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10/09/2018

 

Porto Alegre, 10 de setembro de 2018                                              Ano 12 - N° 2.817

Perspectivas sobre preço do leite é tema de debate na Feaagri Missões

As causas e alternativas para amenizar a instabilidade no preço do leite foram tema de discussão no Seminário sobre o Leite, na manhã desta quinta-feira (06/09), na Feira da Agroindústria e Agricultura Familiar das Missões (Feaagri Missões). Durante o evento, o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, sugeriu aos produtores que busquem aumentar a produtividade das vacas, reduzindo custos o máximo possível. "Nós aconselhamos que o produtor busque fazer com que os animais produzam no mínimo de 25 a 30 litros de leite por dia. Assim, esperamos que ele consiga ter margem pequena, mas terá resultado pelo volume o garantirá a sua manutenção e outros investimentos", ressalta.

Palharini ainda afirmou que o preço do leite está mais estável em 2018 do que em 2017, mas que ainda apresenta declínio. "Ano passado, a variação do custo do leite foi muito grande. Este ano, a queda de produção ocorreu devido à greve dos caminhoneiros, o que fez equilibrar a oferta e procura do leite, e à alta do dólar, o que dificulta as importações, tornando a produção interna mais competitiva. Esperamos que 2019 seja menos turbulento", destaca. Na ocasião, o assistente técnico da Emater-RS Jaime Eduardo Ries também ressaltou a importância de incentivos à produção na busca por maior estabilidade.

O evento foi realizado no Centro de Eventos Iglenho Araújo Burtet, em Santo Ângelo, e reuniu cerca de cem participantes, entre profissionais técnicos, produtores e acadêmicos. A Feaagri Missões é promovida pela Associação dos Produtores da Agroindústria Familiar e Sindicato dos Trabalhadores Rurais com apoio da Prefeitura. (Assessoria de Imprensa Sindilat)  

 

RUMOS

A Instrução Normativa 62, que compõe o regramento e os procedimentos para qualidade do leite, desde a propriedade rural até a indústria, vem sendo um desafio para toda a cadeia láctea. Os indicadores de qualidade, como contagem bacteriana total e contagem de células somáticas, vêm evoluindo timidamente desde a sua implantação em2011. Agora, estamos diante de duas portarias governamentais(38 e 39), que estabelecem regulamentos técnicos, critérios e procedimentos, todas voltadas à melhoria da qualidade da matéria-prima leite(especialmente a 39). Uma comissão de técnicos do Ministério da Agricultura elaborou proposta de instrução normativa que foi submetida à consulta pública, inclusive com reuniões no Rio Grande do Sul. A medida está em fase de negociação e de finalização, e entrará em vigor 180 dias a partir da data da publicação. É possível que isso aconteça no apagar das luzes de 2018. A partir da vigência, teremos um novo patamar de exigências para a cadeia do leite, e o setor passará a ter critérios mínimos de qualidade para exportação, assim como já fizeram os produtores de aves e suínos. 

Alguns dos pontos relacionados à propriedade rural são a redução da temperatura do leite de 7°C para 4°C na coleta do leite, contagem bacteriana total de no máximo 300 mil unidades formadoras de colônia por mililitro (média geométrica no trimestre), contagem padrão em placas de no máximo de 500 mil unidades formadoras de colônia/ml (média geométrica no trimestre), sanidade e o estabelecimento de boas práticas agropecuárias. No laticínio, a temperatura no recebimento do leite reduzirá de 10 °C para 7°C, a contagem padrão em placas nos silos deverá ficar em até900 mil unidades formadoras de colônia/ml, imediatamente antes do seu processamento no estabelecimento. Também deverá ser adotado um plano de qualificação de fornecedores, entre outras determinações. As principais lideranças da cadeia são a favor das portarias, mas salientam que, para determinadas exigências, deve haver uma fase de preparação.

