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11/09/2017

Porto Alegre, 11 de setembro  de 2017                                              Ano 11- N° 2.581

 

Compra emergencial de leite é prioridade do setor lácteo no País

Sem o avanço nos pleitos para barrar a entrada de leite em pó uruguaio no Brasil, produtores e indústrias do setor lácteo vão se centrar e unir suas forças em torno da compra governamental. A medida emergencial é considerada fundamental para aliviar o setor, e a pressão concentrada terá início nesta terça-feira, em um encontro entre representantes do setor e de diferentes ministérios, todos em torno da mesa que deverá ser capitaneada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. O setor está em crise mais acentuada desde o início do ano devido, em boa parte, ao produto que entra do Uruguai, sem limites de cotas. O baixo preço do leite uruguaio está sorvendo o lucro e dominando uma parcela considerável do mercado nacional. De acordo com a Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), nos últimos dois anos, 19 mil pessoas já deixaram a produção no Estado. 

A justicativa é o preço, que, desde o início do ano, caiu cerca de R$ 0,30 por litro, colocando no ralo cerca de R$ 100 milhões mensais que deveriam ir para o bolso do produtor. O cálculo é do presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat), Alexandre Guerra. De acordo com o executivo, outros R$ 200 milhões deixam de ser faturados pela indústria gaúcha a cada mês, e vai piorar se o governo não zer nada, diz o executivo. "Isso tudo é dinheiro que deixa de girar na economia local. A indústria pode começar a fechar portas em 2018. Como a questão com o Uruguai não avança, o governo precisa fazer uma compra emergencial, para ontem, para equilibrar o mercado, ou terá problemas para abastecer o mercado interno logo, logo", alerta Guerra. No encontro com Padilha, agendando pelo deputado federal Covatti Filho (PP-RS), também participarão representantes do setor e deputados do Paraná e de Santa Catarina. 

A ideia é convencer o governo federal a comprar 50 mil toneladas de leite em pó e 400 milhões de litros UHT para escolas e projetos sociais, por exemplo, o que daria vazão aos estoques. "É por isso que estará lá, também, um representante do Ministério do Desenvolvimento Social, por exemplo. Agora, estamos entrando em uma fase de urgência, e a prioridade é garantir essa aquisição, e por um valor acima do que o governo tem como base, R$ 11,80 o quilo do leite em pó, isso mal cobre o custo. Precisamos de no mínimo R$ 14,30 para o produto em pó e R$ 2,20 para o uído", alerta o presidente do Sindilat. 

 
Ainda que o foco mais urgente seja a compra governamental, o grupo também buscará uma solução para a questão internacional, por meio do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Covatti Filho ressalta que, em breve, vencerá o acordo de cotas estabelecido para ingresso de leite em pó argentino no Brasil, agravando um cenário inundado pelo leite uruguaio. "Os argentinos já sinalizam que querem a mesma liberdade uruguaia para vender para cá. Antes que tenha de abrir mercado aos dois e quebrar indústria e produtor, é melhor que o governo dê um jeito de limitar a importação do Uruguai", defende Covatti Filho. Para o presidente da Fetag, que também ressalta a necessidade de compras governamentais urgentes, outra ação que pode ser adotada pela União é segurar licenças de importações, emergencialmente. "Assim estancará um pouco essa entrada. Se continuar entrando o que ingressou nos últimos meses, mais produtores vão seguir parando com a produção", diz Silva. De acordo com o presidente da Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Estado (Apil), Wlademir Dall'Bosco, falando sobre o tema durante a Expointer, entre 10 mil e 15 mil produtores gaúchos ainda devem deixar a atividade leiteira em dois anos se não houver solução para o caso neste ano. 

 

O QUE ESTÁ OCORRENDO COM O SEGMENTO
Assim com o Rio Grande do Sul, o Uruguai é um grande produtor de leite, mas, ao contrário
do Estado, também é um importante player mundial. O Uruguai tem boa parte do seu foco produtivo e industrial nas exportações. E sofreu dois revezes nesse segmento nos últimos anos, no mercado europeu e no mercado venezuelano. Em 2012, com pouco leite em pó nos estoques mundiais e o preço valorizado, o produto tornou-se ainda mais relevante para as exportações uruguaias, com foco nos países europeus e na Venezuela, por exemplo. O alimento em pó tem como grande vantagem o fácil transporte em relação ao leite fluído, o que estimula as exportações.

