Porto Alegre, 14 de julho de 2025 Ano 19 - N° 4.435
Bovinocultura de leite: produtividade e qualidade impulsionam agricultura familiar no Estado
O Rio Grande do Sul produz cerca de 4 bilhões de litros de leite ao ano, o que confere ao Estado a terceira posição no ranking de produtores no Brasil. Participa com cerca de 11,6 % da produção nacional, referentes aos estabelecimentos produtores que comercializam leite para indústrias, cooperativas ou queijarias e aos que processam a produção em agroindústria própria legalizada.
Conforme o Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite no RS, elaborado pela Emater/RS-Ascar, que representa um panorama da atividade leiteira gaúcha, o rebanho é composto por 944,2 mil de vacas, formado, predominantemente, pelas raças Holandesa e Jersey, raças europeias que representam 96,3% do material genético utilizado nas propriedades.
A publicação de 2023 é a quinta edição de uma série iniciada há uma década e reeditada a cada dois anos, com o objetivo de disponibilizar informações organizadas e acessíveis para produtores de leite, indústrias de laticínios, entidades representativas do setor, instituições de ensino, pesquisa e assistência técnica, além dos poderes executivo e legislativo municipais e estaduais. O novo Relatório, a ser divulgado na Expointer, que ocorrerá de 30 de agosto a 7 de setembro de 2025, está em fase final e vai trazer o desempenho do setor nos últimos dois anos.
ATIVIDADE LEITEIRA E A ECONOMIA GAÚCHA
A bovinocultura de leite é uma atividade econômica importante para a agricultura familiar do Estado, estando presente em quase a sua totalidade (453 municípios), com destaque para a Região Noroeste. Conforme o Relatório, estima-se que a produção de leite do Rio Grande do Sul equivale a aproximadamente R$ 11 bilhões por ano. A cada ano a atividade leiteira contribui com R$ 22 milhões por município onde há algum tipo de produção leiteira, o que equivale a R$ 1,84 milhões para cada um, a cada mês. Esse valor é relevante para a economia de uma parcela significativa dos municípios gaúchos.
FOCO NO FORTALECIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA
A Emater/RS-Ascar, tem a bovinocultura de leite como um de seus focos estratégicos de atuação e desenvolve ações de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) junto ao setor com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva leiteira, devido à sua importância econômica e social para o Estado. A produção de leite gera renda e emprego no meio rural, além de ser um setor relevante na geração de Produto Interno Bruto (PIB) e na segurança alimentar. A Instituição atua junto aos produtores, promovendo o acesso a políticas públicas, capacitação, assistência técnica continuada e orientações a respeito do manejo do rebanho, além da importância do controle sanitário.
Conforme os dados publicados no documento "Radiografia da Agropecuária Gaúcha", elaborado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), a produção de leite continua revestida de enorme importância socioeconômica para o Estado (8% do Valor Bruto da Produção) atrás da soja, arroz e frango. A renda do setor é responsável pela manutenção de mais de 30 mil famílias no campo, dinamizando a economia gaúcha. "Apesar de estudos da Emater apontarem uma redução de cerca de 60% no número de produtores de leite entre os anos de 2015 a 2023, observa-se um aumento nos seus investimentos, ampliando plantéis, qualificando sua estrutura de produção e investindo mais em tecnologias que possibilitam aumentos de produção e de produtividade", destaca o extensionista rural da Emater/RS-Ascar, Jaime Ries.
SAÚDE DO REBANHO E A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO DA PASTAGEM
O planejamento forrageiro dos pastos, como o cultivo antecipado de pastagens de inverno é um item fundamental para o bom desempenho da produção de leite gaúcha. Os rebanhos precisam estar bem alimentados para produzirem leite de boa qualidade e a suplementação alimentar é de grande importância, principalmente durante as estações com temperaturas mais frias, agregando energia e nutrientes necessários à saúde dos animais. Do contrário, pode ocorrer perda de peso, doenças e, consequentemente, a redução da produtividade do rebando. As principais espécies incluem aveia e azevém no inverno, e milheto ou capim-sudão no verão.
