Porto Alegre, 16 de julho de 2025 Ano 19 - N° 4.437
Leite com mais qualidade e foco no bem-estar animal: robô utilizado na Serra ordenha vacas de forma autônoma
Produtor Tiago Baldasso, da Linha Doze, em Carlos Barbosa, tem dois equipamentos para 126 animais. Cooperado da Santa Clara há décadas, consegue produzir até 5 mil litros por dia com o maquinário
Há poucos anos, falar de tecnologia, uso de robôs e inteligência artificial era assunto apenas para aqueles que se dedicam a imaginar o futuro. Pois bem, esse momento chegou, ou melhor, está chegando. E, com isso, máquinas modernas e com foco no bem-estar animal são vistas também no campo, trazendo melhorias e benefícios aos produtores rurais.
É na localidade de Linha Doze, em Carlos Barbosa, que está uma das famílias de cooperados da Santa Clara, e que faz o uso da tecnologia diariamente na produção de leite. Tiago Baldasso, atualmente com 39 anos, é a terceira geração à frente do negócio, ao lado do primo Diego Carlos Baldasso. Tudo começou com o avô deles, ainda nos anos 1940, passou para os pais e tios em 1981, até chegar nos primos.
No passado, a família até focou por alguns anos no plantio de batatas, mas foi na produção de leite que encontraram o melhor caminho. Os pais de Tiago e Diego, além de outro tio deles, estão entre os primeiros a entrarem para a lista de produtores do antigo “leite b”, atual “seleção”, da Santa Clara.
— Na década de 1990 foi feita a sala de ordenha. Naquela época só tinham seis produtores que produziam o antigo "leite b", que hoje é o "leite seleção" da Santa Clara, e éramos um deles, isso foi em 1993. Em 1997, começamos a trabalhar com sistema free stall (técnica de alojamento utilizada na pecuária leiteira), e virou para os anos 2000 e fomos focando mais no ramo das vacas — explica Tiago Baldasso.
O primeiro contato do produtor com robôs no campo foi em 2014, quando outra propriedade da Serra implementou a tecnologia no dia a dia. Dali em diante, passou a estudar e buscar possibilidades para investir na propriedade, o que se concretizou em 2022, após anos de análise. O robô escolhido foi da Leli, marca holandesa que, conforme Baldasso, se encaixou na demanda. O investimento foi de cerca de R$ 1,8 milhão, sem contar a construção do galpão.
— Eu pude ver que realmente funciona, e funciona bem. Todos eles (outros modelos) têm a finalidade da ordenha e bem-estar, só que em alguns o bem-estar fica em segundo plano, e esse trabalha bem essa questão, primeiro pelo fluxo livre delas no galpão — diz.
Atualmente eles contam com dois robôs que fazem a ordenha de forma autônoma, instalados em um galpão com 126 vacas holandesas — considerada uma das melhores raças produtoras de leite. Os animais são divididos em duas alas, uma para as de primeira gestação, e outra para as com mais de uma. O sistema, que funciona 24 horas por dia, coleta aproximadamente 5 mil litros diários. Eles também têm outras 45 vacas em um sistema antigo, com produção estimada em mil litros por dia.
O mais interessante do processo todo é que a própria vaca decide a hora de ir para a ordenha. Elas podem ser liberadas para até seis ordenhas por dia conforme escala e necessidade do animal. Tudo isso é mensurado por um chip instalado em um colar no pescoço do animal, e que pode ser monitorado pelo produtor via aplicativo de celular. O robô também identifica se ela já cumpriu o intervalo para retornar ao processo, caso contrário, não autoriza uma nova coleta de leite.
O tempo de ordenha é relativo para cada animal, mas, em média, dura seis minutos. Enquanto esperam, elas têm alimentação disponível com silagem de milho, pasto pré-secado, ração, polpa cítrica do bagaço da laranja e bagaço de cevada. Quando entram no robô, recebem uma ração peletizada — quando a ração farelada é compactada — e ganha três quilos.
