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10/05/2018

 
 
 

Porto Alegre, 10 de maio de 2018                                              Ano 12 - N° 2.732

 

Interleite Sul 2018: "o leite está cheio de bons problemas. E por que? Porque temos soluções
"O setor leiteiro é o que passa pela maior transformação no agronegócio brasileiro e essa é a proposta de discussão do Interleite Sul 2018". Foi assim que Marcelo Pereira de Carvalho, CEO da AgriPoint, iniciou a abertura do evento nesta quarta-feira (09), em Chapecó/SC, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes. O evento ocorre até hoje (10) e se destaca pelos temas dos painéis e palestrantes de renome. 

A mesa de abertura contou com Airton Spies, Secretário de Estado de Agricultura e Pesca de Santa Catarina; Luciano José Buligon, Prefeito de Chapecó; Valdir Crestani, Secretário de Desenvolvimento Rural na Prefeitura de Chapecó; Ronei Volpi, Presidente da Aliança Sul Láctea; Ricardo Lunardi, Presidente do Sindicato Rural de Chapecó; Enori Barbieri, Vice-presidente da FAESC; Amilkar Gassen, Gerente da LacLélo e José Baldoino, Gerente da Política Leiteira da Piracanjuba. Segundo Spies, o Interleite Sul é um 'nivelamento para cima' de tudo o que precisa ser discutido sobre o leite no Sul do país. "Sempre enxerguei no Brasil um enorme potencial e fizemos grandes avanços nos últimos anos, porém, não podemos esquecer do dever de casa. Mesmo caminhando a passos largos, é necessário transformarmos o leite em uma das estrelas do agro.  Para continuar crescendo neste ritmo, precisamos preparar a nossa matéria-prima para a exportação e esse é um dos principais objetivos da Aliança Sul Láctea. Tenho certeza que todos sairão do Interleite Sul inspirados, pois nossa atividade ainda incorporará novas tecnologias e no final, criaremos mais empregos, geraremos mais renda e assim, mais qualidade de vida. O leite está cheio de bons problemas. E por que isso? Porque temos soluções".

Para José Baldoino, a região sulista é fundamental para o leite no país. "Tanto é que a Piracanjuba elegeu o Sul como a principal região para os seus investimentos nos últimos sete anos. Isso contribuiu para o nosso crescimento, tanto que na APAS Show 2018, que também está ocorrendo nesta semana, a Piracanjuba lançará 18 novos produtos. Nós esperamos contribuir com o setor ao longo dos anos", completou.

O primeiro painel do evento, moderado por Valter Galan, sócio do MilkPoint Inteligência, abordou o tema "Mercado e Organização da Cadeia do Leite". Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, apontou que de 1974 até 2016, a produção leiteira brasileira cresceu 374% e que alguns fatores contribuíram com isso, como a expansão da população no Brasil - que sustenta o consumo - e o constante lançamento de novos produtos no mercado. "Além disso e não mesmo importante, temos uma área agriculturável gigantesca e precisamos aprender a usá-la de maneira mais racional. Também, temos condições de trabalhar com pastejo, diferente de vários países do mundo, e nossas produção de grãos é bastante competitiva. Vale ressaltar que busca pela gestão e todo o seu aprimoramento devem ser constantes e eternos, não esquecendo da escala de produção. Esses dois fatores impactam consideravelmente na eficiência do negócio".

Na sequência, Craig Bell, Diretor da Leitíssimo (Fazenda Leite Verde, na Bahia) e da Delicari, abordou as "As oportunidades que o Brasil tem para ser competitivo e não aproveita como deveria". "Os produtores de leite no Brasil precisam parar de colocar a culpa dos problemas nas importações de leite, pois esse não é o caminho. Em alguns casos, ela acontece porque não temos a qualidade necessária para a elaboração de alguns produtos. O problema de verdade que nos atrapalha é a falta de produtividade, que não nos permite competir no ponto baixo do ciclo".

