Porto Alegre, 25 de novembro de 2025 Ano 19 - N° 4.521
O setor do leite precisa de medidas urgentes, afirma Guerra
“Amanhã já será tarde. Não tem tempo”, alertou Alexandre Guerra, 1º vice-presidente do Sindilat-RS, ao defender ações imediatas para conter a crise no leite. Na audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo (Cappc), ele pediu mobilização para que outros estados comprem do mercado nacional, como fez o Rio Grande do Sul ao destinar R$ 86,5 milhões para adquirir leite em pó. “Também é esperado que a União faça esse anúncio, mas todos os estados poderiam tomar o mesmo caminho de forma emergencial”, afirmou.
Para aliviar a pressão sobre o mercado, em um momento que combina supersafra e aumento das importações, Guerra reforçou outra pauta do sindicato: frear as entradas. “Como qualquer país que protege sua economia faria, se fosse adotado o processo manual para liberar licenças, já se colocaria um entrave forte a curto prazo”, disse durante a atividade realizada na segunda-feira (24/11) organizada pelo deputado estadual Zé Nunes, ao acrescentar a importância de ações de longo prazo para a proteção do mercado interno.
As medidas se somam ao conjunto defendido pelos Conseleites. Segundo Darlan Palharini, coordenador do Conselho gaúcho, que participou do debate no Parlamento gaúcho, elas incluem ainda a aplicação de sobretaxa de 50%, por 36 meses, na entrada de leite em pó, manteiga, soro de leite e queijo muçarela oriundos da Argentina e do Uruguai, e a suspensão, por 6 meses, da compra de produtos lácteos do Mercosul, para reequilibrar o mercado interno. (Sindilat)
CONSELHO PARITÁRIO PRODUTORES/INDÚSTRIAS DE LEITE DO ESTADO DO PARANÁ – CONSELEITE–PARANÁ
RESOLUÇÃO Nº 11/2025
A diretoria do Conseleite-Paraná reunida no dia 25 de novembro de 2025 na sede da FAEP na cidade de Curitiba, atendendo os dispositivos disciplinados no Capítulo II do Título II do seu Regulamento, aprova e divulga os valores de referência para a matéria-prima leite realizados em Outubro de 2025 e a projeção dos valores de referência para o mês de Novembro de 2025, calculados por metodologia definida pelo Conseleite-Paraná, a partir dos preços médios e do mix de comercialização dos derivados lácteos praticados pelas empresas participantes.
Os valores de referência indicados nesta resolução para a matéria-prima leite denominada “Leite Padrão”, se refere ao leite analisado que contém 3,50% de gordura, 3,10% de proteína, 500 mil células somáticas/ml e 300 mil ufc/ml de contagem bacteriana.
Para o leite pasteurizado o valor projetado para o mês de Novembro de 2025 é de R$ 4,1683/litro.
Visando apoiar políticas de pagamento da matéria-prima leite conforme a qualidade, o Conseleite-Paraná disponibiliza um simulador para o cálculo de valores de referência para o leite analisado em função de seus teores de gordura, proteína, contagem de células somáticas e contagem bacteriana. O simulador está disponível no seguinte endereço eletrônico: https://www.sistemafaep.org.br/conseleite-parana/ .
Tecnologia e sucessão familiar impulsionam a produção leiteira em Aratiba
Eliete Smaniotto cresceu no ambiente rural em Aratiba, no norte do Estado. Eram inúmeros animais a sua volta. Seus pais criavam aves, suínos e vacas de leite. Eliete acompanhava a rotina, ainda criança, se afeiçoando pelos bichos. Houve um tempo, no entanto, em que a família Smaniotto precisou escolher uma única atividade para dar sequência.
"Para a gente conseguir trabalhar com mais qualidade, porque tudo demanda muito tempo e mão de obra. Então, tivemos que optar por uma. E meus pais optaram pelas vacas de leite", conta.
Eliete nunca saiu de casa para trabalhar, sempre viveu a lida na propriedade. Assim, nasceu o amor pela produção leiteira. "Elas não são só animais e produção, a gente acabou criando um carinho. Meus pais também são apaixonados pelo que fazem, também têm um carinho muito grande. Então eu acho que foi um amor que foi passado de geração e que foi se criando ao longo do tempo".
Hoje, o rebanho conta com 140 animais, dos quais 61 são vacas em ordenha. Diariamente, elas produzem em média 2.700 litros de leite — aproximadamente 45 litros por vaca ao dia. Para isso, a ordenha é completamente robotizada, desde fevereiro de 2025.