— Existem escalas que determinamos, e automaticamente o robô faz essa (mensuração). Todas estão cadastradas (no aplicativo), e elas vão se enquadrar dentro da escala na planilha, e é o robô mesmo que vai controlar a ordenha delas, ele faz automaticamente com as definições e dados que colocamos no programa.
Caso seja verificado sangramento no leite, o próprio equipamento faz o descarte do líquido. No entanto, Tiago pode cadastrar no aplicativo se algum dos animais estiver com problemas de saúde da vaca, como mastite — inflamação na mama —, e o robô faz o descarte. O produtor afirma que o equipamento melhorou a qualidade do leite:
— Primeiro porque não tem interferência humana, e o robô faz (o processo de ordenha) sempre igual, e o leite está sempre refrigerado, e quando tu vais ver a contagem bacteriana, é praticamente zero, não tem proliferação, porque o leite está sempre refrigerado.
Em busca da ampliação
Mesmo dividindo tarefas com o primo, o pai e os três tios, é Tiago quem faz o controle do robô e do aplicativo. O equipamento passa por manutenção técnica a cada quatro meses. No entanto, em caso de emergências, o produtor recebe uma ligação do sistema, e precisa correr para encontrar a solução.
— Ele acaba me prendendo 24 horas por dia, imagina tu ir dormir sabendo que o equipamento pode parar a qualquer momento, eu durmo com o celular debaixo do travesseiro, se ele me ligar, tenho que acordar, com o tempo quero fazer uma questão de escala para eu não precisar ficar sempre no compromisso. Mas durante o dia, no tempo que eu estaria ordenhando, eu posso estar fazendo outras coisas, ele te possibilita uma tranquilidade durante o dia, fora que tu tens todo o controle das vacas no celular — detalha.
Tiago pretende ampliar o número de robôs. O pavilhão onde as vacas ficam atualmente está pronto para receber mais dois maquinários do gênero. No entanto, ainda sem previsão de novidades:
— Vamos dividir todas as vacas em quatro robôs, e conforme os animais jovens vão vindo, vamos aumentando o plantel, até porque o robô proporciona mais conforto, muito menos lesão e muito menos mortes, automaticamente o rebanho vai aumentando mais rapidamente.
O mais interessante do processo todo é que a própria vaca decide a hora de ir para a ordenha. Elas podem ser liberadas para até seis ordenhas por dia conforme escala e necessidade do animal. Tudo isso é mensurado por um chip instalado em um colar no pescoço do animal, e que pode ser monitorado pelo produtor via aplicativo de celular. O robô também identifica se ela já cumpriu o intervalo para retornar ao processo, caso contrário, não autoriza uma nova coleta de leite.
O tempo de ordenha é relativo para cada animal, mas, em média, dura seis minutos. Enquanto esperam, elas têm alimentação disponível com silagem de milho, pasto pré-secado, ração, polpa cítrica do bagaço da laranja e bagaço de cevada. Quando entram no robô, recebem uma ração peletizada — quando a ração farelada é compactada — e ganha três quilos.
— Existem escalas que determinamos, e automaticamente o robô faz essa (mensuração). Todas estão cadastradas (no aplicativo), e elas vão se enquadrar dentro da escala na planilha, e é o robô mesmo que vai controlar a ordenha delas, ele faz automaticamente com as definições e dados que colocamos no programa.
Caso seja verificado sangramento no leite, o próprio equipamento faz o descarte do líquido. No entanto, Tiago pode cadastrar no aplicativo se algum dos animais estiver com problemas de saúde da vaca, como mastite — inflamação na mama —, e o robô faz o descarte. O produtor afirma que o equipamento melhorou a qualidade do leite:
— Primeiro porque não tem interferência humana, e o robô faz (o processo de ordenha) sempre igual, e o leite está sempre refrigerado, e quando tu vais ver a contagem bacteriana, é praticamente zero, não tem proliferação, porque o leite está sempre refrigerado.