 Claro que tudo isso é um desafio coletivo. Vai desde o produtor, logística, recebimento, industrialização, distribuição e chega no consumidor. Se não tiver qualidade, não terá novos mercados, não agregará valor e aí não tem preço. O foco de todos esses aperfeiçoamentos tem de ser o consumidor. Afinal, há muito espaço para melhorar. EVERTON CARBON - Engenheiro Agrônomo, do time de qualidade da Cooperativa Piá (Zero Hora) 

 

Lactalis prepara novo ciclo de investimentos

A francesa Lactalis se prepara para um novo ciclo de investimentos na produção no Brasil, onde é segunda em processamento de leite. O Rio Grande do Sul, estado em que a companhia global tem a sua maior base de captação com 10 mil produtores e de fabricação de derivados, estará no plano, afirma o diretor-presidente da Lactalis do Brasil, André Salles. 

O montante dos aportes, que devem ser implementados em 2019, ainda não foi fechado. A cifra no Estado deve repetir o nível dos R$ 100 milhões anunciados no fim de 2016, pelo presidente mundial da Lactalis, Daniel Jaouen, em Paris. E deve ter planta gaúcha com capacidade duplicada devido à grande demanda em queijos. Hoje as fábricas de Ijuí e Três de Maio produzem prato e muçarela. 

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o CEO, que assumiu o posto há um ano, com passagens anteriores pela Kirin e Vonpar, comenta quanto a demanda por produtos vem surpreendendo a gigante francesa, chegando ao ponto de não dar conta dos pedidos. Outro tema que ganha espaço na atuação da gigante de lácteos no Brasil é a premiunização do consumo de queijo, com porções e preços mais acessíveis dos tipos finos. 

Jornal do Comércio - Como está a operação e o desempenho em 2018? 
André Salles - Mesmo com a crise econômica e a greve dos caminhoneiros, que parou nossas 14 fábricas por 10 dias - tivemos de jogar leite fora -, vamos crescer este ano um dígito. Também estamos superfelizes com os resultados obtidos com os investimentos desde 2016 e com a receptividade da garrafa pet de leite (UHT), inaugurada em fevereiro em Teutônia. Temos até que limitar a oferta porque não conseguimos expandir para atender todo o mercado. Outra estratégia acertada foi produzir a receita da manteiga francesa da marca Président, com preço mais acessível, e a venda explodiu! Recentemente, lançamos seis novos queijos especiais da marca feitos no Brasil e porções de peso fixo, que também são um sucesso. Com isso, mais uma vez batemos nos limites de capacidade. Os queijos finos são produzidos em Minas Gerais. Conseguimos nestes segmentos trazer todo a expertise francesa de fabricação de lácteos, além de encontrar soluções para tornar o produto acessível. Sempre acreditamos no potencial de premiunização da categoria de queijos. O consumo no Brasil hoje é básico (muçarela e prato) e com volume de cinco quilos per capita ao ano. Mas o queijo ainda é um ingrediente, usado na pizza, no pão etc. Da mesma forma que ocorreu com a cerveja e o café, que tiveram um movimento de diversificação para ampliar as alternativas e experiências sensoriais ao consumidor, agora é o momento do queijo passar por essa mudança.

JC - Qual é a faixa de renda que se mira? 
Salles - É a classe C. À medida que se apresenta o produto com fração menor, com peso fixo e com preço acessível, tem todo um segmento da população que começa a consumir. Duas razões que fazem as pessoas não comprarem (queijos finos) é o preço mais caro e desconhecimento. O que fizemos foi encontrar uma fração com preço fixo adequado para ser a porta de entrada a esses consumidores. Cabe a nós oferecer essas opções para que a população conheça a diversidade entre estes tipos, entre um mais moderado e mais forte, por exemplo.

JC - O que é a premiunização?
 Salles - É criar condições para o consumidor acessar o produto premium. Foi o que ocorreu com as cervejas, com a oferta de mais variedades, além da pilsen, que domina 96% do volume e se abriu espaço para desenvolver cervejas artesanais etc. Com o queijo, busca-se o mesmo. Com quatro elementos - leite, sal, fermento e coalho -, faz-se milhares de tipos diferentes do produto. Por que não abrir este universo para o consumidor? 

