Porto Alegre, 02 de junho de 2025 Ano 19 - N° 4.404
Desistir não é opção: a história da pecuarista que superou desafios pessoais e crises no setor para se manter na pecuária leiteira no Rio Grande do Sul
A trajetória da pecuarista Rosane Sabiel, do interior do Rio Grande do Sul, representa a história da pecuária leiteira brasileira, que é marcada por persistência, superação e uma rotina onde o recomeço virou regra. Enquanto o setor enfrenta uma sequência de desafios — da concorrência com o leite importado do Mercosul, os altos custos de produção, efeitos da pandemia e, mais recentemente, as enchentes no Estado —, Rosane também precisou lutar com diversos obstáculos pessoais para seguir na atividade.
Na propriedade familiar Granja Santo Antônio, localizada no município de Carlos Barbosa, Rosane cresceu envolvida na produção de hortaliças, atividade que garante o sustento da família através da comercialização no CEASA da capital gaúcha. Paralelamente, a família possuía uma pequena criação de gado leiteiro, com o objetivo de atender às necessidades do consumo familiar.
A produtora relembra que foi na infância, observando a dedicação da avó ao rebanho de vacas holandesas, que a paixão pela pecuária de leite começou a florescer. Apesar da pouca idade, Rosane já possuía uma visão clara sobre a importância da qualificação e da adoção de novas tecnologias para impulsionar a produtividade e o crescimento do rebanho.
“Quem sempre cuidou do rebanho foi minha avó paterna. Com ela, eu aprendi a cuidar e amar dos animais. Quando eu tinha 12 anos, a minha avó machucou o joelho e não conseguiu mais fazer os tratos e nem a ordenha. Então, eu comecei a trabalhar mais intensivamente. E naquela época, era tudo ordenha manual”, comentou ao Notícias Agrícolas.
Aos 14 anos, Rosane começou a investir em sua formação na bovinocultura leiteira através de cursos práticos ministrados por técnicos da cooperativa do município. "Aprendi inseminação artificial, manejo do rebanho, nutrição e também como lidar com os animais quando adoeciam", explica.
Conforme a análise da Coordenadora de Leite e Derivados do Sebrae/RS, Aline Balbinoto, a atividade leiteira historicamente desempenhou um papel coadjuvante nas economias das propriedades, sendo os rendimentos destinados à quitação de obrigações financeiras básicas, como as despesas de supermercado. "Tradicionalmente, a pecuária leiteira era gerida pelas mulheres e seus lucros eram voltados para as necessidades alimentares da família", aponta.
A Coordenadora destaca as diversas mudanças pelas quais o setor tem passado nos últimos anos, marcadas pela transição de gerações, em que os filhos estão buscando investir em qualificação e tecnologia para impulsionar a rentabilidade na atividade.
“No Sebrae, notamos uma preferência dos proprietários das fazendas para que seus sucessores se qualifiquem por meio de cursos e apliquem o conhecimento adquirido na gestão da propriedade”, informou.
O Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) observa que alguns fatores têm motivado a saída dos produtores da atividade, porém a melhora na rentabilidade nos últimos dois anos tem incentivado alguns produtores a continuarem. Segundo a entidade, esse cenário tem sido decisivo para atrair e manter jovens no campo, estimulando o processo de sucessão familiar.
“É a rentabilidade que motiva o produtor a permanecer na atividade, especialmente os mais jovens”, avalia Darlan Palharini, secretário executivo do Sindilat. Ele destaca que, diante de um ambiente mais favorável, tem crescido o número de filhos que optam por seguir ao lado dos pais na produção, dando continuidade ao negócio familiar.
Para o sindicato, esse movimento é essencial para evitar o abandono da pecuária leiteira e garantir o andamento do setor a longo prazo. “Quando há planejamento e participação ativa da nova geração, vemos a sucessão acontecer de forma mais estruturada, o que fortalece toda a cadeia produtiva”, conclui Palharini.
Para Rosane, os primeiros desafios na atividade começaram ainda criança, na qual sempre foi marcado por seus esforços em convencer a família sobre a importância de investir no setor. No entanto, o pai não dava a devida atenção para a produção de leite, o que sempre deixou Rosane chateada.
“Ainda criança meu pai tentou vender o lote de bovinos de leite três vezes, só que a minha mãe interferiu a meu favor, pois eu sempre caia aos prantos toda vez que tentavam vendê-las”, relatou.
Quando ela tinha 19 anos, o pai então comprou uma ordenhadeira “balde ao pé” e, naquela época, a produção estava em torno de 120 litros a 130 litros/dia. A atividade permaneceu de forma secundária ainda por um bom tempo, já que Rosane cresceu, se casou e teve dois filhos e continuava ajudando a família na produção de hortaliças.
"Assim como eu sempre gostei do trabalho com a pecuária leiteira, meu pai sempre amou cuidar da horta para vender no CEASA e ele segue se dedicando na atividade com muita convicção e amor”, relatou.
Assim como na propriedade da família, a atividade leiteira teve que ficar em segundo plano na vida pessoal de Rosane, que passou por uma separação no relacionamento e foi diagnoticada com câncer e depressão, assim precisou se afastar de todo o trabalho agrícola.
“Durante o período que eu estive doente, eu precisei vender meu veículo para custear o meu tratamento de saúde já que o plano se recusou a pagar meu tratamento. Naquele momento, a minha vida estava acima de tudo e quando estivesse recuperada tinha certeza que iria recomeçar novamente”, disse Saibel.
