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Indústria láctea gaúcha é ética e séria, afirma Guerra

22/06/2015

Depois de oito etapas da Operação Leite Compensado nos últimos dois anos, a semana passada marcou a chegada, também, dos derivados lácteos às fraudes descobertas na cadeia láctea gaúcha. O esquema de adulteração e sonegação fiscal na produção de queijos pela Laticínios Progresso, de Três de Maio, desmantelado na última terça-feira, 16, pelo Ministério Público (MP) e que se soma ao cenário de desconfiança dos consumidores com o segmento, também repercute mal, evidentemente, com os representantes do setor.

DUD 4233

Para o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat/RS), Alexandre Guerra, a indústria gaúcha segue princípios éticos, investe em tecnologia para barrar falhas e teria, hoje, um dos melhores índices de conformidade do País. “São fatos isolados e que devem ser tratados, também, de maneira isolada, sem generalizar”, argumenta o dirigente da entidade que responde, por meio das médias e grandes indústrias, a quase 90% da produção de laticínios do Estado.

Jornal do Comércio – Após uma série de problemas encontrados com o leite, tivemos, agora, a novidade da inclusão dos derivados nas operações do MP. Até que ponto preocupa o setor e repercute mal com o consumidor?

Alexandre Guerra – Repercute negativamente, não tem como dizer que não. Para nós, é prejudicial, é ruim, mas a expectativa que temos é de que o consumidor saiba reconhecer a indústria séria, que investe muito em sistemas de qualidade para que possa oferecer um produto diferenciado. Até porque, dito pelo próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), temos o leite mais monitorado e controlado e, consequentemente, um dos melhores leites do Brasil (o Estado tem índice de conformidade nas amostras de 97,4%, acima da média nacional). Nós, enquanto sindicato, somos defensores dessas ações, até porque isso, além de tudo, cria uma concorrência desleal com a indústria ética, séria e tradicional. Especula-se que vá interferir no consumo de queijos, mas esperamos que o consumidor possa separar e saber medir quem está nesse mercado com história, ética

JC – O que tem sido feito nesse sentido?

Guerra – A indústria investiu muito em setores de qualidade, em seus laboratórios, equipamentos, ampliou o número de testes, para que não ficasse refém de algum caso que pudesse vir via transporte, como era o cenário que existia. Nesse caso, do queijo, também nos surpreende esse fato. Só temos acesso àquilo que foi divulgado, e até nem tínhamos conhecimento sobre essa indústria, que não faz parte dos nossos associados. Estamos fazendo testes, com a Embrapa e uma cooperativa parceira, de medidores de vazão instalados nos tanques de coleta de leite. Eles dão a hora, o local e fazem a separação da amostra de forma automática, sem ter mais acesso do transportador, o que nos dá a rastreabilidade. Muitas empresas já determinaram também que só recolherão leite de quem tem resfriador de expansão direta, ou que só receberá leite de animais controlados de tuberculose e brucelose, por exemplo. A indústria tem se antecipado à lei e fortalecido cada vez mais a questão de controles e da própria remuneração aos produtores pela qualidade.

JC – A repetição de esquemas desmantelados pelo MP, sendo já nove etapas se somarmos a Leite Compensado e, agora, a Queijo Compensado, levanta desconfianças sobre todo o setor, e não mais apenas como casos pontuais?

Guerra – Eu, particularmente, não consigo aceitar isso, pois temos indústrias com profissionais éticos e sérios, que tem de ser valorizados. E a indústria vem fazendo investimentos muito grandes. Podemos falar pelas grandes e médias indústrias, nossas associadas, pois as pequenas não temos esse acesso ainda, mas a indústria gaúcha tem profissionais éticos e sérios. Não consigo aceitar que se pense, agora, que isso está intrínseco no setor. O princípio ético tem de estar acima de tudo, e a indústria está focada nisso, pois quem constrói a própria marca é a empresa. O Rio Grande do Sul é exemplo para diversos estados por tudo aquilo que faz na questão do leite. Nossa produtividade por vaca é maior, nossa conformidade é maior. É muito importante o trabalho que tem sido feito pelo MP, mas não se pode generalizar. Temos empresas tradicionais, multinacionais, todo o sistema cooperativo. Vendemos hoje 60% para outros estados e até países, porque temos essa qualidade.

JC – O que mais pode ser feito pela indústria gaúcha como contraponto a essa série de descobertas de fraudes na cadeia leiteira?

Guerra - A melhor coisa que podemos fazer é continuar produzindo de uma forma diferenciada, investindo sempre em qualidade, como já fazemos, e ofertando nossos produtos dentro dos padrões exigidos pela Instrução Normativa 62. Infelizmente, ocorrem fatos assim que, para nós, são altamente prejudiciais. Somos totalmente favoráveis a essas ações do MP, porque não queremos que haja empresas com essa postura. Não podemos aceitar que pessoas sem o princípio ético estejam no meio de um segmento com grande maioria séria, que constrói e valoriza sua marca. Temos fortalecido ainda mais os processos e procedimentos para não ficarmos reféns de nenhum tipo de problema, como acontecia até então, por exemplo, do transporte do leite.

JC – O consumidor gaúcho pode confiar que o leite é seguro?

Guerra – Todas as indústrias possuem diversos mecanismos de segurança e de qualidade. Pode existir falha, afinal é um produto vivo, mas nada que possa ser considerada ao lado de fraudes. Não tem por que fazer, a marca vale muito mais do que qualquer tipo de ação não ética. Existiu, por exemplo, no cenário dessa empresa, outros que acabaram comprando essa mercadoria, até sem nota fiscal em alguns casos. É um cenário totalmente errôneo, que concorre de forma desleal com as indústrias que representamos. Nós também não aceitamos isso, e continuamos apoiando que haja esse tipo de ação, até para proteger a nossa indústria, que tem trabalhado muito para não ter nenhum tipo de problema. Tudo o que fazemos é justamente valorizando qualidade de nossos produtos. Quem tem maior interesse em ter tudo nos padrões é a própria empresa.

“O princípio ético tem de estar acima de tudo, e a indústria está focada nisso, pois quem constrói a própria marca é a empresa. ”

 

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