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09/12/2025

Newsletter Sindilat_RS

Porto Alegre, 09 de dezembro de 2025                                                 Ano 19 - N° 4.531


As principais tendências para o setor lácteo em 2026

Funcionalidade, indulgência consciente e transparência: descubra como esses conceitos vão definir o futuro dos lácteos em 2026.

Todo fim de ano, eu faço um mapeamento das tendências para o próximo ano a partir de uma análise integrada de diferentes fontes de informação, como revistas especializadas, relatórios de institutos de pesquisa governamentais e privados, além de conteúdos de plataformas e portais reconhecidos pela expertise em consumo e mercado alimentar. Este ano não foi diferente. Com esse panorama em mãos, compartilho as tendências que, na minha visão, devem marcar 2026.

Mas antes é preciso recordar o ano de 2025. Este ano foi marcado por um grande paradoxo no varejo alimentar, especialmente para bens de consumo de alto giro. Indicadores macroeconômicos tradicionalmente favoráveis, como o baixo desemprego e a inflação relativamente controlada, não se traduziram em aumento de volume de vendas, que caiu mês após mês. Essa queda no volume foi atribuída à grande cautela do consumidor, ao endividamento da população e, adicionalmente, a um ano mais frio do que o anterior, que impactou categorias de compra por impulso e sazonais. No Brasil, o calor impulsiona o consumo de categorias que geram muito tráfego no varejo, como as bebidas, por exemplo. Assim, um ano mais frio significa um ano com menos vendas dessas categorias.

Embora o valor total das vendas no varejo tenha crescido devido à inflação, o tíquete médio que o consumidor dispende em cada compra aumentou mais do que a inflação. Isso ocorreu principalmente pela mudança no mix de produtos, com buscas por premiumização, mas de forma seletiva. Itens que são unitariamente mais caros, como carnes, por exemplo, ganharam peso na cesta, enquanto itens mais baratos diminuíram sua proporção.

Essa cautela seletiva resultou em uma migração de consumo, onde categorias historicamente ligadas à indulgência tradicional (como chocolates e biscoitos) caíram, mas as categorias focadas em saúde, equilíbrio e performance cresceram muito, demonstrando que a indulgência se expandiu para um conceito mais amplo ligado ao autocuidado cresceram muito, demonstrando que a indulgência se expandiu para um conceito mais amplo ligado ao autocuidado.

Para 2026, a expectativa é que essas dinâmicas se consolidem e se acelerem, moldadas por uma busca contínua por valor, saúde e experiências autênticas. 

1. Funcionalidade elevada: A saúde continua sendo a principal prioridade para os consumidores. A mentalidade de se alimentar melhor e de forma mais saudável está se estabelecendo. A busca por benefícios preventivos e soluções específicas exige que a funcionalidade seja a base dos produtos lácteos. Uma novidade é que agora, o conceito de saúde se expande para o bem-estar integral, em uma visão mais holística, incluindo energia, sono, humor, estresse e saúde mental. Em um contexto de envelhecimento populacional e aumento dos casos de ansiedade e estresse, cresce a atenção à saúde mental como parte da alimentação funcional. Ingredientes como magnésio, triptofano e compostos bioativos ganham espaço, assim como o interesse por alimentos que promovam relaxamento, sono e equilíbrio emocional. O cenário é promissor para os lácteos funcionais, com avanço em fortificação de vitaminas e minerais, inclusão de probióticos voltados à saúde intestinal e desenvolvimento de compostos que apoiam funções como cognição e imunidade. Nesse contexto, o iogurte se destaca como uma das plataformas mais fortes para capturar esse movimento: além de ser versátil e amplamente aceito, é percebido como um alimento de impacto direto no bem-estar digestivo, e esse entendimento é global. Na China, por exemplo, 56% dos consumidores afirmam que o iogurte é um dos alimentos que mais auxilia a saúde intestinal, reforçando a oportunidade de posicioná-lo como veículo natural para benefícios funcionais e propostas de alto valor agregado. Com o aumento da familiaridade dos consumidores com o termo “alimento ultraprocessado”, cresce a busca por produtos percebidos como mais naturais, com baixo teor de açúcar e com o mínimo possível de processamento. Esse movimento fortalece categorias que conseguem entregar conveniência sem abrir mão da “limpeza” do rótulo. A tendência se evidencia no boom das opções zero açúcar: um comportamento já observado em 2025, quando, por exemplo, as vendas de energéticos zero açúcar cresceram 56%, segundo a Scanntech. Outro item que merece destaque é a proteína. Desde 2012 repito que a proteína seria a tendência da década. O curioso é perceber que, mais de dez anos depois, ela continua sendo, o que só reforça sua força como pilar do consumo moderno. Nunca se viu tantos lançamentos de produtos ricos em proteína. Pesquisa do IFF (2025) mostra que, pelo terceiro ano seguido, o consumo de alta proteína é a dieta mais seguida pelos americanos (23% da população em 2025). Como acontece com toda novidade que vira realmente tendência, o mercado de produtos proteicos, ou “proteinados”, saiu das lojas especializadas e se consolidou como mainstream nos corredores dos supermercados, tendo mais do que dobrado as vendas em 2025 (Scanntech, 2025). A ascensão de medicamentos inibidores de apetite (GLP-1s) reforça a oportunidade para lácteos fornecerem opções compactas e densas em nutrientes, especialmente com alto teor de proteína, para gerenciar o apetite reduzido e promover saciedade.