Assim que se recuperou do tratamento de saúde, Rosane decidiu buscar oportunidade de trabalho fora do campo já que não podia ficar exposta ao sol e ter contato com os produtos químicos. Foi então que começou a realizar fretes e ganhar dinheiro como caminhoneira. “Foi um período muito complicado, pois exigia que eu ficasse longe dos meus filhos e muito tempo na estrada, pricipalmente de madrugada”, comentou.
Rosane recordou o início de sua trajetória, quando auxiliava a avó no manejo do rebanho, então decidiu fazer uma proposta para o seu pai e disse que iria ter sucesso com a produção de leite. Depois de muitas conversas e negociações, o pai aceitou que ela continuasse investindo na pecuária leiteira, mas com a contrapartida de cobrança de uma porcentagem do uso da estrutura e maquinários da propriedade.
Assim, em janeiro de 2019, tomando como um grande desafio pessoal, Rosane passou a manejar sozinha do rebanho de vacas de leite mesmo com poucos recursos financeiros e tendo 17 animais no plantel (10 vacas em lactação e 7 terneiras). Com orientação do técnico da cooperativa, começou a reformulação das dietas e passou a trabalhar exclusivamente com a produção de leite.
“No início, a propriedade comprava os insumos para a alimentação animal e depois investimos na produção de feno de pré-secado, silagem de milho e feno de azevém”, disse.
Determinada em tornar a atividade mais eficiente e produtiva, a produtora começou a investir na atividade com recursos próprios e à medida que juntava o dinheiro com o trabalho. Dentre os investimentos realizados está a ampliação do confinamento, compra de animais, investiu em uma nova ordenhadeira, plataforma basculante, grade aradora, uma semeadora adubadora com acoplamento, pulverizador com comando hidráulico, segadeira para cortar pasto, ancinho, rolo compactador, espalhador de esterco com acionamento hidráulico de 4000L e dois tratores para as operações.
“Os investimentos são necessários para se manter na atividade, mas eu costumo falar que eu invisto conforme a perna aguenta. Eu não faço nada que vai me prejudicar e comprometer o meu trabalho”, comentou.
Rosane decidiu buscar financiamento bancário apenas uma vez para adquirir dois tratores, mas que precisavam ser da cor rosa, pois além de ser um sonho pessoal a cor era uma demonstração de toda a força, empenho e dedicação das mulheres rurais, que apesar das diversidades não desistem da atividade.
“Era o meu sonho e não iria desistir disso tão fácil, eu fiz um financiamento junto ao banco e já quitei há dois anos com todo o meu empenho no trabalho”, completou. Com os investimentos realizados nos últimos quatros anos, a produção leiteira passou de 120 a 130 litros/dia para uma produção diária de 500 a 600 litros/dia. (As informações são do Notícias Agrícolas, editadas pelo Sindilat)
CEPEA: preço do leite volta a recuar
Em abril, o preço do leite ao produtor caiu 3,3%, chegando a R$ 2,7415/litro, segundo o Cepea. Apesar da queda, o valor segue 5,7% acima do registrado há um ano, em termos reais.
Pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostra que o preço do leite captado em abril caiu 3,3%, chegando a R$ 2,7415/litro na “Média Brasil”. Ainda assim, o valor é 5,7% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, em termos reais (deflacionado pelo IPCA de abril).
Gráfico 1. Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de abril/2025)
Os preços do leite ao produtor caíram em um momento atípico, mas essa queda se explica pela redução da demanda por lácteos no mercado final. De acordo com analistas do MilkPoint Mercado, os preços ainda elevados nas gôndolas dos supermercados e o menor otimismo para o consumo geral da população têm refletido em um consumo mais retraído, impactando negativamente no volume consumido de lácteos.
Além disso, a oferta de leite no campo se manteve firme, mesmo com a chegada da entressafra. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) subiu quase 3% entre março e abril, um aumento maior do que o normal para essa época. Isso se deve ao clima favorável, à boa qualidade da silagem e às margens melhores da atividade.
Com a oferta mais estável, o consumo em baixa e a queda na rentabilidade das indústrias, o mercado espera que os preços ao produtor sigam caindo no terceiro trimestre. (Milkpoint)
Leite/América do Sul
Com a chegada do inverno a produção de leite sul-americana fica estável
A produção de leite na América do Sul encontra-se estável nos principais países produtores com a proximidade do inverno. O clima mais ameno do que o esperado contribuiu positivamente para a produção leite durante o outono. Outrossim, alguns observadores indicam que a produção de leite nas fazendas, em 2025, está inferior em comparação com a produção de 2024. Os relatórios indicam que os custos da alimentação animal estão acessíveis. A demanda dos compradores da região é forte. Os negociantes da América do Sul relatam compras intensas recentemente e os preços sobem continuamente, já que os compradores buscam assegurar mercadorias da Argentina e do Uruguai. A demanda brasileira continua forte.
Fonte: Relatório USDA:
https://www.ams.usda.gov/marketnews/individual-dairy-market-news-commodityreports#International
Tradução livre: www.terraviva.com.br
Jogo Rápido
LIVE/MAPA: Registro de Estabelecimentos no SIF: tudo o que você precisa saber!
No dia 4 de junho, às 9h30, será realizada uma live sobre o registro de estabelecimentos no SIF (Serviço de Inspeção Federal), transmitida pelo Canal da Enagro no YouTube. O evento, promovido pelo DIPOA/SDA/MAPA, apresentará as funcionalidades do sistema dentro da Plataforma SDA Digital e contará com uma sessão interativa de perguntas e respostas. A iniciativa é voltada a profissionais do setor agropecuário e demais interessados nos serviços oferecidos pela Secretaria de Defesa Agropecuária. A live é uma oportunidade para esclarecer dúvidas e conhecer melhor os processos relacionados ao SIF. Não perca! Clique aqui e assista. (Sindilat com informações do MAPA).