Craig reforça que é essencial uma agenda positiva e com relação à qualidade, já passou da hora de evoluirmos. "Nossos níveis de CCS (Contagem de Células Somáticas) ainda não são compatíveis com os do mercado internacional. Também, fica complicado fabricar um bom produto nessas condições. Precisamos dar um basta em quem trata a produção de leite como amadorismo. A mensagem final que deixo é: o jogo precisa de regras claras que sejam respeitadas, por todos, e as instituições deveriam focar as suas pesquisas em produtividade". Marcelo Martins, Diretor Executivo da Viva Lácteos, salientou em sua palestra que atualmente é muito importante gerarmos demanda no mercado consumidor, melhorar o saldo da balança comercial e ampliar o consumo no mercado interno. "Tivemos algumas dificuldades para avançar com as exportações em 2017 e tínhamos uma dependência da Venezuela, que reduziu as compras e era a principal compradora. Porém, estamos buscando outros caminhos, o que é essencial se realmente queremos ser grandes exportadores de lácteos".

Ele comentou que hoje há uma grande demanda por manteiga, mas, que infelizmente o produto nacional não vem atendendo nem mesmo a população interna. "O queijo - um produto de valor agregado - tem sido o nosso principal item de evolução nas exportações. Ainda não resolve o nosso trabalho, visto que precisamos expandir significativamente, mas seguiremos em frente e apresentando os derivados lácteos brasileiros em eventos e feira no mundo todo. Há países que nem sabem que somos o 4º maior produtor do mundo e concluímos que é imprescindível a melhoria da imagem do nosso setor. Destaco que a eliminação da brucelose e tuberculose deve ser perseguida se estamos querendo ser conhecidos no mundo".
Marcelo finalizou a sua apresentação pontuando que a chave é melhoria da nossa competitividade e, para continuar crescendo em produção de leite, precisamos exportar mais ou aumentar significativamente o consumo. "O ideal seria que essas duas coisas andassem juntas. Não é ideal continuarmos expandindo a produção se não temos como escoar isso, até porque, para os produtores, o preço recebido também é bastante afetado quando há excesso de oferta".

O quarto palestrante do painel, Ronei Volpi, Presidente da Aliança Sul Láctea (ALSB), explanou que o objetivo da entidade é ser um fórum público-privado permanente para buscar o desenvolvimento harmônico do setor lácteo dos três estados do Sul por meio da implementação de políticas e iniciativas conjuntas. "Criamos ALSB porque os três estados de assemelham na produção, têm entraves e oportunidades comuns, relevância sócio econômica; agricultura familiar/empresarial, 170 mil produtores envolvidos na atividade e a maior produtividade nacional, de 2.950 kg/vaca/ano". Volpi apresentou ao público presente a evolução da produção na região e a meta única da Aliança, que é: tornar a região Sul do Brasil exportadora de produtos lácteos.

"Para alcançar isso, é fundamental um maior envolvimento da indústria e mitigação da capacidade ociosa, harmonização de protocolos sanitários, convergência nas políticas de tributação, eficiência logística de escoamento, incremento na qualidade do leite (IN 62) e organização da produção. Sempre queremos o melhor preço, mas para isso, a única saída é sermos competitivos".