No Rio Grande do Sul, o sistema "a pasto com suplementação", no qual os animais permanecem livres com acesso à pastagem na maior parte do dia, é utilizado por 84% dos estabelecimentos produtores, principalmente em função da disponibilidade de pastagens anuais de inverno.
CLIMA FAVORÁVEL, GENÉTICA DE QUALIDADE E GESTÃO FAMILIAR
Além das condições climáticas favoráveis, a qualidade genética do rebanho, a possibilidade de cultivar forrageiras de inverno e verão de ótima qualidade e a mão de obra familiar, conferem grande potencial de desenvolvimento à bovinocultura de leite no Rio Grande do Sul. Para o extensionista da Emater/RS-Ascar, Leandro Ebert, o Rio Grande do Sul possui uma característica climática única, facilitando a produção de forragens para o gado o ano todo, inclusive uma terceira safra, resultado de um trabalho desenvolvido em parceria com a Embrapa Trigo, produzindo silagem outonal.
"O assessoramento permanente, o acesso às políticas públicas, como por exemplo, o Programa Terra Forte, lançado recentemente pelo Governo do Estado, que vai beneficiar também produtores de municípios da Bacia Leiteira, entre outros, formam um conjunto de iniciativas que fomentam o interesse das famílias que hoje têm a atividade leiteira como carro-chefe, a buscarem, cada vez mais, qualificação e informação técnica, para aplicar em sua propriedade, resultando em mais produtividade e geração de renda, que circula e permanece no município, contribuindo para a manutenção das famílias no campo", completa Ebert.
Em Júlio de Castilhos, na Região Central, o produtor Gilson Mazzarro e sua família trabalham há mais de três décadas com bovinocultura de leite. Ele relata ser uma atividade que requer muita dedicação e cuidado no trato com os animais e com o pasto para assegurar a qualidade do rebanho e do produto, que é comercializado junto à Cooperativa Agropecuária Júlio de Castilhos (Cotrijuc) e à Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL). "É uma atividade intensa, porém uma boa opção para as pequenas propriedades. A Emater sempre está presente trazendo orientações técnicas e conhecimento. Já implantamos rede de água e sala de ordenha, tudo com projetos da Emater, além do incentivo para o desenvolvimento de cultivares para silagem e pastagens, e maneiras de manejar os piquetes. A Emater está sempre nos apoiando na melhoria das atividades e da rentabilidade da propriedade também", conclui Gilson. (Emater)
Na oportunidade também foi anunciada a instalação de um hub de inovação do leite
Na tarde desta quinta-feira, a Embrapa Clima Temperado inaugurou dois laboratórios de pesquisa sobre a qualidade do leite. Os espaços estão instalados na Estação Experimental Terras Baixas, em Capão do Leão. A cerimônia contou com a presença da presidente da Embrapa Sílvia Maria Fonseca, Silveira Massruhá e outras autoridades do setor. O investimento total foi de R$ 10 milhões. Os dois espaços são ligados ao Sistema de Pesquisa e Desenvolvimento em Pecuária Leiteira (Sispel).
A qualificação dos espaços foi realizada com uma parceria do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Rio Grande do Sul (LFDA/RS), a partir de recursos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) captados via projeto Leite Seguro.
O primeiro laboratório inaugurado foi o de Pesquisa e Análises em Cromatografia Avançada (LabCromato). Após uma visita ao local, todos foram para o Laboratório de Campo do Leite (LabCampo). Os espaços fortalecem e agregam valor científico e tecnológico ao sistema de pesquisa e desenvolvimento da pecuária leiteira (Sispel), que completa 30 anos em 2026 e representa uma das estruturas mais avançadas do país para a pesquisa pública voltada à cadeia produtiva do leite, sendo considerado um centro de excelência regional
Após a inauguração do segundo espaço, ocorreu a assinatura de uma parceria que institui o hub do leite e de um protocolo de intenções com o objetivo de reunir esforços para promover ações de qualificação da atividade leiteira na região noroeste do Estado.