2. Indulgência consciente: Os consumidores estão buscando ativamente "nutrição emocional" por meio de indulgência, nostalgia e prazer, e não querem mais escolher entre saúde e felicidade. Eles esperam que os lácteos entreguem ambos, buscando uma harmonia prazerosa. Essa demanda por experiências ricas, indulgentes e, ao mesmo tempo, guilt-free impulsiona a inovação. Um exemplo concreto dessa busca por indulgência sem culpa é o "morango do amor", um doce que viralizou combinando frutas com iogurte e chocolate, oferecendo um tratamento doce com um toque nutritivo. Para o setor lácteo, isso significa oferecer produtos que equilibram sabor e saúde, como iogurtes de alta proteína e queijos que servem como snacks premium e ao mesmo tempo como melhoradores de humor. É isso mesmo, a ciência mostra que o consumo de queijo pode melhorar o humor e uma pesquisa recente identificou que 45% dos consumidores na China já comem queijo para melhorar o humor. A inovação de sabor é crucial, impulsionada pela Geração Z e Millennials que buscam perfis novos e distintos. O pistache, por exemplo, é um sabor que veio para ficar. Apesar do boom dos últimos anos, o sabor ainda está em franco crescimento na Europa em iogurtes e sobremesas, oferecendo um perfil rico, textura cremosa e ainda sendo fonte de proteína e fibra, se alinhando bem a essa tendência de indulgência consciente. Embora os sabores clássicos forneçam conforto, há espaço para sabores ousados e edições limitadas, como queijos com especiarias exóticas. A nostalgia também é uma forte alavanca, com o resgate de produtos e campanhas clássicas para se reconectar com o passado e unir gerações.

3. Transparência regenerativa: A crise ambiental é uma preocupação quase unânime, com 80% dos consumidores acreditando em uma catástrofe ecológica se os hábitos não mudarem. Nesse cenário, ocorre uma mudança profunda na relação entre consumidores e marcas: sustentabilidade deixou de ser um diferencial (green premium) e tornou-se uma expectativa básica. As pessoas não querem pagar mais por práticas ambientalmente éticas. Elas esperam que as empresas já operem de forma responsável e tornem mais fácil "fazer o bem". Isso transforma sustentabilidade em “higiene operacional”: algo que deve estar incorporado ao funcionamento do negócio, e não apenas à narrativa publicitária. Com isso, cresce a exigência por transparência na cadeia produtiva e por rastreabilidade, permitindo que o consumidor entenda a origem do leite, o manejo dos animais no campo e o impacto ambiental real da produção. A indústria láctea precisa avançar do discurso de “reduzir danos” para a lógica da regeneração, que busca restaurar ecossistemas, melhorar o solo, fortalecer a biodiversidade e promover práticas agrícolas que devolvam mais do que retiram. Nesse contexto, o bem-estar animal emerge como o critério mais relevante na decisão de compra de lácteos, superando, inclusive, a rotulagem de carbono e tornando-se um ponto sensível de confiança. Há ainda um fator crucial: o consumidor confia mais nas informações vindas do produtor do que nas das grandes corporações. Isso cria uma janela estratégica para o produtor brasileiro mostrar seu dia a dia, evidenciar manejo, práticas de bem-estar animal e ações regenerativas, fortalecendo o vínculo direto com o público e a percepção de autenticidade. Paralelamente, pesquisas como as da Ipsos indicam que uma parcela crescente de consumidores questiona se a globalização, de fato, traz benefícios, o que tem impulsionado a valorização do local, do regional e do autêntico. Essa mudança reforça o apelo do terroir, especialmente em categorias como os queijos artesanais, onde a história, a região e a identidade produtiva agregam significado e justificam escolhas mais intencionais. Apesar dessa forte orientação por valores socioambientais, o preço continua sendo determinante em um contexto de renda pressionada. Assim, o desafio do setor lácteo em 2026 é equilibrar custo, propósito e transparência: tornar práticas sustentáveis parte natural da operação, comunicar com clareza e produzir de forma regenerativa, sem repassar todo o impacto econômico ao consumidor.