JC - Como está sendo ajustada a capacidade produtiva com essa demanda em alta? 
Salles - A Lactalis desde que entrou no Brasil tem investido mais de R$ 100 milhões desde 2016. Agora vamos ter um novo ciclo de investimentos, que deve ser bastante direcionado para aumentar a capacidade de produção de queijos, de maturação, fatiamento e fracionamento para suportar essa grande avenida de crescimento que visualizamos na categoria. 

JC - O que já tem definido em investimentos? 
Salles - Estamos ainda concluindo as análises e vamos anunciar logo que finalizarmos os planos, que deve ser até dezembro. Fomos bastante surpreendidos pela demanda, desde o lançamento dos queijos especiais há um mês e meio, cuja demanda cresce mais em São Paulo e Rio de Janeiro.

JC - A demanda maior antecipa a definição sobre investimentos? 
Salles - Os investimentos serão na indústria para aumentar a eficiência e capacidade de produção e no campo, para melhorar a qualidade e produtividade dos produtores dentro do Lactaleite, que é o programa que já é desenvolvido com as propriedades. Diante da reação positiva aos novos produtos, estamos reavaliando para investir ainda mais e potencializar o crescimento da Lactalis no Brasil para 2019. A tendência é manter o nível de aportes de R$ 100 milhões ao ano. Dependendo do tipo do queijo, precisa dobrar a capacidade de produção. No Rio Grande do Sul, as duas queijarias ficam em Ijuí e Três de Maio, que fazem o queijo prato e muçarela.

JC - Os planos incluem implantar novas unidades? 
Salles - Não, mas ampliação e aquisição de novos equipamentos para novas linhas para ampliar a capacidade em Ijuí, Três de Maio e Santa Rosa, onde produzimos requeijão.  

JC - As unidade gaúchas já atingiram a capacidade instalada?  
Salles - Já operam próximas à capacidade existente. É preciso ampliar as estruturas e trazer novas linhas. 

JC - O Rio Grande do Sul poderá ampliar os tipos de produtos que fabrica, como ter queijos finos? 
Salles - No curto prazo, não, pois há toda uma instalação voltada a esses segmentos em Minas Gerais. O volume também de muçarela é muito maior que os demais. As fábricas de altíssima eficiência e grandes volumes estão todas aqui no Sul.  

JC - Qual é o impacto da nova tabela do frete para a operação?  
Salles - Devido às margens apertadas do setor, o aumento do frete pode inviabilizar alguns negócios. Isso precisa ser repensado com muito cuidado, pois é um absurdo o impacto que a implementação da tabela pode gerar. Temos analisado alternativas. Devemos avançar na ideia de adotar algo semelhante ao clube do produtor, que confere benefícios na compra de insumos para a produção, para os transportadores, principalmente aqueles de primeiro percurso (transporte do leite da propriedade), que são autônomos. Seria um clube do transportador. A ideia é buscar formas de reduzir custos e ganhar mais escala na compra de pneus, lubrificantes e combustíveis. Já temos isso na França. Estamos começando a aplicar em caráter experimental.

JC - Os planos incluem a compra de novas unidades?
Salles - A prioridade é concluir a aquisição da Itambé, que ainda depende da discussão na câmara arbitral, mas já teve a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). (Jornal do Comércio)

Pressão de Custos com Nova Tabela 
A tabela de frete publicada na última quarta-feira pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) recebeu críticas do setor produtivo. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou em nota que o reajuste "prejudica ainda mais o crescimento da economia e agrava as incertezas já existentes". A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também criticou o aumento de preços. A entidade identificou altas de 3,15% a 6,82% para o frete de cargas geral, granel e frigorificada. O Sindicato da Indústria e Laticínios do RS (Sindilat) encaminhou para avaliação jurídica a tabela e alerta que há pontos não-regulamentados, como o frete com controle sanitário. Outro segmento que relata estar acumulando prejuízos com o tabelamento é o de grãos. Vicente Barbiero, presidente da Associação das Empresas Cerealistas do RS, diz que o mercado futuro de soja está totalmente travado: - Os custos das lavouras estão sendo feitos com dólar acima de R$ 4. Corremos o risco de, quando vender, estar com dólar na casa de R$ 3,50. Fica difícil saber quanto pagar ao produtor se não sei qual margem terei - pontua Barbiero. (Zero Hora)

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