Em busca da ampliação
Mesmo dividindo tarefas com o primo, o pai e os três tios, é Tiago quem faz o controle do robô e do aplicativo. O equipamento passa por manutenção técnica a cada quatro meses. No entanto, em caso de emergências, o produtor recebe uma ligação do sistema, e precisa correr para encontrar a solução.
— Ele acaba me prendendo 24 horas por dia, imagina tu ir dormir sabendo que o equipamento pode parar a qualquer momento, eu durmo com o celular debaixo do travesseiro, se ele me ligar, tenho que acordar, com o tempo quero fazer uma questão de escala para eu não precisar ficar sempre no compromisso. Mas durante o dia, no tempo que eu estaria ordenhando, eu posso estar fazendo outras coisas, ele te possibilita uma tranquilidade durante o dia, fora que tu tens todo o controle das vacas no celular — detalha.
Tiago pretende ampliar o número de robôs. O pavilhão onde as vacas ficam atualmente está pronto para receber mais dois maquinários do gênero. No entanto, ainda sem previsão de novidades:
— Vamos dividir todas as vacas em quatro robôs, e conforme os animais jovens vão vindo, vamos aumentando o plantel, até porque o robô proporciona mais conforto, muito menos lesão e muito menos mortes, automaticamente o rebanho vai aumentando mais rapidamente. (Zero Hora)
Indicadores Leite e Derivados - Julho/2025
O preço do leite ao produtor, cotado a R$ 2,64 por litro em maio de 2025 na média nacional, apresentou queda de 3,6% no mês e de 2,5% nos últimos 12 meses.
A relação de troca leite/mistura melhorou em maio/25 na comparação com o mês anterior e ficou pior que as observadas nos anos de 2023 e 2024. Foram necessários 31,8 litros de leite para aquisição de 60 kg de mistura.
No varejo, o preço médio da cesta de lácteos subiu 0,2% em junho/25, e no acumulado em 12 meses, alta de 3,5%, contrastando com a inflação brasileira de 5,4% no período, medida pelo IPCA. O leite condensado registrou a maior alta mensal, 1,1% e a manteiga a maior queda, -0,4%.
Fonte: Boletim Indicadores Leite e Derivados
Coordenação: Glauco R. Carvalho, Luiz A. Aguiar de Oliveira e Samuel J. M. Oliveira
Colaboração: Henrique Salles Terror e Caio Prado Villar de Azevedo. (Graduandos da UFJF). Centro de Inteligência do Leite: www.cileite.com.br / Embrapa Gado de Leite: www.embrapa.br/gado-de-leite
Mercado internacional: GDT 384 interrompe sequência de quedas no leite em pó
Leilão GDT registra leve alta após quatro quedas seguidas. Preços internacionais influenciam competitividade e importações no mercado lácteo brasileiro.
No 384º leilão da plataforma Global Dairy Trade (GDT), realizado nesta terça-feira, 15 de julho, o mercado apresentou certa estabilidade nos produtos comercializados, após quatro leilões indicando quedas nos preços. O preço médio dos produtos negociados ficou em US$4.380 por tonelada, refletindo uma melhora de 1,1% no GDT Price Index, em comparação com o evento anterior.
Gráfico 1. Preço médio leilão GDT
O preço do leite em pó integral (WMP), principal referência entre os derivados lácteos negociados na plataforma GDT, registrou alta de 1,7% no preço, sendo comercializado a US$3.928 por tonelada. Esse é o primeiro avanço, após quatro recuos consecutivos, sendo o último o mais agressivo entre eles. Apesar das quedas, esse leve avanço reforça os preços ainda acima dos patamares médios observados para o produto nos últimos anos. O preço do leite em pó desnatado também reverteu o quadro de quedas, com aumento de 2,5%, com média de US$2.785 por tonelada.
Gráfico 2. Preço médio LPI
A muçarela registrou a segunda queda consecutiva, ainda que em patamar leve. No segundo leilão de julho, a redução foi de 0,7%. Apesar disso, o produto ainda pode ser considerado estável, com variações equilibradas entre altas e baixas ao longo dos últimos eventos.
