Porto Alegre, 23 de agosto de 2017 Ano 11- N° 2.569
Após pressões contra os incentivos dados pelo governo à importação de lácteos vindos do Mercosul, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, sinalizou positivamente a retirada do leite da pauta do livre comércio durante entrevista. O assunto foi debatido durante reunião de associados do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat), na manhã dessa quarta-feira (23/8), na sede do sindicato, em Porto Alegre. A afirmação de Maggi simboliza uma vitória do setor lácteo, que enfrenta desafios com a instabilidade econômica do país e passa por baixas no preço do litro do leite pago aos produtores rurais. Segundo o presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, a medida demonstra que o governo deve olhar com preocupação para os lácteos. "Assim, o setor começa a ter voz ativa", pontuou Guerra.
Segundo dados levantados pelo Sindilat, o Uruguai produziu 1,7 bilhão de litros de leite em 2016 e consumiu 700 milhões de litros. Conforme informações divulgadas pelo próprio país, o saldo, se convertido em pó, renderia 120 mil toneladas. Só o Brasil recebeu 100 mil toneladas de leite em pó e 18 mil toneladas em queijos do país vizinho, o que representa praticamente todo o volume restante. "Não poderíamos deixar de cobrar uma posição do governo agora", afirmou Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindicato, sobre a necessidade de tomar ações para averiguar a possível triangulação de leite no país vizinho.
Na ocasião, esteve presente o presidente da Emater, Clair Kuhn, que conversou com os associados sobre a possível criação de um grupo de trabalho para prestação de serviço extra de assistência técnica aos produtores ligados às indústrias e cooperativas associadas ao sindicato. (Assessoria de Imprensa Sindilat)
Crédito: Vitorya Paulo
Setor espera solução do Estado para importação de lácteos
Lideranças do setor lácteo gaúcho estão confiantes de que uma solução para pôr fim ao incentivo dado pelo governo do Rio Grande do Sul à importação de leite do Mercosul deva sair ainda esta semana. Reunidos nesta terça-feira (22/08) à tarde com o governador em exercício, José Paulo Cairoli, representantes do Sindilat, Apil, Fetag, Farsul, Ocergs e Famurs receberam a sinalização de que o pedido de revogação dos decretos que concedem diferimento de ICMS para as operações de importação será avaliado ainda esta semana. A expectativa é de um anúncio positivo no sábado (26/08), quando começa a 40ª Expointer e o ministro Blairo Maggi estará no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
Segundo o presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, o setor pediu que o decreto 53184/2016, que expira no final de agosto, não seja prorrogado, e que o de número 53059/2016 seja terminantemente revogado. A ideia é ajudar o setor produtivo do leite a retomar seu crescimento, uma vez que produtores e indústrias operam com margens mínimas em função da concorrência desleal com os importados.
De acordo com o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, uma solução se faz necessária principalmente no momento em que o setor vai a Brasília pedir um freio às importações por suspeita de triangulação do Uruguai. "Não podemos cobrar uma posição mais rígida do governo federal quando o próprio estado concede isonomia tributária ao leite importado".
A reunião ainda contou com a presença dos secretários de Estado Ernani Polo, Tarcísio Minetto e Fábio Branco. (Assessoria de Imprensa Sindilat)
Maggi quer retirar o leite do acordo do Mercosul para frear importações
Entrada no país de produtos lácteos provenientes dos países vizinhos tem afetado preços internos e causado prejuízo aos produtores brasileiros O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, vai propor à representação brasileira no Mercosul a exclusão do leite do acordo de livre comércio no bloco. De perfil pouco protecionista, Maggi está convencido de que apenas essa medida mais drástica pode conter as volumosas exportações de lácteos, principalmente do Uruguai, para o Brasil. A entrada descontrolada desses produtos tem provocado forte impacto nos preços internos e prejudicado os produtores nacionais. Desde junho, a queda foi de 30%. "Não há, com as remunerações, com os preços que estão aí colocados, a possibilidade de o produtor continuar produzindo. Nós temos que nos preocupar é com uma desestruturação dessa cadeia. Dentro de uma negociação do Mercosul, não tem como o Ministério da Agricultura fazer com que isso pare, é um acordo muito maior. Mas eu vou propor ao governo que a gente tenha atitudes mais sérias com isso, inclusive de retirar o leite do acordo do Mercosul.
Como nós não temos o açúcar, por que não podemos ter leite também, que é uma das grandes demandas dos pequenos produtores no Brasil? Digo com toda tranquilidade, eu já aderi a essa ideia. Não acho fácil politicamente de conseguir, mas o governo brasileiro tem que saber que a situação no campo não é nada boa e que os produtores precisam de uma ajuda por parte do governo para não quebrar todo mundo", afirmou Maggi. A decisão foi tomada após diversas reuniões com lideranças do setor de leite do país. Na semana passada, Maggi recebeu representantes de cooperativas de leite de Minas Gerais. Nesta terça-feira, dia 22, o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, expôs as dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores gaúchos. No mesmo dia, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) entregaram um documento técnico com as preocupações do setor lácteo brasileiro em relação ao impacto que as importações, principalmente de leite em pó do Uruguai, trazem ao mercado interno.