4. Consumo seletivo: O alto custo de vida e a cautela do consumidor levam à intensificação dos movimentos de trade down e trade up seletivos. Trade Down: acontece em categorias básicas onde há pouca diferenciação percebida, com consumidores migrando para opções mais econômicas. Exemplos incluem leite UHT, que já está comoditizado, e creme de leite. Trade Up: ocorre em categorias que se relacionam com nutrição, performance, estética, saúde e prazer consciente. O consumidor está disposto a pagar mais por produtos premium em categorias que percebe um valor agregado significativo, como a bebida láctea com alto teor de proteína.

5. Lácteos do futuro: No desenvolvimento de produtos, a inovação high tech avança em duas frentes principais: nutrição híbrida e alternativas de menor impacto ambiental. Uma das grandes novidades é a fermentação de precisão e agricultura celular: estas tecnologias estão na vanguarda da inovação, produzindo proteínas lácteas reais (caseína e whey) sem o uso de animais. Grandes investimentos têm sido feitos neste sentido visando à redução do impacto ambiental. Dados da UnReal Milk da Brown Foods indicam que há redução das emissões de carbono em 82% em comparação com o leite convencional.

Para finalizar, as tendências indicam que 2026 será um ano para o setor lácteo focar na inovação com propósito. O sucesso dependerá da capacidade de oferecer produtos que sejam saborosos, nutritivos e que se alinhem aos valores do consumidor. O setor deve usar o leite, um produto naturalmente nobre, como porta-voz do território, da saúde e dos valores familiares em um mundo que busca reconexão e confiança. O desafio é encontrar o equilíbrio entre a necessidade de manter o preço acessível para a maior parte da população brasileira e as exigências de sustentabilidade e inovação para nichos de mercado. Em última análise, o setor de lácteos deve se posicionar como um aliado do bem-estar em todas as fases da vida, oferecendo um produto que seja saboroso, acessível, sustentável e conveniente. (Milkpoint adaptado pelo Sindilat/RS)


Conseleite Minas Gerais
 

As informações são do Conseleite MG

Nutrição esportiva: Músculos e… doce de leite? A tendência que cresceu nas academias

Consumido com estratégia, o doce de leite virou aliado de quem busca energia rápida para treinos intensos, segundo nutricionistas que acompanham o movimento nas academias.

O doce de leite deixou de ser apenas um prazer da mesa brasileira para assumir um papel improvável nas academias.

A mudança, apontam nutricionistas esportivos ouvidos por eDairyNews Brasil, não aconteceu por acaso: o tradicional doce ganhou espaço como uma fonte rápida de energia para quem treina forte e precisa de reposição imediata de glicogênio.

Durante décadas, o doce de leite carregou a fama de inimigo das dietas, principalmente pela combinação de açúcar e gordura. Mas especialistas explicam que rotular alimentos de forma permanente costuma ser um erro — e que o contexto alimentar pesa mais do que o alimento isolado. No caso desse clássico da confeitaria nacional, o segredo está justamente no uso pontual e estratégico, algo que muitos praticantes de musculação vêm adotando com naturalidade.

O argumento técnico por trás dessa tendência se apoia no papel essencial dos carboidratos no desempenho físico. O doce de leite é rico nesse nutriente, responsável por reabastecer o glicogênio muscular — combustível usado nos treinos de força, séries mais longas ou exercícios de alta intensidade. Profissionais de nutrição esportiva relatam que a energia liberada é rápida, o que ajuda a manter o rendimento, reduzir a fadiga e acelerar processos de recuperação quando consumido no pré ou no pós-treino.