O queijo cheddar teve a maior queda deste leilão, com recuo de 5,6%. Essa foi a segunda baixa consecutiva do produto, acumulando retração de 8,4% nos dois últimos eventos. Ainda assim, os preços seguem próximos à média geral. A lactose também apresentou leve recuo de 1,5%, sendo negociada a US$1.355 por tonelada — uma leve queda de US$20 por tonelada em relação ao evento anterior.
A manteiga, que havia apresentado forte queda no leilão anterior, mostrou estabilidade neste evento, com o preço mantendo-se em US$7.492 por tonelada. A gordura anidra do leite registrou leve alta de 0,8%, sendo negociada a US$6.973 por tonelada.
A Tabela 1 apresenta os preços médios dos derivados ao fim do evento, assim como suas respectivas variações em relação ao leilão anterior.
Tabela 1. Preço e variação do índice dos produtos negociados no leilão GDT em 15/07/2025.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2025.
Volume negociado tem alta notável
O volume negociado no leilão mostrou certa estabilidade. Ao todo, foram comercializadas 24.290 toneladas, apesar da queda de 5,5%, o volume ainda é superior ao observado nos leilões realizados entre fevereiro e junho.
A tendência de aumento na oferta mundial tem refletido nos maiores volumes ofertados nos últimos eventos do GDT.
Gráfico 3. Volumes negociados nos eventos do leilão GDT.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2025.
Impacto nos contratos futuros
Os contratos futuros de leite em pó integral na Bolsa da Nova Zelândia (NZX Futures) apresentam melhora quando comparado ao último dia primeiro. Os preços para agosto, setembro e novembro aumentaram, e o de outubro se manteve estável.
Gráfico 4. Contratos futuros de leite em pó integral (NZX Futures).
Fonte: NZX Futures, elaborado pelo MilkPoint Mercado, 2025.
E como os resultados do leilão GDT afetam o mercado brasileiro?
A tendência de crescimento da produção global no segundo semestre tem aumentado a disponibilidade de produtos nos últimos eventos do GDT. Esse maior volume ofertado, somado à retração recente nos preços internacionais, contribui para manter os derivados lácteos em patamares mais baixos em comparação aos meses anteriores.
Essa combinação favorece a competitividade dos produtos exportados pelos principais parceiros comerciais do Brasil, como os países do Mercosul, o que tende impulsionar as importações brasileiras de lácteos nos próximos meses, especialmente no caso do leite em pó integral, que segue com preços atrativos no mercado externo.
No entanto, o cenário ainda deixa incertezas. As recentes tensões tarifárias no mercado internacional têm refletido diretamente na taxa de câmbio, o que pode limitar esse avanço das importações ao encarecer o produto colocado no mercado interno.
Assim, embora o atual nível de preços internacionais favoreça a entrada de derivados no Brasil, o câmbio permanece como variável crítica e deve ser monitorada de perto pelas indústrias e importadores nos próximos meses. (Milkpoint)
Jogo Rápido
SOJA/CEPEA: Cotações externas caem, mas seguem firmes no BR
Os valores externos da soja caíram na última semana, pressionados pelas condições climáticas favoráveis às lavouras de soja nos Estados Unidos e pelos estoques elevados no Brasil e na Argentina, avaliam pesquisadores do Cepea. Segundo o Centro de Pesquisas, a desvalorização internacional também foi intensificada pelas tarifas – recíprocas – impostas pelo governo norte-americano para diversos países, inclusive o Brasil, que passam a valer em 1º de agosto. Já no mercado doméstico, o movimento de baixa do início da semana passada foi interrompido. Isso porque, conforme explicam pesquisadores do Cepea, a tensão comercial entre os Estados Unidos e países importadores de grãos e a valorização do dólar frente ao Real tendem a redirecionar demandantes de soja norte-americana ao Brasil. (CEPEA via Terra Viva)