O chefe geral da Embrapa Clima Temperado Waldyr Stumpf Júnior explicou que os espaços fazem parte do sistema de pecuária de leite da Embrapa. "A cromatografia vai nos permitir qualificar as análises do leite no produto não só na composição, contaminantes e resíduos, que possam estar presentes. É uma qualificação do que está sendo realizado, e outras análises que têm impacto direto junto aos produtores e junto às indústrias", explica.
Já o laboratório de campo irá permitir fazer análises mais qualificadas da nutrição, de reprodução, de manejo animal, com os animais da raça jersey que a Embrapa possui. "Somos a única unidade do país que trabalha com esta raça e o laboratório de campo nos permitirá fazer trabalhos mais sensíveis, que vai ser complementado pelo de qualidade de leite", destaca. As estruturas devem qualificar os resultados e as soluções tecnológicas. "Os resultados e as soluções tecnológicas que vão chegar para os agricultores, vários produtores de leite, pequenos, médio e grande e para a indústria", completa.
Na oportunidade também foram celebradas duas assinaturas de uma de um termo de intenção junto ao Ministério de Agricultura e a instalação de um Hub de inovação do leite. "É um espaço físico que temos os animais, os galpões e formamos várias parcerias públicas privadas. O hub foi lançado e também tem o objetivo de ter o apoio de universidades e outras instituições que fazem parte deste grande arranjo, as cooperativas, laticínios, todos os segmentos do setor público e privado que trabalham com leite", destaca.
Ele destaca que as estruturas são as mais qualificadas do sul do país. O chefe afirma que após as pesquisas, quando ocorrerem soluções devem ser levadas pela Emater ao produtor para que ele possa adotar.
Para Sílvia, a inauguração dos laboratórios vai muito além da ciência e da pesquisa. 'Hoje para analisar a agropecuária nacional nos baseamos em ciência e por isto investir em laboratórios que têm infraestrutura, pessoas e recursos financeiros é importante", opina. Para ela, os dois espaços inaugurados são exemplos disso, o que fortalece a pesquisa de pecuária de leite. "Também é importante que neste ambiente, a ideia maior de um hub de inovação que envolve todo o ecossistema. Os resultados da pesquisa devem chegar ao produtor rural que é o nosso principal cliente e que também chegue ao consumidor final com maior qualidade", observa.
Ela destaca que além da infraestrutura,os espaços foram pensados como um ambiente para a qualificação de pessoas, tanto pesquisadores, a parceria com as universidades e institutos federais, como produtores rurais. "Queremos que possam aumentar sua produtividade e infraestrutura fortalecendo o apoio de políticas públicas, principalmente na cadeia do leite", conclui. (Correio do Povo)
Setor leiteiro mundial: começa a desaceleração sazonal
Produção global de leite cresce, puxada pela América do Sul e UE. Apesar de margens altas, oferta segue fraca e pressiona preços. Sazonalidade desafia o setor.
A produção de leite nos principais países exportadores vem crescendo desde agosto de 2024. O aumento é especialmente acentuado na América do Sul, onde há sinais de recuperação após anos difíceis, marcados por condições climáticas adversas e dificuldades econômicas, particularmente na Argentina.
Em nível mundial, o mês de abril de 2025 registrou o aumento de tendência mais significativo: +1,7% em comparação com o mesmo mês de 2024. Esse crescimento foi impulsionado pela recuperação das entregas na União Europeia, que, pela primeira vez em 2025, apresentou uma variação positiva, de +1,1%.