Finalizando a primeira bateria de palestras, Marcelo Pereira de Carvalho, CEO da AgriPoint, questionou e instigou os participantes com a seguinte questão: É possível termos uma relação melhor coordenada entre produtores e indústria? De acordo com Marcelo, historicamente a relação entre a indústria e produtor é conflituosa devido à desconfiança mútua, falta de transparência/fidelização e o foco no curto prazo. "Há exceções e a relação está mudando, porém, os problemas são os mesmos. Os contratos por exemplo ainda são raros. Historicamente, também temos baixo incentivo da indústria para desenvolver os produtores ("leite é tudo igual"), o que resulta em uma baixa razão para a fidelização. Em resumo, os próprios fundamentos de mercado empurraram o setor para um relacionamento mais oportunista do que cooperativo e, nesse cenário, em que há baixa colaboração entre as partes, a variável que realmente importa é o preço recebido, a cada mês. Há uma dificuldade natural de se quantificar os benefícios de serviços, segurança, entre outros e o preço recebido". Segundo ele, cabe ao elo forte mudar a relação e, normalmente, os fatores externos catalisam as mudanças. "Podemos citar aqui a regulamentação (que não é o nosso caso), um concorrente que passa a fazer diferente (e dá certo) e as pressões do consumidor, pois a maneira pela qual o leite é produzido (e por quem) será cada vez mais relevante. Assim, as demandas do consumidor representam uma externalidade. Precisamos de uma maior transparência e reduzir a assimetria das informações de mercado, minimizando as situações que geram conflito. Também, posso citar clubes de compra de insumos, serviços de apoio ao produtor e os contratos de fornecimento com critérios claros". Finalizando, Carvalho ponderou que a indústria ganha mais quando o produtor também ganha (e vice-versa), fato que minimiza o conflito criado e reduz a distância entre os elos. "É uma jornada longa, mas precisamos começar". (MilkPoint)

 
 
Euromonitor: ainda há espaço para produtos lácteos 'sofisticados' na América Latina

A América Latina consome grandes quantidades de produtos lácteos artesanais não embalados, mas as marcas podem inovar e sofisticar o consumo para captar novos negócios e o sucesso do queijo, que é um bom ponto de inspiração, segundo a Euromonitor International. Em 2017, o mercado de lácteos da América Latina gerou US$ 63,6 bilhões em receitas - pouco menos de 15% de todo o mercado mundial de lácteos de US$ 430 bilhões, segundo dados da Euromonitor International. E, embora o desempenho do Brasil tenha sido baixo, com a queda do consumo de leite e iogurte, Argentina, México, Chile e Peru registraram crescimento positivo nas vendas.

Escrevendo no recente relatório da Euromonitor International chamado Dairy in Latin America, Leonardo Freitas, analista de pesquisa sênior, disse que embora produtos lácteos como leite, iogurte, queijo e pastas tenham sido amplamente consumidos na América Latina, o consumo per capita em termos de valor permaneceu mais baixo do que em mercados desenvolvidos e os formatos de consumo eram muito diferentes. "Enquanto os consumidores locais gastam menos da metade do que os consumidores norte-americanos e europeus na categoria gastam, grande parte do consumo ainda vem de produtos artesanais não embalados", escreveu Freitas.
Isso, disse ele, deixou muitas oportunidades para os fabricantes de lácteos "sofisticarem o consumo de lácteos da América Latina", e o queijo era uma categoria com a qual os fabricantes poderiam aprender, dado seu contínuo sucesso. Em 2017, o queijo foi o produto lácteo que mais cresceu em toda a América Latina, apresentando crescimento em todos os mercados, de acordo com dados da Euromonitor International.

"Com forte produção local e anos de experiência, os fabricantes de queijo conseguiram alavancar suas vendas para consumidores com maior poder de compra, além de diversificar categorias e produzir tipos de queijos internacionalmente conhecidos, como brie e parmesão, à medida que seus certificados de origem estão protegidos", escreveu Freitas.

Valor em dinheiro versus dietas balanceadas
No entanto, ele disse que para garantir o crescimento do mercado de lácteos diversificado e altamente fragmentado da América Latina, é vital entender os fatores que impulsionam as compras e as tendências em evolução. O valor dos produtos em dinheiro, por exemplo, foi um fator-chave na maior parte da região, devido à alta disparidade de renda e a uma grande lacuna social, além de movimentos inflacionários, disse ele. Nos próximos anos, porém, à medida que os estilos de vida se tornaram mais agitados nas grandes cidades e os consumidores seguiram dietas mais equilibradas, Freitas disse que poderia haver espaço para desenvolver categorias como alternativas ao leite, bebidas à base de soja, leite desnatado e queijo sem lactose.