A tecnologia ainda é rara, mas cada vez mais presente na ordenha dos estabelecimentos leiteiros. Segundo a Emater/RS-Ascar, em 2019, a robotização fazia parte de apenas 0,06% dos estabelecimentos. Em 2021, já eram 0,18%. Em 2023, 0,35%.
Na propriedade da família Smaniotto, o robô foi uma solução para suprir a falta de mão de obra. "Nós somos uma propriedade familiar. Eu, meu irmão mais novo e meus pais que trabalhamos. Então a gente sentou para decidir entre robotizar ou contratar mão de obra, contratar funcionários".
Ponderando os pontos positivos e negativos, a família optou pela robotização da ordenha. Eliete já conhecia a tecnologia. Comentava com os pais, mas era um sonho ainda distante, por conta do alto valor. "Na hora que fechamos o pedido foi um sonho realizado", relata.
Para que todo o sistema fosse implantado, foi necessário um investimento de aproximadamente R$ 1,5 milhão. A partir de então, toda a rotina da ordenha foi alterada. Antes, era necessário passar cinco ou seis horas, todos os dias, só para a ordenha. Hoje, o robô faz o serviço 24h por dia.
"Ele para um pouco para fazer as lavagens, porque ele faz três lavagens durante o dia. A vaca escolhe o momento que ela quer ordenhar, e a gente tem todo um controle reprodutivo no sistema do robô, controle de qualidade do leite, de produtividade, controle de sanidade do animal", descreve.
A robotização tem suprido a necessidade de mão de obra na propriedade. O equipamento comporta cerca de 65 vacas. "Então a gente está no limite, né? E caso a gente queira aumentar o plantel, aí a gente coloca um segundo robô".
Além disso, a família também tem planejado melhorias estruturais, como forma de lidar com as altas temperaturas e garantir uma melhor produtividade — sem esquecer do conforto para os animais.
"A gente pensa ainda que alguns anos fechar o barracão, climatizar, para que se mantenha uma temperatura boa para as vacas, porque a gente acaba sofrendo muito no verão, por ser muito quente, e as vacas precisam de uma temperatura mais baixa para produzir mais, para conforto térmico, bem-estar, e para manter a cama delas", esclarece.
Nesse sentido, a família tem debatido a possibilidade de mudar o atual sistema de confinamento, compost barn para free-stall: "justamente por manter a cama melhor porque no inverno é muito úmido e acaba ficando muito úmida a cama e no verão é muito quente", explica.
Eliete está no oitavo semestre do curso de veterinária. Hoje, dá sequência à sucessão familiar, mas quase tomou um rumo longe da atividade. "Até comecei a fazer cursinho para vestibular pensando em uma área totalmente diferente. Nas primeiras, eu cheguei para os meus pais desesperada, comecei a chorar porque eu não queria sair de casa, eu não queria fazer outra coisa, eu não me via mais sem estar ali. Meus pais sempre me apoiaram muito e nessa hora ainda mais", lembra.
A jovem produtora percebe a instabilidade do setor como um empecilho recorrente entre os produtores. Para isso, aposta na organização financeira.
"Tem meses que o preço está muito bom, tem meses que o preço está muito baixo. Então para não acabar desistindo, não acabar quebrando, a gente tem que ter uma organização muito grande".
Mesmo assim, ela vê muito mais benefícios na escolha pela sucessão familiar, para além da paixão pelos animais e pelo trabalho. "Eu, particularmente, acho que é uma coisa muito boa. Eu estou dando continuidade num negócio que é da minha família, então eu posso fazer os meus horários, eu posso fazer as coisas do jeito que eu quero, não tem ninguém me mandando. A gente tem uma liberdade muito maior, eu tenho uma liberdade muito grande em ajustar a minha rotina, em trabalhar do jeito que eu quero, em crescer quando eu quiser crescer e inovar quando eu quiser inovar", finaliza.
Jogo Rápido
Com o setor leiteiro em crise, o governo do rio grande do sul anunciou nesta semana a compra de cerca de 2,2 mil toneladas de leite em pó, em chamada pública publicada no Diário Oficial. Segundo o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, a medida chega em um momento decisivo e dá fôlego aos produtores gaúchos.Confira a entrevista completa clicando aqui. (Agro+ via youtube)