Desaceleração da produção
Globalmente, entramos na fase sazonal de desaceleração da produção, que tende a continuar até julho. A tendência geral é uma combinação das diferentes sazonalidades que caracterizam os países ao redor do mundo:
Na Europa e nos países do hemisfério norte, o pico de produção da primavera acaba de ser superado, iniciando-se uma queda progressiva até o final do ano.
Austrália e Nova Zelândia, principais exportadores do hemisfério sul, encontram-se no período sazonal de menor produção, que começou em maio e continuará até agosto.
A sazonalidade é diferente na Argentina e no Uruguai, onde a produção aumenta durante esse período.
Será fundamental monitorar as tendências de produção para antecipar possíveis cenários futuros para o mercado de leite e derivados.
Comentário de Roberto Brazzale, presidente da Brazzale SpA:
“Estamos vivendo uma fase em que as margens para os produtores estão em seus níveis mais altos — com exceção da China — portanto, uma situação que deveria ser favorável ao aumento da oferta e que, ao contrário, luta para acompanhar uma demanda global sustentada.
Na Europa, os preços não parecem ter sido afetados pela significativa desvalorização de outras moedas, como o dólar americano e o yuan. No entanto, o fato de todos esperarem um forte aumento de preços na segunda metade do ano e agirem conforme essa expectativa pode, paradoxalmente, tornar mais difícil que essa perspectiva se concretize.
No mundo, a produção de leite na origem continua, em geral, muito fraca, o que explica as constantes pressões atuais sobre os preços — que podem se agravar ainda mais em caso de fenômenos climáticos, mesmo que regionais, ou de aumentos repentinos da demanda internacional.”
Gráfico 1. Produção média diária de leite nos Principais Países Exportadores
Países Considerados: UE, EUA, Nova Zelândia, Austrália, Argentina, Bielorrússia, Chile, Uruguai
Elaboração CLAL
As informações são do Observatório da Cadeia Láctea Argentina (OCLA).
Jogo Rápido
Associados do Sindilat/RS têm 10% de desconto no Fórum MilkPoint Mercado e no Interleite Brasil 2025
Os associados do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat/RS) têm 10% de desconto garantido para aquisição de ingressos nos dois principais eventos da cadeia leiteira brasileira: o Fórum MilkPoint Mercado e o Interleite Brasil 2025, que acontecem em Goiânia (GO) nos dias 19, 20 e 21 de agosto. O Fórum MilkPoint Mercado, com o tema “Transformações e Novas Oportunidades no Leite Brasileiro”, será realizado no dia 19 de agosto, em formato híbrido (presencial e on-line). O evento reunirá os principais agentes do setor para debater as mudanças no ambiente de negócios e as perspectivas para o mercado lácteo nacional, diante de um cenário marcado pela acirrada concorrência entre indústrias e pressão sobre as margens de comercialização. Serão 17 palestrantes ao longo do dia, com certificado emitido pela MilkPoint e material disponível para download. Já o Interleite Brasil 2025, que ocorre nos dias 20 e 21 de agosto, será exclusivamente presencial. Com o tema “Como fazer mais produtores participarem do futuro do leite no Brasil?”, o evento tem como objetivo discutir formas de integrar tecnologia, gestão eficiente e produtividade na atividade leiteira. A programação trará reflexões sobre como otimizar o uso do tempo, implementar ferramentas digitais e tornar a produção mais rentável.Conforme o secretário-executivo do Sindilat/RS, Darlan Palharini, a participação contribui para a qualificação dos profissionais e para o fortalecimento da cadeia produtiva. “Esses eventos possibilitam a discussão de questões estratégicas para o desenvolvimento e a modernização da cadeia leiteira, aproximando os diversos segmentos do setor na busca por alternativas e caminhos em comum”, destacou. Os ingressos estão disponíveis em lotes limitados e podem ser adquiridos com desconto exclusivo de 10% para associados do Sindilat/RS através do site da entidade. (Sindilat/RS)