Em 2015, porém, a Europa extinguiu as cotas que fixavam patamares de produção para os seus produtores. A produção local aumentou, e o produto uruguaio perdeu espaço. O mesmo ocorreu com outro importante parceiro do país, mas por outro motivo. A crise econômica e política na Venezuela se agravou, a demanda caiu, e muitas empresas deram calote e não pagaram as indústrias uruguaias, e quem pagou reduziu encomendas.

Sem receber dos venezuelanos, a indústria uruguaia também parou de mandar o produto, que se avolumava em estoques já crescentes pela redução das exportações à Europa. O produto, especialmente a partir de 2016, começou a ser redirecionado ao Brasil. O Uruguai produziu 1,7 bilhão de litros de leite em 2016 e consumiu 700 milhões de litros. Segundo dados divulgados pelo próprio país, o saldo, se convertido em pó, renderia 120 mil toneladas. Só o Brasil recebeu 100 mil toneladas de leite em pó naquele ano.

Ao contrário da Argentina, que tem acordo que limita a certo volume de ingresso as exportações ao Brasil, o Uruguai não tem acordo. E, pela regras do Mercosul, não se pode impor cotas para negócios dentro de países do grupo sem um acordo.

O problema é que a balança comercial uruguaia já é deficitária em relação ao Brasil e, para negociar cotas, o Uruguai diz que ficará ainda mais desequilibrado na balança e deixará de comprar outros itens do Brasil, como eletrodomésticos e carros brasileiros, e o governo teria de também aceitar limitações uruguaias aos produtos brasileiros. (Jornal do Comércio) 

 
 A SAÍDA É ELEVAR A PRODUTIVIDADE
ANDRÉ SALLES, CEO DA LACTALIS NO BRASIL

Com passagens por Vonpar e Brasil Kirin, o carioca André Salles acaba de assumir como CEO da Lactalis no Brasil. A partir de agora à frente da maior indústria de laticínios do Estado e uma das líderes nacionais, respondeu a uma série de questionamentos de Zero Hora sobre a política da empresa em relação aos produtores, atenção à qualidade da matéria-prima e estratégia comercial. Uma das metas é aumentar em 30% a produtividade dos criadores. Francesa, a Lactalis chegou ao Estado em 2014, com a aquisição de ativos da LBR e da BRF. No horizonte, o posto de maior companhia do setor no país. Leia abaixo as principais respostas de Salles.

Crise dos preços pagos ao produtor de leite
O mercado de leites no Brasil, pela ausência de regulação dos excessos da safra (existente em outros países), opera em ciclos de alta e baixa conforme a demanda. Entendemos que no próximo mês já deveremos ter uma estabilização da produção, com retomada de valor no mercado interno.

Como chegar ao equilíbrio
O Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor do Brasil, com cerca 4 bilhões de litros (ano). O consumo local é de apenas 40% desse volume. É preciso vender 60% dos volumes captados e produzidos localmente em outros Estados. Ocorre que existem outras regiões produtoras no Brasil com as mesmas oscilações em volume e necessidade de escoamento e, por vezes, os preços praticados na disputa de mercado são muito agressivos. A saída para estabilização é a melhoria da produtividade, para ter um produto final competitivo em outros Estados e, inclusive, países, com produtores bem remunerados.

"A saída para estabilização do mercado é a melhoria da produtividade, para ter um produto final competitivo em outros Estados e, inclusive, países, com produtores bem remunerados."

Perfil de produtor
Trabalhamos com 8 mil produtores no Rio Grande do Sul, de todos os perfis de volume possíveis, com leite de excelente qualidade. Cerca de 70% são produtores de até 300 litros diários. O desafio é ajudá-los a aumentar a produtividade. Para isso, criamos programa gratuito chamado Lactaleite, onde trabalhamos o aumento de 30% da produtividade média desses parceiros. Mais de 1 mil produtores no RS já aderiram, o que deve melhorar a competitividade do produto final e a rentabilidade do pecuarista.