Além da função energética, há um fator bem brasileiro influenciando a escolha: a praticidade. Ao contrário de suplementos esportivos, geralmente mais caros e nem sempre disponíveis fora das lojas especializadas, o doce de leite é acessível, está presente na rotina de consumo de grande parte da população e se encaixa facilmente em lanches rápidos. Para quem treina cedo, trabalha em horário apertado ou busca opções simples, isso vira diferencial.

Nutricionistas, contudo, fazem questão de reforçar que a tendência não significa liberação geral. Exageros podem aumentar o acúmulo de gordura corporal e atrapalhar metas de composição física. O uso recomendado é pontual, sempre dentro de uma dieta equilibrada que inclua proteínas de qualidade, vitaminas, minerais e fibras. O doce, destacam, não ocupa o lugar de alimentos com função construtiva, como carnes, ovos, iogurtes ou suplementos proteicos.

A regra apresentada pelos especialistas é clara: o doce de leite pode ser um aliado eventual, mas não deve virar protagonista. A escolha faz sentido apenas em situações específicas, como antes de treinos de força mais pesados, ou logo após sessões que exigiram muita energia. Para quem busca ganho de massa muscular, a combinação ideal envolve carboidratos de rápida absorção e proteínas, garantindo que o corpo tenha tanto energia quanto material para reconstruir fibras.

Relatos colhidos por profissionais também revelam outro motivo para a crescente adesão: o fator emocional. Inserir um alimento afetivo na rotina de treinos ajuda muitas pessoas a manterem constância e prazer na alimentação. Um pequeno porção de doce de leite antes de um treino pode ter impacto positivo na experiência geral, algo que especialistas em comportamento alimentar destacam como parte importante de qualquer dieta sustentável.

Nas academias, instrutores relatam que o tema vem surgindo com mais frequência em conversas informais. Alguns alunos carregam potinhos individuais na mochila e usam como “tiro curto” de energia. Outros preferem consumi-lo após a atividade, junto com uma fonte proteica. A popularidade também cresce nas redes sociais, onde influenciadores de nutrição esportiva mencionam o doce como opção acessível e de sabor familiar.

A febre, porém, não elimina a necessidade de orientação. Profissionais consultados reforçam que cada treino e cada organismo têm demandas diferentes. Quem treina para performance, quem busca emagrecimento e quem está no início da vida ativa têm necessidades nutricionais distintas. Por isso, inserir o doce de leite com propósito — e não por impulso — é a linha que separa benefício de prejuízo.

No fim das contas, a ascensão do doce de leite como aliado de treino reflete um movimento maior no universo das dietas: a busca por equilíbrio, flexibilidade e escolhas realistas. Se consumido no momento certo, na quantidade adequada e dentro de uma rotina alimentar organizada, ele pode sim colaborar com desempenho e motivação. E, para muitos brasileiros, nada mais motivador do que unir sabor, tradição e treino — sem culpa e com consciência.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de JETSS


Jogo Rápido
Milho/Cepea: Maior interesse comprador e retração vendedora mantêm preços em alta
Os preços do milho seguiram em alta no mercado interno na última semana, com o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP) se aproximando dos R$ 70/saca de 60 kg, patamar nominal verificado pela última vez em maio/25. Segundo levantamento do Cepea, o impulso veio sobretudo do maior interesse de compradores somado à retração de vendedores. Produtores estão focados na semeadura e atentos ao desenvolvimento da safra. Em algumas regiões, conforme o Centro de Pesquisas, agricultores estão preocupados com o clima quente e, em outras, com os impactos das chuvas de meados de novembro. Nesse contexto, agentes limitam os lotes disponibilizados no spot, à espera de novas valorizações. Do lado da demanda, pesquisadores do Cepea explicam que compradores buscam recompor os estoques para o final do ano e início do próximo, mas esbarram nos maiores preços pedidos por vendedores. Alguns compradores seguem afastados do spot, à espera de queda nas cotações, fundamentados na aproximação da colheita da safra verão, que deve levar produtores a liberar armazéns e/ou fazer caixa, no maior excedente interno e nas exportações em ritmo abaixo do esperado. (CEPEA)