O mês de novembro voltou a registrar alta no Custo Operacional Efetivo (COE), com elevação de 0,22% na média Brasil. Apesar de uma nova retração no preço da ração, os demais grupos de insumos apresentaram aumento, influenciando o avanço no COE. Entre as praças acompanhadas pelo Cepea, observou-se comportamento heterogêneo: houve elevação dos custos na BA (+0,08%), GO (+0,67%), MG (+0,26%), PR (+0,07%) e RS (+0,92%). Por outro lado, SC (-0,07%) e SP (-0,67%) registraram quedas. (CEPEA)