Política de remuneração
Remuneramos por qualidade. Contabilizamos uma série de indicadores técnicos que permitem incentivar os produtores que entregam leite cru com características de pureza. Isso é indispensável para a qualidade da nossa matéria-prima e é muito importante na nossa visão de mercado.

"A Lactalis implantou uma série de análises com padrão europeu, de última geração, em suas plataformas de recebimento de leite, tão logo chegou ao Brasil.

Cuidado com fraudes
A Lactalis implantou uma série de análises com padrão europeu, de última geração, em suas plataformas de recebimento de leite, tão logo chegou ao Brasil. Passou a remunerar transportadores somente por quilômetro rodado, e não por volume transportado, o que é muito importante. Fixamos severos padrões de qualidade e manutenção nas carretas, auditadas periodicamente. Em alguns casos, inclusive, criamos rotas com caminhões próprios para demonstração do padrão exigido. Asseguramos que 100% do leite é rigorosamente analisado antes do seu recebimento nas unidades beneficiadoras. A triagem do leite nas plataformas, por meio de testes rigorosos, garante a industrialização de produtos com alto padrão de qualidade.

O que falta para o Brasil se tornar exportador de leite
Precisamos melhorar a competitividade, o que passa pelo aumento da produtividade no campo. Com assistência técnica, correta aplicação dos insumos e genética adequada é possível produzir com custos menores e ter um produtor melhor remunerado. Assim, teremos competitividade para exportar nossos produtos lácteos para outros países e regulamos o mercado interno. Temos uma ótima notícia: estamos em meio a um processo de exportação de queijos, bebidas lácteas e outros produtos lácteos produzidos no Rio Grande do Sul para Argentina e Uruguai. Isso é inédito e só será possível pela força das nossas marcas internacionais Président e Parmalat naqueles mercados. Nossa expectativa é de que esses volumes cresçam junto com a produtividade local para que possamos ajudar ainda mais na regulação do mercado gaúcho.

Importação de leite em pó pela empresa.
Isso não procede.

Marcas internacionais fabricadas no RS
O foco da empresa nesse momento é o desenvolvimento da Président, Elegê, Batavo e Parmalat. Com Président, estamos complementando nossa linha de queijos, possibilitando acesso ao consumidor a distintos tipos de queijo especiais, além de mussarela, prato, requeijão e queijos frescos.

Diferença de pagamento em relação ao mercado
O objetivo é pagar o preço do mercado. Se pagar mais, perdemos competitividade para vender os volumes que compramos de nossos produtores. Se pagamos menos, o produtor perde rentabilidade e corre o risco de ter que baixar a produção. Nosso objetivo não é ter uma política agressiva. Ao contrário. Queremos desenvolver a produção de nossos fornecedores reduzindo o custo por meio da assistência técnica, da disponibilização de insumos com preços competitivos, de excelente qualidade e com desconto na folha de pagamento através do nosso Clube do Produtor de Leite Lactalis. Nos orgulhamos de adquirir mais de 900 milhões de litros de leite apenas no RS, o que representa quase um quarto de todo o leite do Estado, e vendemos 80% desse volume, ou seja, cerca de 720 milhões de litros de leite, em produtos lácteos para outros Estados. Sabemos da nossa importância para o equilíbrio da produção local e, por isso, fizemos do Rio Grande do Sul nossa principal base "exportadora" de leite no país.

Aquisições, após tentativa de comprar a Vigor
A Lactalis não comenta rumores de mercado. Por outro lado, podemos assegurar que nossa visão é ser a maior empresa de lácteos no Brasil e, neste momento, nossa prioridade é consolidar nossas atividades atuais. (Zero Hora)

 

"EM UM MÊS, A INDUSTRIA PERDEU R$ 200 MILHÕES EM FATURAMENTO E, OS PRODUTORES R$ 100 MILHÕES" ALEXANDRE GUERRA PRESIDENTE SINDILAT" (Zero Hora)

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