Acordo privado
Além dos preços em queda no Brasil, uma reação do setor privado da Argentina também pressionou os produtores de leite brasileiros a cobrarem medidas do governo. Existe um acordo para limitação das importações de lácteos argentinos em 54 mil toneladas por ano. Como não há a mesma imposição, o Uruguai tem exportado quantidades muito maiores. "Os argentinos ameaçaram romper o acordo caso a limitação seja apenas pra eles", afirmou uma fonte a par das discussões. A posição do ministro Blairo Maggi surpreendeu positivamente o setor A posição do ministro Blairo Maggi surpreendeu positivamente o setor leiteiro. "Só conseguimos o acordo com a Argentina porque sentiram que o governo estava pressionando.
Eles aceitaram, acharam mais estável e previsível exportar 54 mil toneladas por ano. Com o Uruguai, nunca teve isso, não teve jogo duro com eles, por isso exportam quanto quiserem", disse a fonte. Apenas em julho deste ano, as exportações de lácteos do Uruguai para o Brasil somaram 9 mil toneladas, mas o pico das negociações já chegou a 15 mil toneladas em um mês. A limitação para a Argentina é de 4.500 toneladas por mês. Blairo Magg vai tratar, em encontro, em São Paulo, na próxima semana, com o ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Tabaré Aguerre, da preocupação de produtores de leite com as importações do produto uruguaio. O ministro brasileiro deverá propor um acordo de cota, a exemplo do que já está em vigor com a Argentina.
Triangulação
O ministro também afirmou que a chamada triangulação na importação de leite não ocorre. Ao assumir o Ministério da Agricultura, ele solicitou um estudo à Câmara de Comércio Exterior (Camex), que negou a ocorrência do processo que consiste na entrada de lácteos de outros países, como a Nova Zelândia, pelo Uruguai. Assista a entrevista. (Canal Rural)
Indústria de leite longa vida enfrenta margens negativas
As indústrias de leite longa vida do país estão trabalhando com margem negativa entre R$ 0,25 e R$ 0,50 por litro na comercialização do produto, conforme consulta realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV) com empresas associadas. No Estado de São Paulo, o litro de leite longa vida vendido pela indústria para as varejistas neste mês de agosto está sendo negociado em R$ 1,90 a R$ 1,95, em média, de acordo com Laércio Barbosa, presidente da ABLV. Esse é o menor valor para um mês de agosto desde 2014, considerando tanto preços nominais quanto deflacionados.
A fraca demanda no varejo, reflexo da crise no país, pressiona os valores do leite comercializado pela indústria. Além disso, o aumento da produção de leite no Brasil - em grande parte em consequência dos preços mais baixos dos grãos para alimentação do rebanho leiteiro - também influencia o mercado. A ABLV tem 30 associadas, que respondem por 90% do mercado de leite UHT no Brasil. Depois de dois anos de queda na produção brasileira de leite, entre janeiro e julho deste ano, a captação pelas indústrias subiu 1,8% em relação a igual período de 2016, segundo o Índice Scot de Captação de Leite. Só no mês de julho, a alta foi de 4,9% na comparação com o mesmo mês de 2016. "A situação da indústria está muito difícil. Achamos que é o fundo do poço e deve haver uma reação a partir de agora", afirma Barbosa, que é diretor da Usina de Laticínios Jussara. Para calcular as margens, a indústria considera os preços de venda ao varejo e os custos do leite cru, da embalagem, insumos, embalagens, mão de obra, impostos e fretes. Por esse cálculo, o custo de um litro de leite longa vida para a indústria está entre R$ 2,20 e R$ 2,40 o litro atualmente. Embora admita que a volatilidade no segmento é normal, Barbosa chama a atenção para o tamanho do prejuízo registrado atualmente. Ele avalia que a recuperação deve ocorrer em breve porque o preço da matéria-prima se estabilizou no mercado spot (negociação entre empresas) na segunda quinzena de agosto. "O pico da safra de leite do Sul já foi e as importações [de lácteos] perderam força depois do primeiro semestre", observa. Além disso, segundo Barbosa, promoções de preços realizadas por grandes varejistas do país estimularam uma melhora no consumo nos últimos dias. E ajudaram a reduzir os estoques de produto nas indústrias. "O consumo deve melhorar.
Os preços caíram muito", argumenta. Dados da MilkPoint com base em levantamentos do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e da Fipe indicam que o preço do leite longa vida no atacado na semana encerrada em 18 de agosto ficou em R$ 1,93 em média, em São Paulo. Na média das três primeiras semanas do mês, ficou em R$ 1,96 por litro, quase 30% abaixo dos R$ 2,78 de agosto de 2016. Para Valter Galan, analista do MilkPoint, esse cenário não deve mudar rapidamente. "A demanda não está avançando", afirma. Afora isso, há no momento, mais oferta de leite para processamento do que havia em igual momento de 2016. E a perspectiva é de que essa oferta continue a crescer com o avanço da safra de leite em Minas Gerais e Goiás. Ele vê possibilidade de mudança, contudo, se os preços mais baixos do leite no varejo estimularem o consumo. Segundo dados da Fipe compilados pela MilkPoint, em julho passado o leite longa vida no varejo ficou em R$ 2,93 por litro, 28% abaixo dos R$ 4,09 de um ano antes, em valores deflacionados. (Valor Econômico)
Entidades ligadas à produção de leite estiveram reunidas ontem com o governador em exercício, José Paulo Cairoli. Foram pedir que o governo revogue dois decretos que concedem diferimento de ICMS para operações de importação. A avaliação deve ser feita nesta semana e anúncio positivo poderá sair na Expointer.(Zero Hora)