Onde a situação econômica de médio prazo deveria ser mais estável, ele disse que uma "maior sofisticação" no consumo é esperada. Isso, segundo ele, proporcionou uma premissa ainda maior para os fabricantes investirem em novas linhas de produtos, como novos sabores de iogurte, embalagens elaboradas e novos tipos de queijos. O Brasil, por exemplo, viu uma mudança na demanda de lácteos com os consumidores cada vez mais interessados na funcionalidade dos produtos graças a mais informações sobre produtos alternativos. Como resultado, ele afirmou que os produtos livres de lactose devem se tornar "mais relevantes" no mercado e que continuará a haver uma mudança do leite em pó para o leite fresco/UHT, impulsionando o desenvolvimento de valor na categoria. Freitas disse que o Brasil é o mercado de lácteos ao qual deve-se ficar de olho na América Latina porque é o maior - gerando 37% das receitas totais de produtos lácteos na região.

"O Brasil é sempre um membro fundamental e seu desempenho continuará a influenciar o mercado global de lácteos na América Latina", escreveu ele. E embora o mercado de lácteos tenha sofrido nos últimos anos como resultado de questões cambiais e uma queda no poder de compra entre os estratos socioeconômicos mais baixos, o mercado ainda tinha "potencial de crescimento".

Mais importante ainda, ele disse que o Brasil tinha um dos maiores rebanhos do mundo, o que daria ao país uma "base positiva" para o mercado de lácteos a ser desenvolvido. As previsões da Euromonitor International sugerem que o Brasil deve ter um forte crescimento anual até 2022, ao lado da Argentina e do Equador. (As informações são do Dairy Reporter, traduzidas pela Equipe MilkPoint)

 

Cotações/NZ - Demanda desencadeia aumento do preço do leite em pó desnatado
Os preços do leite em pó integral (WMP) ficaram mais brandos no último GDT, levando o preço médio a cair 1,5%, para US$ 3.231/tonelada, enquanto o índice geral de preços caiu 1,1%, diz a analista Emma Higgins. Isso coincide com o anúncio da revisão feita pela Fonterra sobre a produção desta temporada, que saiu de -3% e foi para -2%. Embora as cotações das commodities na Nova Zelândia tendam a cair à medida que o foco se volta para a produção do hemisfério norte, o final da primavera mantém a demanda por leite em pó desnatado (SMP), diz Higgins.O SMP subiu 3,6% no último leilão da Fonterra e o produto está sendo vendido com melhores preços na Nova Zelândia do que o similar europeu. Nathan Penny, do banco ASB, diz que a queda do preço do WMP contrariou as expectativas. Contudo o movimento agudo de desvalorização do dólar kiwi mais que compensou a queda. Desde o último leilão, o dólar neozelandês caiu 4,5% diante do dólar norte-americano. O efeito final é que os preços globais do leilão subiram 3% em termos de dólar da Nova Zelândia, e é o que efetivamente importa para os produtores de leite. O último relatório da Fonterra diz que as exportações de lácteos da Nova Zelândia, em fevereiro, aumentaram 4% (11.000 toneladas) em relação ao mesmo mês do ano passado. O crescimento foi novamente impulsionado pelo WMP, pelos fluidos e produtos lácteos frescos, um aumento combinado de 12% (16.000 toneladas) no mês, compensando ligeiramente as quedas nas vendas de queijo, lactose e manteiga anidra. As exportações nos 12 meses encerrados em fevereiro ficaram estáveis em comparação com o período anterior. As exportações de produtos lácteos líquidos e frescos e WMP, juntos, totalizaram 117.000 toneladas (+7%). Este desempenho foi anulado parcialmente pela queda na maioria das outras categorias. (Rural News - Tradução livre: www.terraviva.com.br)

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